The Guardian deixa de postar na plataforma X, de Elon Musk, citando teorias da conspiração, racismo e impacto negativo na sociedade; publicações de leitores ainda são permitidas
O jornal britânico The Guardian anunciou, nesta quarta-feira (13), sua decisão de interromper todas as publicações em suas contas oficiais na rede social X, antes conhecida como Twitter, atualmente de propriedade de Elon Musk. Em comunicado oficial, a equipe editorial declarou que as vantagens de usar a plataforma são superadas pelos “aspectos negativos” que esta oferece.
Entre as principais preocupações, o jornal mencionou a proliferação de teorias da conspiração de extrema-direita, racismo e discursos de ódio. Essas questões, aliadas ao controle de Musk sobre o conteúdo e o discurso político na plataforma, levaram o jornal a tomar a decisão de se afastar do X.
O Guardian já vinha considerando a possibilidade de abandonar a rede há algum tempo. A recente eleição presidencial nos Estados Unidos, que terminou com a vitória do republicano Donald Trump sobre Kamala Harris, reforçou essa decisão. A equipe editorial destacou que a maneira como o processo eleitoral foi conduzido na plataforma confirmou suas preocupações sobre o papel do X na propagação de informações distorcidas e conteúdos tóxicos. Segundo o jornal, Elon Musk tem usado sua influência para moldar a política e a opinião pública, o que cria um ambiente desfavorável para o debate democrático e a informação imparcial.
O jornal possui cerca de 80 perfis na plataforma, acumulando aproximadamente 27 milhões de seguidores. No entanto, essa vasta audiência e o alcance que o X proporciona já não são suficientes para justificar a permanência do veículo na rede social. Os responsáveis pelo Guardian acreditam que seus recursos podem ser melhor aplicados na promoção de seu jornalismo em canais mais seguros e controlados, onde o conteúdo pode ser apresentado sem a interferência de algoritmos e influências externas que deturpem sua essência.
A influência de Elon Musk no X
Desde que Elon Musk assumiu o controle do X, a plataforma passou por diversas mudanças significativas, muitas das quais preocupam veículos de comunicação, ativistas e acadêmicos. Musk tem sido acusado de tornar o X um ambiente cada vez mais favorável a conteúdos de extrema-direita, enquanto os esforços para moderar discursos de ódio e fake news parecem ter diminuído. O Guardian considera que essa postura coloca em risco a integridade do conteúdo jornalístico e afasta leitores em busca de informações confiáveis e imparciais.
Em sua declaração, o jornal enfatizou o impacto negativo de se manter em uma rede onde o ambiente é “frequentemente perturbador”. A decisão de sair do X não significa, no entanto, que o Guardian irá cortar todas as conexões com a plataforma. O jornal informou que seus repórteres continuarão a usar o X para coleta de notícias, uma prática comum entre jornalistas que buscam acompanhar as tendências e discussões que circulam nas redes sociais. Além disso, o Guardian não descarta a possibilidade de eventualmente incorporar conteúdos do X em algumas reportagens, mas reforça que a preferência é direcionar seu público para o site oficial, onde as notícias podem ser consumidas de forma completa e sem interferências.
Leitores ainda podem compartilhar conteúdo do Guardian
Apesar de sua saída oficial, o Guardian permitirá que usuários do X compartilhem livremente seus artigos na plataforma. A equipe editorial esclareceu que essa prática ajuda a manter o acesso à informação e amplia o alcance de reportagens que podem ter relevância para um público diversificado. Entretanto, o jornal reforçou que seu modelo de negócios não depende de algoritmos das redes sociais, pois é financiado majoritariamente por seus leitores. Assim, o incentivo é para que o público consuma o conteúdo diretamente no site do Guardian, onde é possível apoiar o trabalho da equipe sem interferências.
A reação de Elon Musk
Em resposta ao anúncio do Guardian, Elon Musk não se absteve de criticar o jornal publicamente. Em uma publicação no próprio X, Musk chamou o Guardian de “máquina de propaganda vil”. Esse tipo de comentário, em vez de atenuar as tensões, reforça as alegações do jornal sobre a postura de Musk em relação a veículos que não compartilham de suas ideologias ou práticas.
Vale ressaltar que o Guardian não é o primeiro veículo a abandonar a plataforma. Organizações como a NPR (National Public Radio) e a PBS (Public Broadcasting Service) também interromperam suas postagens no X após a aquisição por Musk, citando preocupações com o direcionamento político da plataforma e o impacto nos leitores.
Mídias Sociais como ferramenta para notícias
O Guardian reconhece que as redes sociais podem ser ferramentas importantes para alcançar novos públicos e disseminar o jornalismo para uma audiência global. No entanto, a equipe editorial argumenta que o X já não desempenha um papel essencial na promoção de seu trabalho. Com o ambiente tóxico e a presença constante de conteúdos que vão contra os valores do jornal, a plataforma deixou de ser vista como um espaço seguro e adequado para o jornalismo sério.
A decisão do Guardian reflete uma tendência mais ampla entre veículos que buscam manter sua credibilidade e compromisso com a verdade em um contexto de desinformação crescente nas redes. Para muitos jornais, a aposta está em criar conexões diretas com os leitores, que valorizam o conteúdo transparente e confiável.
O futuro do jornalismo em redes sociais
O afastamento do Guardian levanta questões importantes sobre o futuro do jornalismo nas redes sociais. Em um cenário onde plataformas são cada vez mais polarizadas e orientadas por algoritmos que priorizam conteúdos extremos, veículos tradicionais enfrentam o dilema de alcançar novos públicos sem comprometer sua missão de informar. Embora o X continue a ser uma ferramenta para coleta de informações, o Guardian acredita que seu conteúdo terá um impacto maior ao ser compartilhado diretamente em seu site oficial, onde os leitores podem consumir as notícias sem as influências negativas dos algoritmos.
A decisão do Guardian de sair do X é, ao mesmo tempo, um protesto e um posicionamento estratégico. O jornal britânico se junta a outras organizações que questionam o papel das redes sociais no debate público e no acesso à informação. A transição do Guardian para um modelo que valoriza o contato direto com o leitor reflete uma postura de responsabilidade jornalística, promovendo um ambiente onde a informação é transmitida com clareza e compromisso ético.
Leia também: Elon Musk é anunciado chefe do Departamento de Eficiência do governo Trump