Como surgiu o 13º salário e qual é a sua importância histórica?

O 13º salário, também conhecido como “gratificação natalina”, é um dos direitos trabalhistas mais conhecidos e celebrados pelos trabalhadores brasileiros. Instituído pela Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, durante o governo de João Goulart, esse benefício é fruto de décadas de lutas sindicais, greves, negociações e mobilizações populares. Mais do que um bônus, ele é um direito conquistado com muito esforço e que desempenha um papel crucial na economia do país e na vida financeira dos trabalhadores.

História e origem do 13º salário no Brasil.
Descubra como surgiu o 13º salário no Brasil e sua importância para os trabalhadores e a economia desde sua criação em 1962 |Foto: Reprodução/Freepik

O contexto histórico e a luta pela conquista

A história do 13º salário no Brasil é marcada por movimentos trabalhistas que datam das primeiras décadas do século XX. Inspirados por conquistas semelhantes em outros países, como a Itália fascista, onde o benefício foi implementado em 1937 como uma medida obrigatória para algumas categorias, os trabalhadores brasileiros começaram a reivindicar algo similar.

No entanto, a realidade no Brasil era bem distinta. No início, algumas empresas ofereciam cestas básicas ou pequenos presentes como forma de gratificação natalina. Esse gesto, que era voluntário e esporádico, não atendia às reais necessidades dos trabalhadores, especialmente em períodos de alta inflação e crise econômica.

Os anos 1940 e 1950 foram marcados por greves e mobilizações para transformar o abono de Natal em um direito consolidado. Em 1943, durante a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), os trabalhadores pressionaram para incluir a gratificação natalina no texto legal, mas o benefício não foi incorporado.

Ainda assim, a luta continuou. Um exemplo emblemático ocorreu em Santo André (SP), quando operários da Pirelli paralisaram suas atividades para reivindicar o benefício, inspirando mobilizações em outras regiões do país.

Foi apenas nos anos 1960, com o fortalecimento dos sindicatos e o aumento das pressões sociais, que o movimento ganhou força política suficiente para alcançar a aprovação do 13º salário como lei. O cenário político era intenso: o Brasil enfrentava altas taxas de inflação, um crescimento da dívida externa e um ambiente polarizado entre forças de direita e esquerda.

Nesse contexto, a greve geral de 1962, ocorrida logo após o bicampeonato do Brasil na Copa do Mundo, foi decisiva para pressionar o governo e o Congresso Nacional.

A lei e seu impacto inicial

Sancionada em julho de 1962, a Lei nº 4.090 determinou que os empregadores deveriam pagar aos seus funcionários o equivalente a um salário extra ao final de cada ano. Inicialmente, o direito era restrito aos trabalhadores urbanos do setor privado, deixando de fora os trabalhadores rurais, servidores públicos e aposentados. No entanto, ao longo dos anos, essas categorias também foram incluídas. A Constituição Federal de 1988 garantiu o 13º salário a todos os trabalhadores, consolidando o direito de forma ampla.

Embora hoje o benefício seja amplamente aceito, sua implementação enfrentou resistência. Empresários e economistas da época argumentavam que a obrigatoriedade do pagamento do 13º salário poderia levar empresas à falência e até comprometer a economia nacional.

O jornal O Globo, por exemplo, chegou a estampar em manchetes que a medida seria “desastrosa para o país”. No entanto, essas previsões catastróficas não se concretizaram. Pelo contrário, o benefício mostrou-se um motor importante para a economia, injetando bilhões de reais no mercado todos os anos.

A função econômica e social do 13º Salário

O 13º salário não é apenas um direito trabalhista; ele também desempenha um papel essencial na economia brasileira. Todos os anos, o pagamento desse benefício movimenta bilhões de reais, impulsionando o consumo e ajudando a aquecer setores como o comércio e os serviços, especialmente no período de festas de fim de ano. Em 2024, por exemplo, estima-se que o 13º salário injete mais de R$ 320 bilhões na economia, beneficiando cerca de 85,5 milhões de brasileiros.

Do ponto de vista social, o 13º salário é uma ferramenta de redistribuição de renda. Ele permite que trabalhadores tenham um reforço financeiro para lidar com as despesas de fim de ano, como presentes, viagens e contas atrasadas. Além disso, muitas famílias utilizam esse recurso para poupar, investir ou quitar dívidas, melhorando sua saúde financeira.

Por que é um direito, e não um bônus ?

Um dos principais equívocos relacionados ao 13º salário é vê-lo como um “presente” ou um “bônus”. Na verdade, ele é um direito conquistado e está diretamente ligado à quantidade de trabalho realizado ao longo do ano.

A lógica por trás do benefício é matemática: o ano possui 52 semanas, que divididas por 4 (a média de semanas em um mês), resultam em 13. Assim, o 13º salário é uma forma de compensar o trabalhador pelas semanas excedentes que ele trabalhou.

Segundo a educadora financeira Mila Gaudencio, compreender o 13º salário como um direito, e não como um ganho inesperado, ajuda o trabalhador a administrar melhor o recurso. Quando se entende que esse dinheiro é fruto de esforço e dedicação, há uma tendência maior em utilizá-lo de maneira consciente e planejada.

O 13º salário é um marco das conquistas trabalhistas no Brasil. Ele simboliza a força dos movimentos sindicais e a capacidade dos trabalhadores de se organizarem para alcançar direitos fundamentais. Além disso, o benefício é uma prova de que a luta por melhores condições de trabalho não é apenas legítima, mas também essencial para garantir dignidade e justiça social.

Mais do que uma gratificação, o 13º salário é um exemplo de como os direitos trabalhistas são construídos e consolidados ao longo do tempo. Sua história nos lembra que avanços sociais não vêm sem esforço e que a organização e a mobilização continuam sendo ferramentas poderosas para a construção de um país mais justo e igualitário.

Leia também: 13º: Empresas têm até sexta (29) para pagar a 1ª parcela

Atualize-se.
Receba Nossa Newsletter Semanal

Sugestões para você