Os reajustes salariais têm sido uma boa notícia para trabalhadores brasileiros em 2024. Dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, em outubro, 70,2% dos 215 reajustes registrados pelo Ministério do Trabalho e Emprego superaram a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC-IBGE). Este resultado reforça uma tendência que vem se consolidando desde o início do ano.
A evolução dos reajustes salariais em 2024
Desde janeiro, mais de 80% dos reajustes salariais mensais trouxeram aumentos reais, ou seja, acima do índice inflacionário acumulado no período. Em outubro, o INPC acumulado em 12 meses ficou em 4,60%. Isso significa que a maioria dos trabalhadores teve um ganho efetivo no poder de compra, mesmo com a alta dos preços em diversos setores.
Os dados de outubro revelam uma divisão interessante entre os diferentes setores da economia. No setor de serviços, onde o salário médio é de R$ 1.605,00, 79,5% dos reajustes foram superiores à inflação. Já na indústria, que paga em média R$ 4.358,00, 86,8% dos acordos registraram ganhos acima do índice inflacionário. No caso dos trabalhadores do setor de serviços de alta renda, com salário médio de R$ 7.058,00, 86,4% dos reajustes também superaram a inflação.
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Por outro lado, os reajustes iguais ao INPC representaram 24,7% do total e se concentraram principalmente no setor metalúrgico de Minas Gerais. Apenas 5,1% dos acordos ficaram abaixo da inflação, resultando em perda do poder de compra para esses trabalhadores.
Impactos dos reajustes no poder de compra
Com a inflação relativamente controlada, os reajustes salariais têm um impacto direto na recuperação do poder de compra das famílias. Para os trabalhadores do setor de serviços com salários mais baixos, por exemplo, um reajuste acima da inflação pode significar maior capacidade de consumo para itens essenciais, como alimentação e transporte.
Na indústria, onde os salários médios são mais elevados, o aumento real permite não apenas o consumo de bens essenciais, mas também a possibilidade de poupança ou investimentos em educação e qualificação profissional. Já para os profissionais com salários acima da média no setor de serviços, os ganhos podem impulsionar investimentos em áreas como habitação, lazer e até mesmo em produtos financeiros.
Por que a maioria dos reajustes superou a inflação em 2024?
Vários fatores ajudam a explicar o elevado percentual de reajustes com ganho real. O crescimento econômico moderado, aliado à redução das taxas de inflação em relação a anos anteriores, criou um ambiente mais favorável para negociações trabalhistas. Além disso, sindicatos em setores mais organizados, como o industrial, conseguiram pressionar empregadores para alcançar melhores condições salariais.
Outro fator relevante é a recuperação do mercado de trabalho. Com a redução da taxa de desemprego e o aumento na demanda por mão de obra em algumas áreas, empresas se viram obrigadas a oferecer reajustes mais atrativos para reter talentos.
O desafio das perdas salariais
Embora o cenário seja amplamente positivo, os 5,1% de reajustes abaixo da inflação não devem ser ignorados. Esses casos representam perda no poder de compra, especialmente para trabalhadores de empresas com menor capacidade de negociação ou em setores menos organizados.
Para esses trabalhadores, o impacto é mais severo, já que itens básicos, como alimentação e habitação, continuam a pesar no orçamento familiar. O desafio para o futuro é reduzir ainda mais essa parcela de reajustes abaixo da inflação, garantindo maior equilíbrio no mercado de trabalho.
Perspectivas para 2025
Com a inflação sob controle e a economia brasileira dando sinais de estabilização, as perspectivas para 2025 são otimistas. No entanto, o comportamento das taxas de juros e o cenário macroeconômico global ainda são fatores de incerteza que podem impactar as negociações salariais.
A expectativa é que setores como tecnologia e serviços de alta qualificação continuem liderando os ganhos salariais, enquanto áreas com menor margem de lucro podem enfrentar mais dificuldades para conceder reajustes acima da inflação.
Os reajustes salariais de 2024 representam um alívio para os trabalhadores brasileiros, mostrando que é possível combinar crescimento econômico com ganhos reais no mercado de trabalho. Contudo, a parcela de acordos abaixo da inflação evidencia que ainda há desafios a serem enfrentados para garantir maior equidade. O ano de 2025 traz esperança de mais avanços, mas exige atenção constante à evolução do mercado e à política econômica.