Fuga da poupança: R$ 230 bilhões de saques em três anos

Baixa rentabilidade e dívidas elevadas impulsionam saques da poupança

A caderneta de poupança, tradicionalmente considerada um porto seguro para muitos brasileiros, enfrenta uma crise sem precedentes. Completando sete semestres consecutivos de saques superiores aos depósitos, a poupança registrou perdas de R$ 2,8 bilhões no primeiro semestre de 2024.

Desde janeiro de 2021, os saques acumulados totalizam R$ 229,3 bilhões, conforme dados divulgados pelo Banco Central.

Desempenho negativo da poupança

O primeiro semestre de 2024 viu aplicações de R$ 2,03 trilhões, enquanto as retiradas somaram R$ 2,04 trilhões, resultando em um déficit significativo. Nos últimos 42 meses, a caderneta de poupança registrou saldo positivo em apenas 12 ocasiões.

Um breve período de superávit entre abril e julho de 2021 conseguiu limitar as perdas daquele ano a R$ 35,5 bilhões. No entanto, os anos subsequentes registraram captações líquidas negativas de R$ 103,2 bilhões em 2022 e R$ 87,8 bilhões em 2023.

A liberação do Auxílio Emergencial durante a pandemia em 2020 foi um dos poucos momentos de alívio para a poupança. O benefício, destinado às famílias de baixa renda, foi majoritariamente depositado em contas-poupança, impulsionando temporariamente os depósitos.

Impacto da sazonalidade

Janeiro de 2023 marcou o pior mês da série histórica iniciada em 1995, com perdas de R$ 33,6 bilhões. Tradicionalmente, dezembro registra um aumento nos depósitos devido ao pagamento do 13º salário, que é frequentemente direcionado para contas-poupança.

No entanto, os gastos elevados de janeiro, como impostos, matrículas escolares e despesas de férias, resultam em saques expressivos.

Segundo Reinaldo Domingos, presidente da DSOP Educação Financeira, a sequência de resultados negativos resultou na queda de 2,3% do saldo final das cadernetas. O saldo, que permaneceu acima de R$ 1 trilhão entre setembro de 2020 e julho de 2022, voltou a superar essa marca em junho de 2024, alcançando R$ 1,011 trilhão. Ainda assim, esse valor está abaixo do recorde de R$ 1,035 trilhão registrado em dezembro de 2020.

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Baixa rentabilidade e conhecimento financeiro

A principal razão para a fuga da poupança é sua baixa rentabilidade. Desde dezembro de 2021, com a taxa básica de juros fixada acima de 8,5% ao ano, a poupança rende apenas 0,5% ao mês + TR (Taxa Referencial), resultando em um rendimento anual em torno de 7%. Esse retorno é inferior ao de outras opções de investimento que oferecem segurança similar e liquidez imediata.

Camilla Magrini, educadora financeira, observa que a crescente busca por informações financeiras tem contribuído para a redução dos depósitos na poupança. “As pessoas que buscam informação estão realmente fugindo da poupança”, destaca Magrini.

Investidores mais informados estão optando por alternativas que oferecem melhores retornos, o que leva a saques contínuos das cadernetas de poupança.

Perspectivas futuras

Apesar do cenário desfavorável, a poupança continua popular entre muitos brasileiros. Dados do último Raio-X do Investidor, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), indicam que a poupança ainda é a escolha preferida de muitos, principalmente devido à sua simplicidade e segurança percebida.

Contudo, para aqueles que buscam maximizar seus retornos, a diversificação dos investimentos e a busca por alternativas mais rentáveis parecem ser o caminho a seguir.

A continuidade da alta inadimplência e a necessidade de liquidez imediata sugerem que a tendência de saques na poupança deve persistir, ao menos enquanto a rentabilidade permanecer baixa em comparação com outras opções de investimento.

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