A economia brasileira está prestes a entrar em uma fase de desaceleração, com a previsão de que os estímulos fiscais, que impulsionaram o crescimento na primeira metade do ano, sejam reduzidos no segundo semestre de 2024. Essa estimativa, feita por analistas do Santander, aponta para um aperto fiscal equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), reduzindo em parte o forte impulso de 2% do PIB registrado no primeiro semestre.
A redução dos estímulos fiscais segue o limite de gastos estabelecido pelo arcabouço fiscal do governo que permite um aumento das despesas de até 2,5% acima da inflação. O governo busca evitar a ultrapassagem desse teto, o que resultará em menor gasto público para o restante do ano.
Impacto dos estímulos fiscais no crescimento
O primeiro semestre de 2024 foi marcado por um crescimento econômico superior às expectativas, sustentado por um pacote de estímulos fiscais. No entanto, a previsão do Santander indica que essa trajetória de crescimento será afetada pela diminuição dos impulsos fiscais. O relatório, assinado pelos economistas Ítalo Franca e Ana Júlia Carvalho, prevê uma desaceleração econômica, embora o mercado de trabalho aquecido e o aumento da renda ainda possam sustentar o consumo doméstico.
O último dado de desemprego no Brasil atingiu uma mínima histórica, o que contribui para a manutenção do consumo, mesmo em um cenário de aperto fiscal. Além disso, o aumento do salário mínimo e a expansão dos programas sociais, como o Bolsa Família, são fatores que continuam a injetar renda na economia e a estimular o setor de consumo, mesmo diante da previsão de uma desaceleração no ritmo de crescimento econômico.
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A alavanca fiscal e o cenário futuro
Os economistas do Santander explicam que o impulso fiscal é um indicador importante para avaliar se um país está utilizando suas políticas fiscais para aquecer ou esfriar a economia. Quando o governo reduz o déficit nas contas públicas ou transforma um superávit em déficit, está adotando medidas de estímulo fiscal, o que tende a acelerar a atividade econômica. Por outro lado, quando ocorre a reversão desse movimento, há um esforço de aperto fiscal, o que pode desacelerar a economia.
O maior impulso fiscal da década ocorreu em 2020, durante a pandemia de COVID-19, quando o governo brasileiro implementou uma série de medidas emergenciais para apoiar a população e as empresas, elevando o indicador de impulso fiscal a 7,2% do PIB. Já em 2021, com a retirada desses programas, o país enfrentou uma contração fiscal de 8,5% do PIB.
Em 2022, o país viveu um período próximo da neutralidade fiscal, sem grandes estímulos ou apertos significativos. No entanto, em 2023, o impulso fiscal voltou a ganhar força, chegando a 1,4% do PIB. Esse aumento foi impulsionado pela valorização do salário mínimo e pelo reforço nos programas sociais, como o Bolsa Família, no primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para 2024, o Santander prevê que o impulso fiscal cairá para 0,4%, indicando uma postura mais cautelosa em relação aos gastos públicos, mas ainda dentro do campo expansionista. A expectativa para 2025, no entanto, é de que o país entre em uma fase de contração fiscal, com o indicador passando para -1%. Esse cenário de aperto fiscal pode ser motivado pela percepção de risco fiscal no mercado, o que pressionaria o governo a conter a escalada das despesas.
Desafios para o governo
O principal desafio do governo será equilibrar a necessidade de ajuste fiscal com o compromisso de não comprometer o crescimento econômico e a geração de empregos. A pressão do mercado financeiro, que já começa a observar com cautela o risco fiscal do país, pode forçar o governo a adotar medidas mais restritivas em termos de gastos públicos.
Os analistas do Santander destacam que será crucial observar os próximos resultados do PIB para avaliar se a economia brasileira conseguirá manter-se resiliente diante da redução dos estímulos fiscais. Caso contrário, o país poderá enfrentar uma desaceleração mais acentuada no crescimento, afetando tanto a confiança dos investidores quanto o poder de compra das famílias.
Além disso, a inflação também será um fator a ser monitorado de perto, uma vez que o controle dos gastos públicos pode impactar diretamente na capacidade do governo de manter os preços sob controle. O desafio será fazer com que as medidas de aperto fiscal não resultem em uma contração exagerada da atividade econômica, o que poderia comprometer os ganhos recentes, como a redução do desemprego e o aumento do consumo.
Perspectivas para o segundo semestre
Com a perspectiva de menos estímulos fiscais no segundo semestre, o governo brasileiro deve focar em políticas que garantam um equilíbrio entre a austeridade fiscal e a manutenção de um ambiente econômico favorável ao crescimento. Apesar da desaceleração prevista, a continuidade do aquecimento do mercado de trabalho e o aumento da renda média podem ajudar a mitigar os impactos negativos da redução nos gastos públicos.
Os próximos meses serão determinantes para o futuro da política econômica brasileira. Com um cenário de contenção fiscal e incertezas no mercado financeiro, o governo precisará adotar uma estratégia cuidadosa para garantir a estabilidade econômica, sem comprometer os avanços sociais e econômicos conquistados nos últimos anos.