A nova edição do “Relatório Setores do E-commerce no Brasil”, elaborado pela Conversion e previsto para divulgação nesta quarta-feira (18), traz dados reveladores sobre o desempenho das principais plataformas de comércio eletrônico no país.
Um dos destaques é o Temu, que registrou impressionantes 107.241.708 acessos em novembro. Com esse resultado, a plataforma alcançou a quinta posição no ranking das plataformas e aplicativos de compras mais visitados no Brasil, superando grandes nomes consolidados no mercado, como OLX, Magazine Luiza (Magalu), Shein, AliExpress e iFood.
A Temu é uma plataforma de e-commerce pertencente à gigante chinesa PDD Holding, controlada pelo bilionário Colin Huang, atualmente o terceiro homem mais rico da China. Sua operação no Brasil teve início em junho de 2023, bem mais recente em comparação com seus concorrentes diretos, como Shopee, Shein e AliExpress, que já estão há anos no mercado brasileiro. Apesar disso, a Temu conquistou rapidamente espaço e destaque, atraindo milhões de acessos em um período curto.
O relatório da Conversion, no entanto, avalia exclusivamente o volume de acessos às plataformas, sem incluir análises como número de vendas ou participação no mercado — dados que não são monitorados pela agência. A Conversion é especializada em SEO (otimização para mecanismos de busca) e utiliza informações provenientes de ferramentas de análise, como o SimilarWeb, para compilar o relatório.
De acordo com os números apresentados, as dez maiores plataformas de e-commerce no Brasil concentraram juntas 50,2% de todo o tráfego do setor no país.
A evolução impressionante de Temu
Desde sua chegada ao mercado brasileiro em junho de 2023, quando registrou 9.821.383 acessos, a Temu apresentou um crescimento vertiginoso. Em julho, os acessos saltaram para 55.775.127, e em agosto quase dobraram, chegando a 106.259.467. Em novembro, a plataforma consolidou-se com 107.241.708 acessos, sendo o site de maior crescimento entre os dez mais visitados do ano.
No topo do ranking, o Mercado Livre permanece como líder absoluto, acumulando 369.051.063 acessos somente em novembro.
Desempenho de junho a novembro
Quando analisado o período de junho a novembro de 2023, a Temu se posicionou na oitava colocação, totalizando 483.257.981 acessos. Esse número supera os 462.889.571 acessos da nona colocados, AliExpress, e se aproxima da Shein, que ficou em sétimo lugar com o mesmo número registrado pela Temu.
Mais uma vez, o Mercado Livre encabeça o ranking, acumulando impressionantes 2 bilhões de acessos durante o mesmo período.
A força do acesso via dispositivos móveis
Outro ponto investigado no relatório foi o meio pelo qual os consumidores acessam as plataformas. Segundo o levantamento, 76,5% do tráfego em sites de e-commerce ocorre por dispositivos móveis, e 21,7% desse número é gerado via aplicativos instalados em celulares. O uso de computadores pessoais para compras online, por outro lado, representa apenas 23,5% do total de acessos.
Os consumidores que mais utilizam dispositivos móveis para navegar são aqueles específicos em produtos infantis, que representam 82,2% dos acessos nessa categoria. Joias e relógios aparecem em segundo lugar (80,2%), seguidos por calçados (75,3%).
Quando se trata exclusivamente de acessos realizados por aplicativos, as categorias de comida e bebida lideram, com 40,3%, seguidas por produtos importados em geral, com 35%.
Já no uso de computadores pessoais, as categorias de maior destaque são livros, papelaria e itens educacionais, que representam 53,2% dos acessos. Ferramentas e acessórios aparecem em segundo lugar, com 37,8%.
O impacto da Black Friday no e-commerce brasileiro
O mês de novembro foi movimentado especialmente para o e-commerce no Brasil, registrando cerca de 3 bilhões de acessos, um aumento de 10% em relação a outubro, impulsionado pela Black Friday. No acumulado dos últimos 12 meses, o total de acessos chegou a impressionantes 32 bilhões.
O relatório analisou o desempenho de 18 setores do e-commerce, dos quais 16 apresentaram crescimento ao longo do ano. Para isso, as empresas foram agrupadas de acordo com os segmentos em que atuam, e os dados indicam a participação de cada setor no volume total de acessos.
