Luigi Mangione arrecada US$ 300 mil para defesa jurídica

Luigi Mangione, de 26 anos, acusado de assassinar Brian Thompson, CEO da seguradora UnitedHealthcare (uma das maiores seguradoras de saúde dos Estados Unidos, oferecendo planos de saúde para indivíduos, empresas e programas governamentais como Medicare e Medicaid), recebeu aproximadamente US$ 300 mil (cerca de R$ 1,7 milhão) em doações para custear sua defesa legal. O valor foi arrecadado por meio da campanha online “Comitê Jurídico de 4 de Dezembro”.

Luigi Mangione arrecada US$ 300 mil para defesa jurídica.
Mangione é de uma influente família ítalo-americana de Baltimore, conhecida no setor imobiliário |Foto: Reprodução/Eduardo Munoz/Reuters

A campanha foi organizada por um grupo de 15 voluntários que se identificam como apoiadores de Mangione. Eles arrecadaram fundos com o objetivo de ajudar o jovem a custear os custos legais de sua defesa.

A campanha recebeu mais de 10 mil doações individuais, com contribuições médias de US$ 30 (aproximadamente R$ 172,80). A maior doação registrada foi de US$ 5 mil (aproximadamente R$ 28.800,00). Karen Friedman Agnifilo, advogada de Mangione, afirmou em entrevista coletiva que ele ficou emocionado com o apoio recebido. “Luigi apreciou muito essa demonstração de solidariedade”, disse Agnifilo ao Comitê de 4 de Dezembro.

Mangione foi preso em dezembro de 2024 em um McDonald’s na Pensilvânia e, desde então, enfrenta acusações de homicídio e terrorismo. Em sua defesa, declarou-se inocente durante uma audiência estadual em Nova York. Paralelamente, o caso também é analisado na esfera federal.

O acusado pertence a uma influente família ítalo-americana de Baltimore (uma cidade localizada no estado de Maryland, nos Estados Unidos), conhecida pelo seu império no setor imobiliário. Seu avô, Nick Mangione, construiu um vasto patrimônio na cidade, tornando a família uma das mais conhecidas da região.

O caso ganhou popularidade na internet

O caso de Luigi Mangione gerou grande repercussão nas redes sociais, com muitos internautas o comparando a personagens de quadrinhos como Batman e Homem-Aranha. A mobilização digital impulsionou ainda mais a campanha de arrecadação, com mensagens de apoio vindas de diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. “Nosso herói da saúde”, comentou um usuário do X.

O julgamento de Luigi Mangione continua, com a defesa buscando provar sua inocência enquanto o debate sobre o sistema de saúde norte-americano se intensifica nas redes e na sociedade.

Mangione e a revolta com o sistema de saúde americano

A relação entre o crime e o sistema de saúde dos Estados Unidos tornou-se um dos principais focos da discussão pública. O país possui um modelo de saúde predominantemente privado, onde seguradoras como a UnitedHealthcare controlam o acesso a tratamentos médicos.

Muitos cidadãos enfrentam dificuldades para pagar consultas, medicamentos e procedimentos devido aos altos custos e à burocracia imposta pelas seguradoras, que frequentemente negam coberturas. Esse modelo gera indignação, pois a falta de assistência acessível pode levar a consequências graves para a população, incluindo endividamento e até mortes evitáveis.

Dentro desse cenário, Mangione passou a ser visto por alguns como um símbolo da revolta contra um sistema de saúde que muitos consideram injusto. A narrativa construída por seus apoiadores sugere que o assassinato de Thompson não foi apenas um crime individual, mas um reflexo da frustração generalizada com a lucratividade das seguradoras à custa do bem-estar dos cidadãos.

Como funciona o sistema de saúde nos Estados Unidos?

O sistema de saúde dos Estados Unidos é um dos mais caros e complexos do mundo, caracterizado por uma forte presença do setor privado. Ao contrário de muitos países desenvolvidos que adotam um sistema público universal, os EUA não possuem um sistema de saúde gratuito para toda a população. Em vez disso, a maior parte dos serviços médicos é financiada por seguros privados ou por programas públicos específicos.

