A União Europeia (UE) deu um passo significativo na regulação das importações de veículos elétricos (EVs) chineses, aprovando a imposição de tarifas de até 45% sobre esses produtos. A decisão, anunciada nesta sexta-feira, 4 de outubro de 2024, vem após um ano de investigações conduzidas pela Comissão Europeia, que concluiu que as montadoras chinesas têm se beneficiado de subsídios injustos, colocando a indústria automotiva europeia em desvantagem competitiva.
Essa medida reflete a crescente tensão comercial entre o bloco europeu e a China, enquanto a UE busca proteger seu mercado interno e promover uma concorrência mais equilibrada.
Tarifa de 45% aprovada por ampla maioria durante votação realizada por União Europeia
Em votação realizada pelos países membros da União Europeia, 10 nações, incluindo França, Itália e Polônia, votaram a favor das tarifas, cinco se opuseram, e 12 se abstiveram. Para bloquear a medida, seria necessária uma maioria qualificada de 15 países, representando 65% da população europeia, o que não ocorreu. A Alemanha, maior economia do bloco e uma grande produtora de automóveis, votou contra a proposta, destacando a divisão dentro da UE sobre a abordagem a ser adotada em relação à China.
Essa decisão faz parte de um esforço maior da UE para enfrentar o que considera práticas comerciais desleais por parte de Pequim. As autoridades europeias alegam que os subsídios governamentais chineses às montadoras de veículos elétricos têm distorcido o mercado, permitindo que empresas chinesas exportem veículos para a Europa a preços artificialmente baixos. Isso teria pressionado negativamente as montadoras europeias que já enfrentam desafios relacionados aos ambiciosos planos de redução de emissões de carbono do bloco.
Reações dentro da Europa e negociações com a China

A aprovação das tarifas não foi bem recebida por todos os setores da indústria automotiva europeia. O presidente-executivo da BMW, Oliver Zipse, chamou a medida de um “sinal fatal para a indústria automotiva europeia” e destacou a necessidade urgente de um acordo rápido entre a UE e a China para evitar uma guerra comercial. A Volkswagen também se manifestou contrária à proposta, afirmando que essa não seria a melhor abordagem para enfrentar os desafios da concorrência chinesa.
Em contraste, a Stellantis, uma das maiores montadoras da Europa, expressou apoio à concorrência justa, ressaltando que o setor automotivo já está sob pressão devido à necessidade de reduzir as emissões de carbono e à “ofensiva comercial global chinesa”.
Pequim, por sua vez, não respondeu imediatamente à solicitação de comentários da Reuters, mas já havia sinalizado anteriormente que a imposição dessas tarifas poderia agravar as tensões comerciais entre a China e a União Europeia. Nos últimos anos, a relação entre os dois blocos se deteriorou, com a Europa adotando uma postura mais dura em relação à China. Enquanto vê Pequim como uma parceira em algumas áreas, como o combate às mudanças climáticas, a União Europeia também enxerga o país como um rival sistêmico e concorrente direto em vários setores econômicos.
Como resposta, o governo chinês lançou suas próprias investigações sobre produtos da UE, incluindo conhaque, laticínios e carne suína, uma clara tentativa de retaliação às medidas europeias. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que tem mantido uma relação próxima com o governo chinês, chegou a declarar que a UE está caminhando para uma “guerra fria econômica” com a China.
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Impacto no mercado europeu de veículos elétricos
O impacto das tarifas sobre os veículos elétricos chineses será sentido em todo o mercado automotivo europeu, o qual já está passando por uma transformação significativa devido à transição para veículos mais sustentáveis e ao cumprimento das metas de neutralidade de carbono. A Comissão Europeia aponta que a capacidade de produção de veículos elétricos na China excede em cerca de três milhões de unidades por ano, o dobro da demanda no mercado europeu.
Com tarifas de 100% impostas pelos Estados Unidos e Canadá sobre os veículos elétricos chineses, a Europa se tornou o destino mais atraente para a exportação desses veículos. No entanto, as autoridades europeias estão dispostas a negociar com a China uma alternativa às tarifas, incluindo a possibilidade de um compromisso de preço, que estabeleceria um preço mínimo de importação e um limite de volume para as importações de veículos chineses.
Próximos passos
Apesar da aprovação das tarifas, a Comissão Europeia deixou claro que as negociações com a China continuarão. As autoridades de Bruxelas indicaram que estão abertas a discutir novas propostas vindas de Pequim, com o objetivo de encontrar uma solução diplomática que evite um conflito comercial mais amplo.
No entanto, a decisão de avançar com as tarifas envia uma mensagem clara de que a UE está disposta a proteger suas indústrias estratégicas, mesmo que isso signifique um endurecimento das relações com um dos seus maiores parceiros comerciais. A expectativa é de que as discussões entre os dois blocos continuem nos próximos meses, com possíveis revisões nas tarifas ou até mesmo um acordo comercial que possa atenuar os impactos econômicos para ambas as partes.
A imposição de tarifas de até 45% sobre veículos elétricos chineses marca um novo capítulo nas relações comerciais entre a União Europeia e a China. Com o apoio de países importantes como França e Itália, a medida visa proteger a indústria automotiva europeia de uma concorrência que é considerada desleal pelas autoridades europeias. No entanto, a divisão interna dentro da Europa e a perspectiva de uma escalada nas tensões comerciais com Pequim indicam que o caminho para a resolução deste conflito ainda está longe de ser claro.