As tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China estão começando a afetar de maneira clara os mercados mundiais, especialmente nas áreas de moda e tecnologia. Essas disputas surgiram devido a uma série de decisões feitas pelo presidente, Donald Trump, desde seu primeiro mandato na Casa Branca. Agora, essas ações estão gerando consequências, e empresas de diferentes países estão sentindo os efeitos dessa guerra comercial.
Por um lado, a China está sendo afetada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos. Essas tarifas agora atingem duas grandes empresas chinesas, a Shein e a Temu. Essas empresas, que têm crescido muito nos últimos anos, estão sendo impactadas pelas medidas comerciais dos EUA, o que pode dificultar seus negócios no mercado norte-americano.
Por outro lado, a PVH Corp, uma grande empresa de moda ocidental, dona de marcas conhecidas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger, foi incluída pela China na lista de “entidades não confiáveis”, como uma forma de retaliação às empresas dos Estados Unidos.
Essas tensões têm uma origem que vem do governo de Donald Trump, quando ele decidiu cobrar tarifas sobre os produtos da China, como uma maneira de tentar equilibrar o comércio entre os dois países. No entanto, essa ação levou a uma reação em cadeia, com o país asiático colocando tarifas sobre os produtos dos EUA, o que criou um ciclo de sanções e tarifas, afetando empresas de várias partes do mundo.
Tarifas de Donald Trump
No último sábado, 1 de fevereiro, Trump assinou um novo decreto que impõe uma tarifa de 10% sobre todos os produtos importados da China. Essa medida tem um impacto substancial, especialmente no mercado de compras online nos Estados Unidos, já que ela irá afetar mais de 80% das importações de produtos adquiridos por consumidores norte-americanos de plataformas digitais.
Uma das implicações mais importantes dessa ordem executiva é o fim das chamadas “minimis”, um tipo de brecha que permitia a importação de produtos de baixo custo sem a necessidade de pagar tarifas, desde que os envios não ultrapassassem o limite de US$ 800 (R$ 3.960) por destinatário/dia.
Essa brecha foi amplamente utilizada por empresas como a Shein e a Temu, que conseguiram expandir seus negócios nos EUA sem arcar com tarifas elevadas, o que as tornou competidores diretos da gigante do e-commerce Amazon.
Durante o primeiro mandato de Trump, essas “minimis” possibilitaram o crescimento exponencial do comércio eletrônico com a China, permitindo que as exportações chinesas disparassem de US$ 5,3 bilhões (aproximadamente R$ 19,5 bilhões em 2018) para US$ 66 bilhões (cerca de R$ 330 bilhões em 2023).
Esse crescimento foi impulsionado especialmente por empresas como a Shein e Temu, que representam atualmente cerca de 17% do mercado de envios para os EUA. A Shein, por exemplo, não possui operações comerciais na China, mas contrata fábricas chinesas para produzir suas roupas e enviá-las diretamente para consumidores ao redor do mundo.
Sua controladora está baseada em Singapura, uma estratégia que ajuda a empresa a contornar algumas das limitações impostas pelas tarifas dos EUA. A Temu, por sua vez, transferiu seu domicílio legal da China para a Irlanda, provavelmente para melhorar sua posição no mercado europeu e evitar as consequências das tarifas impostas pelos EUA.
Retaliações da China
Enquanto isso, do lado da China, o governo chinês tem adotado medidas retaliatórias contra empresas ocidentais, afetando diretamente algumas das maiores marcas do mundo. A PVH Corp, que detém as marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, foi recentemente incluída na lista de “entidades não confiáveis” da China.
O Ministério do Comércio chinês alegou que a empresa adotou “medidas discriminatórias” contra empresas chinesas, prejudicando os direitos e interesses legítimos das companhias da China. O motivo por trás dessa acusação pode estar relacionado à postura da PVH em relação ao boicote do algodão produzido em uma região da China, algo que foi investigado pelas autoridades chinesas desde setembro de 2024.
A inclusão da PVH na lista negra da China pode ter sérias consequências para a empresa, incluindo sanções como multas, congelamento do comércio, e até a revogação de permissões de trabalho para seus funcionários estrangeiros no país.
Para a PVH, que gerou 6% de sua receita e 16% de seu lucro antes de impostos e juros com operações na China em 2023, as sanções podem afetar significativamente seus negócios. A PVH já está experimentando um impacto negativo em suas operações, vendas e investimentos no país, o que pode reduzir ainda mais sua presença no mercado chinês.
Investigação sobre o Google
Além disso, a China também iniciou uma investigação contra a Alphabet, controladora do Google, por suspeita de violação das leis antimonopólio do país. Embora os detalhes dessa investigação não tenham sido divulgados publicamente, sabe-se que os produtos do Google, como seu mecanismo de busca, são bloqueados na China, o que significa que a empresa tem uma presença muito limitada no mercado chinês.
Em termos financeiros, a receita do Google proveniente da China representa apenas 1% de seu faturamento global, o que mostra que, apesar da sua influência mundial, sua operação no país é relativamente pequena.
O Google ainda mantém parcerias com empresas chinesas, especialmente no setor de publicidade, o que demonstra que, embora seu acesso direto ao mercado chinês seja restrito, a empresa ainda consegue encontrar maneiras de gerar receita por meio de sua rede de anúncios.
Em 2017, o Google até tentou expandir sua presença na China ao lançar um centro de inteligência artificial no país, mas esse projeto foi descontinuado dois anos depois. Desde então, a empresa não realiza mais pesquisas de inteligência artificial no território chinês, o que indica que as barreiras comerciais e políticas estão dificultando ainda mais sua atuação no país.
Impacto global
A intensificação dessas medidas comerciais e a inclusão de empresas na lista de entidades não confiáveis por parte da China revelam como as tensões entre as duas maiores economias do mundo estão afetando os mercados globais de uma forma mais abrangente.
A lista de empresas afetadas está crescendo à medida que as duas potências econômicas continuam a se envolver em uma guerra comercial que pode ter consequências de longo prazo para a economia mundial.
À medida que os impactos dessas tensões comerciais se expandem, o mundo pode testemunhar uma reconfiguração das cadeias globais de suprimentos e uma mudança nas estratégias de negócios das empresas internacionais.
As medidas protecionistas e retaliatórias adotadas por ambos os países parecem ser uma estratégia para garantir o controle sobre setores estratégicos e preservar a competitividade de suas economias, mas isso também cria incertezas para o futuro do comércio global.
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