A maioria dos americanos depende de seguros privados, comumente oferecidos pelos usuários. Em 2022, cerca de 216,5 milhões de pessoas, o que representa 65,6% da população dos Estados Unidos, possuíam seguro de saúde privado, segundo a US Census Bureau (Departamento do Censo dos Estados Unidos, responsável pela coleta e análise de dados demográficos e socioeconômicos do país).

No entanto, os custos são elevados: o valor médio do plano de saúde fornecido pelo empregador foi de US$ 7.911 (R$ 45.126,81) por ano para indivíduos e US$ 23.968 para famílias (R$ 137.072,48), conforme dados da Kaiser Family Foundation (uma organização sem fins lucrativos que fornece informações sobre questões de saúde e políticas públicas, com foco em seguro de saúde e cuidados médicos nos Estados Unidos).

Aqueles sem cobertura do empregador podem adquirir planos individuais por meio do Affordable Care Act (ACA), também conhecido como “Obamacare”(uma lei de reforma do sistema de saúde dos Estados Unidos, assinada em 2010, que visa expandir o acesso a seguros de saúde, reduzir os custos e melhorar a qualidade do atendimento médico).

Apesar dessas opções, cerca de 25,9 milhões de americanos, ou 7,9% da população, estavam sem segurança de saúde em 2022, de acordo com a US Census Bureau.

Programas públicos

O governo dos EUA oferece alguns programas públicos para grupos específicos:

  • Medicare: destinado a pessoas com 65 anos ou mais e algumas pessoas com deficiência. Atendendo cerca de 65 milhões de pessoas em 2023.
  • Medicaid: voltado para pessoas de baixa renda. Em 2023, cerca de 87 milhões de pessoas estavam cadastradas. Cada estado tem autonomia para definir critérios de elegibilidade.
  • CHIP (Programa de Seguro Saúde Infantil) : oferece cobertura para 7 milhões de crianças de famílias que ganham mais que o limite do Medicaid, mas não podem pagar um seguro privado.
  • Veterans Health Administration (VHA) : atende aproximadamente 9 milhões de veteranos militares.

Altos custos

Ainda de acordo com a US Census Bureau, os EUA possuem um dos sistemas de saúde mais caros do mundo. Em 2022, o país gastou cerca de US$ 4,5 trilhões em saúde (R$ 26,01 trilhões), o que representa 17,3% do PIB.

O gasto médio por pessoa foi de aproximadamente US$ 13.493 (R$ 77.928) – mais do que o dobro da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, um organismo internacional que reúne países com economias avançadas e visa promover políticas públicas que melhorem o bem-estar econômico e social).

Os principais fatores para os altos custos incluem:

  • Medicamentos caros: um remédio simples como a insulina pode custar US$ 300 por frasco sem seguro (aproximadamente R$ 1.734,00).
  • Consultas e emergências: uma consulta médica pode variar entre US$ 100 e US$ 500 (aproximadamente R$ 578,00 a R$ 2.890,00), enquanto uma visita ao pronto-socorro pode custar mais de US$ 2.000 (aproximadamente R$ 11.560,00).
  • Internações hospitalares: A média de custo por internação nos EUA é de US$ 13.262 (R$ 76.652,36), enquanto na Alemanha é de cerca de US$ 6.000 (R$ 34.680,00).
  • Para chamar uma ambulância: entre US$ 400,00 a US$ 2.500 (R$ 2.312,00 a R$ 12.800,00).
  • Pronto-socorro: cerca de US$ 2.000 (R$ 11.560,00).
  • Inserção de DIU: US$ 1.300 (R$ 7.514,00).
  • Inalador: entre US$ 50,00 a US$ 350,00 (R$ 289,00 a R$ 2.023,00).
  • Parto cesariana: aproximadamente US$ 10.000 (R$ 57.800,00).
  • Internação por noite: entre US$ 3.000,00 a US$ 4.000,00 (R$ 17.340,00 a R$ 23.120,00).
  • Engessar uma perna ou braço: entre US$ 2.000,00 a US$ 8.000,00 (R$ 11.560,00 a R$ 46.240,00).

Leia também: Trump retira EUA da Organização Mundial da Saúde

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