O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,75% ao ano, o que marca a primeira alta desde agosto de 2022. A decisão ocorreu em um contexto de incertezas econômicas e riscos inflacionários, contrastando com o movimento global de afrouxamento monetário.
Cenário nacional e internacional
Enquanto o Brasil optou por elevar sua taxa básica de juros, outros países como os Estados Unidos e o Reino Unido estão adotando políticas mais brandas. O Federal Reserve, por exemplo, reduziu sua taxa de juros em 0,5%, e o Banco da Inglaterra também sinalizou medidas de flexibilização. A decisão do Banco Central brasileiro, portanto, destaca uma estratégia de contenção inflacionária, visando manter a estabilidade econômica diante de uma inflação resiliente, especialmente no setor de serviços.
O aumento de 0,25 ponto percentual na Selic reflete a preocupação com a desancoragem das expectativas inflacionárias. Dados do relatório Focus apontavam que a inflação brasileira encerraria 2024 em 4,3%, bem acima da meta de 3% perseguida pelo BC. Com esse cenário, o aumento da Selic é visto como uma tentativa de ancorar as expectativas e controlar a alta dos preços.
O papel do Banco Central e o futuro da inflação com o aumento da Selic
O novo aumento da Selic ocorre num momento em que Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária, foi indicado para a presidência do Banco Central. Embora sua nomeação ainda dependa da aprovação do Senado, a mudança no comando da instituição adiciona uma camada de incerteza à política monetária do país.
O Copom manteve seu compromisso com a meta de inflação e sinalizou que novos aumentos nos juros poderão ocorrer, dependendo da evolução dos indicadores econômicos. A decisão de elevar a Selic para 10,75% não surpreendeu o mercado que já antecipava o movimento. O relatório Focus, divulgado semanalmente, indicava que os analistas esperavam um aumento de 0,25 ponto percentual, com a taxa básica alcançando 11,25% ao final de 2024.
No entanto, alguns economistas defendem que a alta nos juros poderia ter sido evitada. Esse grupo argumenta que a taxa de 10,5% já era suficiente para conter a inflação que tem mostrado sinais de arrefecimento. Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma leve deflação de 0,02%, e a inflação acumulada em 12 meses desacelerou para 4,24%.
Riscos e desafios à frente
O cenário inflacionário no Brasil continua a apresentar desafios. O Banco Central destacou que o aquecimento da economia, impulsionado pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), aumenta os riscos de pressões inflacionárias. O PIB brasileiro cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024, superando as expectativas do mercado que agora projeta um crescimento de 3% para o ano.
Entre os fatores que podem pressionar a inflação nos próximos meses estão a alta dos preços dos serviços e os riscos fiscais associados à política de gastos do governo federal. O Copom alertou para a importância de uma política fiscal crível e sustentável para ajudar a controlar a inflação e a reduzir os prêmios de risco sobre os ativos financeiros.
Por outro lado, a desaceleração da economia global e o impacto das políticas monetárias contracionistas em diversos países podem contribuir para a redução da inflação no Brasil. O Banco Central destacou que essas forças externas poderão aliviar as pressões sobre os preços e permitir uma normalização gradual da política monetária.
Como a nova alta da Selic poderá impactar o consumidor e as empresas
Com a nova alta da Selic, o crédito no país tende a ficar mais caro e afeta tanto os consumidores quanto as empresas. Juros mais altos encarecem o financiamento, desincentivando o consumo e o investimento. Essa política monetária restritiva busca frear a demanda e, assim, conter a inflação.
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Os setores mais sensíveis a essa mudança são os de construção civil, varejo e indústria, que dependem fortemente de crédito para suas operações. Com a Selic em 10,75%, o custo de captação de recursos aumenta, limitando a expansão dos negócios e o acesso ao crédito por parte dos consumidores.
Além disso, o aumento da Selic pode afetar o mercado de trabalho, já que a desaceleração econômica resultante de juros mais altos tende a reduzir a criação de empregos. Entretanto, o Banco Central considera essa medida necessária para evitar uma espiral inflacionária e manter a estabilidade econômica a longo prazo.
Perspectivas para 2024
Com as expectativas de que a Selic possa chegar a 11,25% até o final do ano, a política monetária brasileira continuará a ser desafiadora nos próximos meses. Gradualmente, o Banco Central mantém sua estratégia de elevar os juros ao monitorar a evolução da inflação e os impactos da política fiscal do governo federal.
Enquanto isso, os consumidores e as empresas deverão se ajustar a um cenário de crédito mais caro e crescimento econômico moderado. A inflação, embora controlada, ainda é uma preocupação central, e o Banco Central deverá continuar adotando medidas firmes para garantir o cumprimento de suas metas.
A decisão do Copom de retomar o ciclo de alta da Selic reflete a necessidade de combater a inflação persistente no Brasil, mesmo em um cenário global de afrouxamento monetário. A política de juros altos tem o objetivo de conter as pressões inflacionárias, mas impõe desafios significativos à economia, como o aumento do custo do crédito e a desaceleração do crescimento. Resta ver como o Banco Central ajustará sua estratégia nos próximos meses, à medida que novos dados econômicos forem divulgados.
O que é a Selic?
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia e a responsável por influenciar outras taxas de juros do país, como taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Além disso, é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação.