O Banco Central (BC) admitiu em ata nesta terça-feira, 4 de fevereiro, que a inflação deve estourar a meta. Além disso, o BC também analisou o aumento significativo do preço dos alimentos e, segundo o órgão, esse aumento deve se propagar durante os próximos meses.
Essa foi a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, comandada pelo novo presidente do BC, Gabriel Galípolo ─ indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entenda o novo estouro da meta de inflação
De acordo com o Banco Central, se as projeções do mercado financeiro se concretizarem, a inflação acumulada nos doze meses estará acima do limite superior da meta.
Isso porque, segundo o sistema de meta contínua definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o objetivo é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, para cima ou para baixo ─ com limite inferior de 1,5% e limite superior de 4,5%.
De acordo com o sistema de meta contínua, caso a inflação fique de fora do intervalo de tolerância definido por seis meses consecutivos, a meta é descumprida. Nesse sentido, se durante os seis meses iniciais do ano, a inflação estiver fora do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (inferior a 1,5% e superior a 4,5%), a meta será considerada como descumprida no mês de junho.
“Foi destacado, na análise de curto prazo, que, em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos. Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, afirmou o BC.
Copom também trouxe críticas à política das contas públicas
O Comitê teceu críticas à política para as contas públicas, conduzida pelos Ministérios da Fazenda e do Planejamento: “No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, afirmou o BC na ata da reunião.
Para o Copom “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.
Como os juros são definidos?
A taxa básica de juros da economia, também conhecida como taxa Selic, é o principal instrumento do Banco Central em uma tentativa de conter as pressões da inflação na economia brasileira.
Para a definição das taxas de juros, o BC atua baseando-se no sistema de metas. Portanto, se as projeções estiverem de acordo com as metas, os juros podem ser abaixados. Se estão acima, a tendência é manter ou subir a Selic.
Com o início do sistema de meta continua, a partir de janeiro de 2025, a meta da inflação é de 3% ─ podendo oscilar entre 1,5% e 4,5%. Nesse contexto, a definição da taxa de juros baseia-se nas projeções da inflação, uma vez que as mudanças na taxa demoram de seis a 18 meses para terem efeitos na economia.
Por exemplo, no atual momento, o BC está considerando também o primeiro semestre do ano de 2026.
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Qual a projeção da inflação para os próximos anos?
De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, na segunda-feira, 3 de fevereiro, para 2025, a previsão é de que a inflação chegue a 5,51%, acima da meta.
Para o ano de 2026, a previsão é de que a inflação atinja 4,28. Em 2027 e 2028, o mercado prevê inflação de 3,90% e 3,74%, respectivamente.