Com o aumento das tensões comerciais globais, especialmente entre China e Estados Unidos, as empresas chinesas têm adotado medidas robustas para se proteger de flutuações cambiais e assegurar a estabilidade financeira.
Essas estratégias incluem acumular dólares, precificar contratos em yuan e explorar fluxos de comércio bidirecionais. Tais iniciativas visam mitigar os impactos das possíveis oscilações cambiais, em especial diante de riscos associados a políticas comerciais mais agressivas.
Preparação para tensões e mudanças no comércio global
A crescente tensão comercial entre a China e os Estados Unidos tem desencadeado uma profunda transformação no panorama global do comércio. As empresas chinesas, tradicionalmente dependentes do mercado norte-americano, estão sendo forçadas a repensar suas estratégias e buscar novas oportunidades em outras regiões do mundo.
A Ásia, a América Latina e a África emergem como destinos cada vez mais atrativos para as exportações chinesas. Esses mercados oferecem um grande potencial de crescimento e apresentam menor risco de serem impactados por políticas protecionistas, como as tarifas impostas pelos Estados Unidos. Ao diversificar seus mercados, as empresas chinesas visam reduzir sua vulnerabilidade a choques externos e garantir a sustentabilidade de seus negócios a longo prazo.
Além disso, empresas como a consultoria de gestão de risco Qian Jing relatam uma crescente preocupação com a proteção de margens de lucro, especialmente em setores que operam com baixos percentuais, como 5%, enquanto enfrentam ameaças de tarifas que podem ultrapassar 60%.
Estratégias cambiais
A crescente incerteza no cenário econômico global tem impulsionado as empresas chinesas a buscarem cada vez mais por ativos em dólar. A volatilidade cambial e as expectativas de depreciação do yuan têm levado as empresas a aumentar significativamente seus depósitos em moeda estrangeira.
Segundo dados do banco central chinês, esses depósitos registraram um crescimento de 6,6% nos últimos 12 meses, atingindo a marca de US$ 836,5 bilhões. Essa estratégia, além de proteger os ativos das empresas contra a desvalorização do yuan, confere maior flexibilidade para realizar transações internacionais e acessar crédito em mercados globais.
A acumulação de dólares também reflete a percepção de que a moeda americana é um porto seguro em tempos de turbulência econômica. No entanto, essa prática não está isenta de riscos, como a possível perda de competitividade das exportações chinesas em um cenário de apreciação do dólar. Apesar dos desafios, a tendência de dolarização dos ativos das empresas chinesas deve se manter enquanto persistirem as incertezas no cenário econômico global.
As empresas estão adotando estratégias diversas para se proteger das flutuações cambiais. Algumas buscam mecanismos de hedge, como contratos futuros, para garantir uma taxa de câmbio pré-determinada em suas transações. No entanto, o cenário atual de altas taxas de juros nos Estados Unidos torna esses contratos mais caros.
Enquanto as empresas exportadoras, que vendem seus produtos em moeda estrangeira, enfrentam dificuldades para garantir taxas futuras vantajosas, as empresas importadoras, que compram produtos em moeda estrangeira, estão aproveitando o momento para proteger seus contratos de compra, garantindo uma taxa de câmbio mais favorável.
Mudanças na composição do comércio
A força do dólar tem beneficiado empresas chinesas, tornando seus produtos mais competitivos globalmente, mesmo com as incertezas comerciais. No entanto, os exportadores estão revisando suas práticas, como negociar contratos diretamente em yuan, para reduzir a dependência do dólar.
O yuan, que em 2020 representava 2% do financiamento do comércio global, agora responde por 5,77%, consolidando-se como a segunda moeda mais utilizada, atrás apenas do dólar. Essa mudança reflete não apenas a diversificação do comércio chinês, mas também o aumento da relevância do renminbi em transações internacionais.
Adaptação ao cenário volátil
Alguns empresários já implementam estratégias que combinam exportação e importação para equilibrar fluxos financeiros e mitigar riscos cambiais. Tais práticas, aliadas ao aumento da competitividade proporcionado pelo enfraquecimento do yuan, vêm ajudando a manter os lucros em alta.
Contudo, especialistas alertam que, ao ingressar em mercados emergentes com câmbios voláteis, as empresas devem priorizar o gerenciamento de riscos. Conforme destaca Joseph Liu, da consultoria FX Expert, “as empresas precisam decidir se estarão na mesa ou no menu” ao expandirem para mercados externos.
Embora as políticas de Donald Trump adicionem incertezas no curto prazo, a diversificação comercial e a maior integração em mercados emergentes indicam uma tendência positiva a longo prazo para as empresas chinesas.
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