O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), terá uma reunião nesta quinta-feira, 6 de março, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick. O encontro ocorrerá por videochamada, marcada para as 17h30, e terá como tema central as tarifas de importação anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump.
A reunião estava inicialmente agendada para sexta-feira, 28 de fevereiro, mas foi adiada. Na data prevista, a agenda do vice-presidente foi substituída por compromissos internos. Em declarações anteriores, Alckmin havia destacado que o governo brasileiro já estava em contato com o setor industrial, buscando soluções em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Desde que Trump anunciou novas tarifas de importação, o governo brasileiro tem adotado uma postura cautelosa sobre o tema. Alckmin defende a continuidade do diálogo com as autoridades norte-americanas como uma estratégia para tentar reverter as medidas.
Sobretaxa ao aço brasileiro
No dia 10 de fevereiro, o presidente americano anunciou que tarifas de 25% seriam aplicadas sobre todas as importações de aço e alumínio, a medida passa a valer a partir do dia 12 de março e faz parte de sua revisão das políticas comerciais do país. Esse movimento afeta diretamente o Brasil.
Entre os impactos dessa decisão, três siderúrgicas brasileiras — ArcelorMittal, Ternium e CSN — serão diretamente afetadas. Essas empresas são as principais exportadoras de produtos semiacabados para os Estados Unidos, com um total de US$ 2,8 bilhões (R$ 16,3 bilhões) em exportações para o mercado americano em 2024.
A ArcelorMittal e a Ternium, por exemplo, produzem grande parte de seus itens em Pecém (CE) e no Rio de Janeiro, enviando-os para as indústrias americanas transformá-los em produtos finais.
Outro ponto relevante é que o Brasil importa anualmente cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,81 bilhões) em carvão dos EUA, utilizado na fabricação de produtos metálicos. Uma queda na produção brasileira pode, portanto, afetar também essas limitações.
Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro já havia enfrentado uma situação similar, quando os Estados Unidos impuseram tarifas de 25% sobre os produtos metálicos e 10% sobre o alumínio, alegando questões de segurança nacional. Na época, o Brasil, junto com Argentina e Coreia do Sul, negociou acordos para garantir isenção da sobretaxa, mediante cotas de importação.
O etanol brasileiro na mira das taxas
Além da tarifa de 25% sobre as importações de aço e ferro, Trump anunciou no dia 13 de fevereiro um memorando para estudar a possibilidade de aplicar tarifas recíprocas. Em sua agenda econômica, ele focou no etanol brasileiro, lembrando que a tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%, enquanto o Brasil cobra 18% de tarifa sobre as exportações de etanol dos EUA.
No documento, Trump usou o caso do etanol brasileiro como exemplo de desigualdade comercial. Ele destacou que a tarifa dos EUA sobre o etanol do Brasil é de apenas 2,5%, enquanto o Brasil cobra 18% sobre o etanol dos EUA.
Trump apontou que, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram só US$ 52 milhões para o país.
Embora menos formal que os decretos usados por Trump em sua política de “tarifaço”, o memorando ainda trata de ações diretas do governo dos EUA e busca tornar as relações comerciais mais equilibradas.
Diferente da medida anterior, que estabelecia tarifas para países específicos, a nova orientação é mais geral, com foco na reciprocidade. Países que dificultam o comércio com os EUA, aplicando tarifas altas sobre produtos americanos, podem enfrentar tarifas similares do governo dos EUA.
Essa nova medida pode afetar o comércio global e aumentar as disputas comerciais, especialmente com países como o Brasil, que já enfrentam altas tarifas sobre produtos como aço e etanol.
O governo brasileiro, por sua vez, já havia anunciado medidas para proteger sua indústria de aço menos de um ano atrás, o que indica que as relações comerciais entre os dois países continuarão a ser marcadas por discussões sobre tarifas.
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