Empresa lucrava 1000% com venda de carne estragada

Entenda detalhes da Operação Carne Fraca que resultou na prisão de empresários que adquiriram 800 toneladas de carne deteriorada após enchentes no RS

Quatro pessoas foram presas nesta quarta-feira, 22 de janeiro, durante a operação Operação Carne Fraca da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que visava desmantelar uma empresa envolvida na venda de carne imprópria para consumo.

Entre os presos desta quarta, está um dos donos da empresa, Almir Jorge Luís da Silva. Segundo as investigações da Delegacia do Consumidor (Decon-RJ), a Tem Di Tudo Salvados, do município Três Rios, arrematou 800 toneladas de proteína animal deteriorada de um frigorífico de Porto Alegre.

O lucro obtido ultrapassava 1000%, conforme a apuração. As notas fiscais apreendidas pela polícia revelaram que o valor da carne boa estava estimado em R$ 5 milhões. O grupo comprou a carne estragada por cerca de R$ 80 mil e revendeu para outras empresas.

Mais de 30 carretas saíram do Rio Grande do Sul com destino a diversos locais do Brasil. Uma das empresas identificadas pela polícia foi a Frigodias, localizada em Contagem (MG), que adquiriu 15 toneladas do produto estragado.

Operação policial investiga venda de carne estragada com lucro ilegal.
Empresa do RJ é investigada por revender 800 toneladas de carne estragada, adquirida após enchentes no RS, colocando em risco a saúde pública |Foto: Reprodução/Reprodução/ PCRJ


Em entrevista à CNN o delegado Wellington Pereira Vieira, da Delegacia do Consumidor (Decon) do Rio de Janeiro, disse que a carne que ficou submersa durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, em maio de 2024, foi adquirida por cerca de R$ 0,97 por quilo.

A investigação também revelou que os lucros da empresa provinham da comercialização de carne de qualidade inferior para mercados da região. Por exemplo, peças podres de picanha de 900 gramas foram encontradas em mercados na capital fluminense.

A polícia também investiga uma nova vertente do esquema, que envolve empresas seguradoras. As evidências indicam que essas seguradoras acionavam frigoríficos em casos de acidentes com caminhões que transportavam carne como carga.

As seguradoras, responsáveis por limpar as vias após os acidentes, se beneficiavam ao contratar terceiros para fazer a limpeza, que compravam o alimento impróprio para o consumo por valores muito abaixo do mercado.

Os detalhes do caso

Os policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) cumpriram oito mandados de busca e apreensão em locais relacionados aos investigados em Três Rios, município na Região Centro-Sul Fluminense.

A operação foi realizada em colaboração com a Delegacia do Consumidor do Rio Grande do Sul, que investigava o caso desde maio do ano passado.

Durante as varreduras, policiais encontraram mais alimentos podres ou vencidos e prenderam 4 pessoas em flagrante por vender ou ter em depósito mercadoria imprópria para o consumo.

Na sede da empresa, por exemplo, os agentes encontraram pacotes de carne embalados a vácuo que podem ser do lote deteriorado de Porto Alegre — 8 meses depois da tragédia.

Também havia pedaços de carne pendurados em um ambiente sem a temperatura adequada, produtos congelados em prateleiras enferrujadas e sacos de alimentos no chão.

De acordo com as investigações, os sócios da empresa adquiriram 800 toneladas de carne bovina estragada, incluindo cortes nobres, que haviam ficado submersas nas enchentes que atingiram Porto Alegre (RS).

O delegado Wellington Pereira Vieira explicou à CNN que a deterioração causada pela lama e pela água, que ficaram acumuladas no frigorífico e na cidade, resultou em efeitos prejudiciais. Esses efeitos foram mascarados, com a carne sendo revendida como se estivesse em bom estado.

A empresa, por sua vez, alegou que a intenção da compra era utilizar a carne para a fabricação de ração animal.

O que motivou o inicio das investigações?

A investigação começou de forma inesperada no Rio Grande do Sul, quando o frigorífico que vendeu a carne deteriorada para a Tem Di Tudo Salvados acabou comprando novamente seu próprio produto, reconhecendo-o pelo número do lote. Esse incidente levou os produtores gaúchos a notificarem as autoridades, o que facilitou a identificação do crime.

Atualmente, a polícia está focada em encontrar outras empresas que, sem saber, adquiriram carne imprópria para o consumo e em garantir que todos os envolvidos nesse crime grave sejam responsabilizados.

O perigo à saúde do consumidor

Casos como este ressaltam a extrema relevância da segurança alimentar, que não se limita apenas a assegurar que os alimentos consumidos sejam seguros, mas também envolve a preservação da integridade de todo o processo que engloba a distribuição, armazenamento e comercialização desses produtos. A segurança alimentar vai além da qualidade dos alimentos em si, abrangendo as condições nas quais eles são manipulados, transportados e vendidos.

Quando há consumidores mais bem informados e regulamentações mais rigorosas, é possível não apenas prevenir os riscos à saúde pública, mas também garantir que todos os envolvidos na cadeia alimentar – desde os produtores até os varejistas – sigam práticas que assegurem um padrão elevado de segurança e qualidade em cada fase do processo. Isso contribui para um sistema alimentício mais seguro e transparente, que protege a saúde dos consumidores e promove maior confiança no mercado.

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