Marketplace
1 – Mercado Livre 31,3%
2 – Shopee 20,4%
3 – Amazon 19,5%
Moda e acessórios
1 – Lojas Renner 15,2%
2 – Dafiti 10,6%
3 – C&A 9,1%
Eletrônicos e eletrodomésticos
1 – Samsung 44,8%
2 – Kabum 10,2%
3 – Apple 8,2%
Cosméticos
1 – O Boticário 22,7%
2 – Natura 16,7%
3 – Beleza na Web 10,1%
Casa e móveis
1 – Madeira & Madeira 21,5%
2 – Leroy Merlin 19,5%
3 – Ferreira Costa 4,2%
Esportes
1 – Netshoes 36,2%
2 – Centauro 17,5%
3 – Nike 12,4%
Comidas e bebidas
1 – iFood 46,4%
2 – Carrefour 11,6%
3 – Zé Delivery 4,5%
Calçados
1 – Arezzo 15,3%
2 – Havaianas 8,3%
3 – Usaflex 4,9%
Sobre a Temu
A Temu é uma plataforma global de comércio eletrônico que conecta consumidores a uma ampla variedade de produtos a preços competitivos. Fundada em 2022 e com sede em Boston, nos Estados Unidos, a empresa é subsidiária da PDD Holdings, grupo chinês que também controla o Pinduoduo, um dos maiores marketplaces da China.
A Temu se destaca pelo modelo de negócios baseado em ofertas de produtos diretamente de fabricantes e fornecedores, eliminando intermediários e reduzindo custos. Focada em acessibilidade e variedade, a plataforma oferece desde eletrônicos e moda até utensílios domésticos e produtos para pets.
Com forte expansão internacional, a Temu tem ganhado destaque em países como Estados Unidos, Canadá e Brasil, posicionando-se como um dos principais concorrentes de plataformas como AliExpress e Shein.
Amazon lança Haul: rival da Temu e da Shein
A Amazon, uma das maiores empresas de varejo online do mundo, lançou recentemente um novo serviço denominado Haul, com o objetivo de ampliar sua participação no mercado de produtos acessíveis, buscando competir diretamente com plataformas populares como Shein e Temu.
O Haul é uma plataforma que aposta em preços extremamente baixos para atrair consumidores que buscam produtos baratos, mas que estão dispostos a esperar mais tempo pelas entregas. Cada produto na plataforma tem um limite de preço de até US$ 20 (cerca de R$ 116), uma estratégia que visa atrair clientes que priorizam preços acessíveis, mesmo que isso implique em prazos de entrega mais longos.
Lançado oficialmente em 13 de novembro de 2023, o Haul está, por enquanto, disponível exclusivamente para dispositivos móveis, acessado por meio do aplicativo da Amazon nos Estados Unidos. Essa iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla da empresa para expandir sua presença no setor de produtos de baixo custo, um mercado que já é dominado por concorrentes asiáticos como a Shein e a Temu.
Porém, essa nova aposta da Amazon também traz desafios significativos, especialmente no que diz respeito à qualidade dos produtos oferecidos e à necessidade de sustentabilidade em um modelo de negócios que se baseia em preços baixos e entrega prolongada.
Como funciona o Haul
O Haul se caracteriza por seu foco em preços extremamente baixos, com a maior parte dos produtos disponíveis na plataforma sendo vendidos por valores abaixo de US$ 10 (aproximadamente R$ 58). A variedade de produtos inclui itens simples e acessíveis, como lâminas de barbear, kits de bijuterias, acessórios e outros artigos de uso diário, que podem ser encontrados por preços que chegam a ser tão baixos quanto US$ 3 (cerca de R$ 17).
A plataforma também oferece frete grátis para compras acima de US$ 25 (aproximadamente R$ 145), o que pode ser um atrativo para os consumidores, embora o prazo de entrega seja mais longo do que o tradicional oferecido por outras plataformas de comércio eletrônico.
No Haul, o prazo de entrega pode variar entre uma a duas semanas, o que representa uma diferença significativa em relação a outras empresas que se destacam pela entrega mais rápida. Apesar disso, a Amazon garante que todos os produtos vendidos por meio do Haul terão garantia e que as transações serão seguras, o que pode representar um diferencial importante para a plataforma em relação aos concorrentes, que frequentemente enfrentam críticas sobre qualidade dos produtos e atendimento ao cliente.
Concorrência com Shein e Temu
A Shein e a Temu são duas das principais concorrentes da Amazon nesse novo segmento de mercado. Ambas as plataformas se tornaram gigantes globais ao oferecer produtos baratos, com foco nas últimas tendências de moda, e ao permitir que os consumidores adquiram itens a preços extremamente baixos.
