Bandeira Vermelha: energia mais cara aumentará a inflação em 2024

Pela primeira vez desde 2021, a bandeira vermelha é acionada no país e medida deve pressionar inflação

Com a inflação em alta e a pressão cambial em ascensão, o cenário econômico brasileiro enfrenta desafios significativos para manter as expectativas dentro da meta estabelecida. Diante desse quadro, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá considerar um aumento na taxa Selic em sua próxima reunião. De acordo com Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital, a alta na Selic, que pode variar entre 0,25 e 0,50 pontos percentuais, é uma medida necessária para conter a pressão inflacionária.

Bandeira vermelha - energia
Bandeira vermelha tornará mais cara a conta de energia no país – Foto: Reprodução/Canva

Bandeira Vermelha em todo Brasil

Paralelamente a esse contexto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou na sexta-feira (30) que, a bandeira tarifária de energia elétrica, para o mês de setembro, será vermelha no patamar 2, a mais alta do sistema. 

“Este é o primeiro acionamento da bandeira vermelha patamar 2 em mais de três anos; a última vez foi em agosto de 2021. Desde abril de 2022, o país vinha operando sob a bandeira verde, com uma breve interrupção em julho de 2024, quando foi acionada a bandeira amarela, mas sem nenhuma mudança para bandeira vermelha”, explica.

De acordo com o executivo, “o acionamento da bandeira vermelha patamar 2 representa um acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, refletindo o aumento nos custos de geração de energia devido à necessidade de ativação das usinas térmicas. “A Aneel atribui o acionamento da bandeira vermelha à previsão de escassez de chuvas e às temperaturas mais altas do que a média histórica em todo o país, que impactam diretamente os reservatórios das hidrelétricas, deixando-os cerca de 50% abaixo do nível esperado”, destaca.

As bandeiras tarifárias, incluindo a bandeira vermelha, criadas em 2015 pela Aneel, têm como objetivo sinalizar ao consumidor os custos variáveis da geração de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN).

 “As cores verde, amarela e vermelha, esta última dividida em dois patamares, indicam se a energia custará mais ou menos de acordo com as condições de geração. A bandeira vermelha representa o custo mais elevado, enquanto a verde não adiciona custos extras à conta de energia”, ressalta.

Com o retorno da bandeira vermelha, o especialista reforça a importância do consumo consciente de energia. “O uso responsável da energia elétrica é fundamental para evitar desperdícios, preservar os recursos naturais e garantir a sustentabilidade do setor elétrico”, enfatiza.

Expectativas do mercado

Uchida lembra que o Boletim Focus, que é um levantamento que o Banco Central faz junto a economistas, projeta que o crescimento da economia brasileira em 2024 foi ajustado para cima, passando de 2,43% para 2,46%. Para os próximos anos, a expectativa do Produto Interno Bruto (PIB) é de crescimento moderado, sendo 1,85% em 2025 e 2% tanto em 2026 quanto em 2027”, diz.

PIB
PIB é a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil – Foto: Reprodução/Canva

Em 2023, a economia brasileira superou as previsões, registrando um crescimento de 2,9% e atingindo um valor total de R$ 10,9 trilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano anterior, a taxa de crescimento foi de 3%.

“Quanto à taxa de câmbio, o mercado projeta que o dólar feche 2024 cotado a R$ 5,33. Para 2025, a estimativa é de que a moeda norte-americana fique em torno de R$ 5,30”, aponta, com base no Focus.

Inflação

“No que se refere à inflação, a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, foi levemente ajustada para 2024, subindo de 4,25% para 4,26%. Para 2025, a projeção permanece em 3,92%, e para 2026 e 2027, as previsões são de 3,6% e 3,5%, respectivamente”, frisa

O acionamento da bandeira vermelha no sistema de cobrança da energia elétrica tem a tendência de pressionar a inflação, que apresenta altas nas últimas previsões.

Embora a expectativa para 2024 esteja acima da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ela ainda se mantém dentro do intervalo de tolerância, que é de 3%, com uma margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A partir de 2025, entra em vigor o sistema de meta contínua, com o centro da meta fixado em 3% e a mesma margem de tolerância.

“Em julho de 2024, o IPCA registrou uma alta de 0,38%, impulsionado principalmente pelos aumentos nos preços da gasolina, passagens aéreas e energia elétrica, acumulando uma inflação de 4,5% nos últimos 12 meses, no limite superior da meta”, destaca.

Taxa de Juros

“Para conter a inflação, o Banco Central utiliza a taxa Selic como principal ferramenta. Atualmente, a Selic está fixada em 10,5% ao ano, após ser mantida nesse patamar na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em julho, interrompendo um ciclo de sete reduções consecutivas iniciado em agosto de 2023”, explica. 

Juros
Inadimplencia é provocada muito por conta da alta taxa de juros – Foto: Reprodução/Canva

“Entre março de 2021 e agosto de 2022, o Copom aumentou a Selic em 12 ocasiões seguidas, em resposta à alta nos preços de alimentos, energia e combustíveis. Posteriormente, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por um ano, até agosto de 2023, quando o BC começou a cortar a taxa diante do controle da inflação”, relembra.

O especialista elenca que antes do ciclo de alta, a Selic chegou ao seu nível mais baixo da história, 2% ao ano, entre agosto de 2020 e março de 2021, como resposta à contração econômica causada pela pandemia de COVID-19.

E conclui: “o mercado financeiro projeta que a Selic encerrará 2024 no patamar atual, de 10,5% ao ano, caindo para 10% ao ano em 2025, 9,5% em 2026, e 9% em 2027. Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida e controlar a inflação, ao encarecer o crédito e estimular a poupança. No entanto, taxas de juros elevadas podem dificultar a expansão econômica. Por outro lado, uma Selic mais baixa tende a baratear o crédito, incentivando a produção e o consumo, mas pode reduzir o controle inflacionário.”

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