A economia brasileira enfrenta um cenário desafiador, com sinais de crescimento que se mostram insustentáveis e uma inflação que parece fora de controle. A análise é do economista Samuel Pessôa, que destacou, em entrevista ao programa WW, as razões que levaram o Banco Central (BC) a elevar a taxa Selic na última quarta-feira, 18 de setembro. Segundo Pessôa, o aumento dos juros é uma resposta necessária às pressões inflacionárias que persistem no país.
A decisão do Banco Central
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, aumentar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, levando a Selic para 10,75% ao ano. Este movimento marca a primeira alta desde agosto de 2022, quando a taxa havia sido fixada em 13,75%. A decisão foi motivada por uma série de fatores, incluindo a necessidade de controlar a inflação, que, segundo Pessôa, não apresenta sinais de queda.
“A inflação não dá sinais de controle e agora o Banco Central reconhece isso”, afirmou Pessôa, sublinhando que a taxa de juros que vinha sendo praticada não era suficiente para conter a alta dos preços. Apesar de ter registrado deflação em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresenta um panorama preocupante, com expectativas de alta que não devem diminuir tão cedo.
Pressões inflacionárias em destaque
O economista destacou que, mesmo após meses de taxas elevadas, a economia continua forte. Isso ocorre porque os efeitos das altas de juros demoram a se manifestar de maneira efetiva na atividade econômica. No entanto, segundo Pessôa, “já deu mais do que tempo para sentir efeito”. Ele ressaltou que a resiliência da alta dos preços de serviços e as políticas econômicas, tanto internas quanto externas, são fatores que contribuem para a pressão inflacionária.
Leia também: Gasolina: por que o preço oscila tanto no Brasil?
Os diretores do Banco Central também apontaram que a atividade econômica e o mercado de trabalho seguem aquecidos, o que tende a impulsionar ainda mais a inflação. Isso ocorre em um contexto onde o crescimento econômico se dá acima da capacidade produtiva do país.
Assimetria altista e hiato positivo
O Copom caracterizou a atual situação econômica como uma “assimetria altista” e um “hiato no campo positivo”. Para entender esses termos, Pessôa explica que há uma série de pressões que podem piorar a alta dos preços, uma delas sendo o crescimento econômico acelerado. “Um crescimento puxado pela demanda excedendo a oferta gera inflação. É a lei da oferta e da demanda”, conclui o economista.
Com a demanda superando a oferta, as importações estão crescendo de maneira significativa. Essa dinâmica faz com que o cenário inflacionário se agrave, uma vez que a alta demanda, sem a correspondente oferta, leva ao aumento dos preços.
O que podemos esperar do futuro da economia com esse crescimento?
Diante desse panorama, a preocupação com a inflação se torna um tema central nas discussões econômicas. O aumento da Selic é visto como uma tentativa de equilibrar o cenário, mas Pessôa alerta que a trajetória de alta dos preços pode continuar se as pressões não forem controladas. O cumprimento das metas fiscais será fundamental para que o Banco Central possa considerar uma eventual redução nas taxas de juros no futuro.
A elevação da Selic, por sua vez, pode ter impactos diretos sobre o consumo e o investimento. Taxas de juros mais altas tendem a desestimular a tomada de crédito, o que pode levar a uma desaceleração econômica. No entanto, essa desaceleração pode ser necessária para equilibrar a inflação e garantir uma trajetória de crescimento mais sustentável.
O papel das políticas econômicas
A análise de Pessôa levanta questões importantes sobre as políticas econômicas em vigor no Brasil. A combinação de crescimento econômico acelerado e altas taxas de inflação aponta para a necessidade de uma revisão nas estratégias adotadas. A promoção de um crescimento sustentável, que leve em consideração a capacidade produtiva do país, é essencial para evitar ciclos inflacionários prolongados.
Investidores e formuladores de políticas deverão ficar atentos aos próximos passos do Banco Central e às respostas do mercado às medidas implementadas. O sucesso em controlar a inflação será crucial para a manutenção da estabilidade econômica e para a confiança dos agentes econômicos.
O que é possível entender do cenário atual da economia?
O cenário econômico brasileiro atual é complexo, caracterizado por um crescimento insustentável e pressões inflacionárias que exigem uma resposta imediata do Banco Central. A decisão de aumentar a Selic é um reflexo da necessidade de controlar a inflação e estabilizar a economia. Com desafios pela frente, o futuro da economia brasileira dependerá da eficácia das políticas adotadas e da capacidade de equilibrar crescimento e controle inflacionário.