Para conseguir oferecer essas vantagens, ambas as empresas contam com prazos de entrega mais longos, o que tem atraído consumidores que priorizam os preços em vez da rapidez na entrega.
Embora a Shein e a Temu tenham conquistado uma base de clientes fiel, elas enfrentam sérios desafios relacionados ao impacto ambiental e à qualidade dos produtos. As duas empresas já foram criticadas por suas práticas de produção em massa, o que levanta questões sobre o desperdício e a pegada ambiental de seus processos.
A Amazon, ao adotar um modelo de negócios semelhante, também poderá enfrentar críticas sobre sustentabilidade e qualidade. Além disso, o processo da Comissão Europeia contra a Temu, acusada de falhas na fiscalização de produtos ilegais, destaca as questões regulatórias que podem afetar a operação de plataformas como o Haul.
De acordo com Sucharita Kodali, analista de varejo da Forrester, embora os consumidores ainda possam se interessar por preços baixos, há uma crescente perda de interesse por itens de baixa qualidade e pela longa espera pelas entregas.
Isso levanta uma preocupação para o futuro do Haul, que precisará encontrar maneiras de manter o apelo dos preços acessíveis sem comprometer a experiência de compra e a qualidade dos produtos oferecidos.
Sustentabilidade e impacto ambiental
A introdução do Haul também traz à tona um debate importante sobre sustentabilidade no varejo de baixo custo. Embora os preços acessíveis sejam extremamente atraentes para muitos consumidores, especialistas apontam que a produção em massa de produtos baratos pode acarretar sérios problemas ambientais.
A pegada de carbono associada à fabricação desses produtos e o desperdício de materiais são questões preocupantes que têm gerado críticas em relação a empresas como a Shein e a Temu, que já enfrentam desafios para lidar com sua produção excessiva e o descarte inadequado de produtos.
O modelo de negócios do Haul, que se baseia em preços baixos e em uma oferta massiva de produtos simples, pode gerar preocupações semelhantes, especialmente com a crescente pressão sobre empresas para que adotem práticas mais responsáveis do ponto de vista ambiental.
Para mitigar os impactos negativos da produção em massa, a Amazon poderia adotar iniciativas de sustentabilidade, como compensação de carbono, parcerias com fornecedores responsáveis e programas de reciclagem para os produtos vendidos.
Oportunidades e riscos para a Amazon
O lançamento do Haul reflete a estratégia da Amazon de diversificar sua oferta e alcançar um público que busca alternativas mais acessíveis para o consumo diário.
Essa abordagem oferece grandes oportunidades, especialmente em um mercado onde os consumidores estão cada vez mais em busca de produtos baratos e acessíveis.
No entanto, a Amazon também corre riscos consideráveis ao entrar em um mercado já saturado e muito competitivo, dominado por empresas como a Shein e a Temu.
Apesar da sua marca consolidada e de sua base de clientes global, a Amazon terá que equilibrar o preço, a qualidade e o prazo de entrega para garantir o sucesso do Haul. A plataforma terá que garantir que os produtos oferecidos sejam de boa qualidade, ao mesmo tempo em que entrega preços competitivos.
Além disso, a empresa enfrentará desafios relacionados a preocupações regulatórias, especialmente em relação à sustentabilidade e à responsabilidade social, questões que têm se tornado cada vez mais importantes para os consumidores.
O Haul, por um lado, oferece uma grande oportunidade para a Amazon expandir sua presença no mercado de produtos baratos, competindo diretamente com Shein e Temu. A proposta de preços baixos, aliada à segurança nas transações e à garantia de produtos, pode atrair um público considerável.
No entanto, a Amazon precisará lidar com os desafios relacionados à qualidade dos produtos, sustentabilidade e concorrência acirrada. O sucesso da plataforma dependerá de como a empresa conseguirá se adaptar às novas demandas dos consumidores e equilibrar o desejo por preços baixos com a necessidade de responsabilidade ambiental e social.
Ao apostar no Haul, a Amazon demonstra seu compromisso com a inovação e a disposição de se adaptar às mudanças do mercado. Contudo, para que a plataforma seja bem-sucedida, a Amazon precisará encontrar um equilíbrio delicado entre preço, prazo de entrega e qualidade, garantindo uma experiência de compra satisfatória para os consumidores e respondendo adequadamente às crescentes exigências de sustentabilidade e responsabilidade social.
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