África do Sul: uma economia que atrai turistas e investimentos | #SemFronteiras 

Ao caminhar pelas ruas da Cidade do Cabo, na África do Sul, e conversar com as pessoas, é possível perceber que grande parte das conversas começa com a pergunta: “where are you from?” – algo como “de onde você é?” no bom português.

Isso acontece porque nas últimas décadas a cidade se tornou um polo cosmopolita e é fácil encontrar pessoas de todos os cantos da África e também aqueles que vieram de outros continentes. Desde pessoas que estão a passeio, até aqueles que decidiram ficar e morar no país. Os investimentos também seguem em ascensão, com novas empresas chegando e relações comerciais esquentando.

Para se ter uma ideia, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), a corrente de comércio entre Brasil e África do Sul em 2023 foi de US$ 2,2 bilhões, com exportações brasileiras na ordem de US$ 1,6 bilhão. Em agosto de 2024, a Corporação Financeira Internacional (International Finance Corporation – IFC) anunciou investimentos de 150 milhões de dólares na Cidade do Cabo, que fazem parte de um plano municipal de 10 anos para a capital.

A medida vem de frente com a previsão de que nos próximos anos Cape Town (Cidade do Cabo) tende a se tornar a cidade mais populosa do país. No anúncio, os executivos afirmaram que a ideia é investir em transporte público, saneamento básico e infraestrutura, priorizando áreas mais vulneráveis. 

Um polo cosmopolita

A primeira característica que possibilita a transformação da África do Sul em um polo cosmopolita é o fato do inglês ser uma das 11 línguas oficiais do país. Quando os locais conversam entre si, é comum ouvir línguas como o zulu ou o xhosa, mas eles provavelmente falam inglês também.

Enquanto estive na cidade, conheci muitos jovens da Arábia Saudita, que me contaram que tem sido cada vez mais comum que as famílias ricas do país enviem seus filhos para períodos de intercâmbio na África do Sul para desenvolverem seu inglês. Eles acabam optando pelo país porque lá existe também uma forte influência muçulmana, com mesquitas espalhadas pela cidade.

O instagramável bairro Bo Kaap, com suas famosas casinhas coloridas, é conhecido por ter uma grande comunidade muçulmana, por exemplo. Outro motivo que atrai tanto os árabes, quanto visitantes de outros países do mundo é o câmbio. Um Rand, moeda sul-africana, estava cotado em três reais no final de dezembro de 2024. Isso faz com que o custo de vida para brasileiros no país não seja muito alto. Por mais que em comparação a moedas como o dólar e o euro, o real esteja enfraquecido, na África do Sul nossa moeda vai bem. E se o real tem um bom poder de compra no país, imagina as moedas mais fortes.

Cidade do Cabo na África do Sul: polo turístico e econômico.
Bo Kaap é um bairro repleto de casas coloridas e povoado principalmente por muçulmanos | Foto: Nathan Farias

Heranças do Apartheid

Além do inglês, zulu e xhosa, entre os sul-africanos há ainda os que falam africâner, ou africans. Mas essa é uma língua derivada do holandês e muito ligada ao período do Apartheid, portanto os que são fluentes na língua, em sua grande maioria, são brancos. Tive a oportunidade de conversar com Tee Jay, motorista de Uber que trabalha também como encanador e que me levou até o Cabo da Boa Esperança quando fui produzir algumas imagens para o #SemFronteiras.

África do Sul: economia que atrai turistas e investimentos
Tee Jay foi só mais uma das tantas pessoas incríveis que conheci na Cidade do Cabo. Era pra ser só uma viagem de Uber e acabou me dando uma aula sobre a cultural local | Foto: Nathan Farias

Ele, que é nascido e criado na África do Sul, me contou que fala quatro línguas, mas que se recusa a aprender africâner porque acredita que é um idioma que carrega um peso do período do Apartheid. Durante boa parte do século passado, os brancos na África do Sul ensinavam africâner para as crianças – desde que elas fossem brancas, é claro. Essa era também uma forma de segregação racial por meio da comunicação e da linguagem. 

Em 2024, é celebrado 30 anos do fim do Apartheid, regime de segregação racial que vigorou no país de 1948 a 1994. Apesar disso, os rastros do período ainda são perceptíveis, principalmente na distribuição dos bairros. Ao se locomover pelas regiões mais ricas da cidade, é possível ver muitos guindastes construindo casas e prédios. Bairros como Clifton, ou o Sea Point, com uma bela orla em torno do mar costuma ter pessoas correndo e praticando exercícios, está em claro crescimento com obras para todo lado.

Mas não precisa caminhar muito para perceber que a grande maioria dos moradores do bairro são brancos. O próprio bairro de Bo Kaap, que citei antes, é uma herança do Apartheid, quando a elite branca designou a região para que muçulmanos vivessem. E enquanto o Sea Point não para de crescer, em Bo Kaap a sensação é de estagnação, com uma grande quantidade de pessoas em situação de rua, inclusive crianças.

People of hope | Povo de esperança!

Os investimentos na Cidade do Cabo e a onda de turismo podem fazer com que essa realidade mude nos próximos anos. Ao conversar com moradores locais, muitos se mostram otimistas, visto que já sentiram um forte progresso nos últimos anos.

No dia 1 de dezembro estive presente em um dos eventos mais importantes da cidade, o festival Lights Switch-On, em que é celebrado o início do verão e se acendem as luzes de natal na cidade. Em seu pronunciamento, o prefeito Geordin Hill-Lewis puxou gritos após dizer que Cape Town é a melhor cidade do mundo. Ele ainda se referiu ao povo da cidade como “people of hope”, algo como “povo de esperança”, em referência ao Cabo da Boa Esperança.

Bom, se depender do povo da cidade, a esperança em dias melhores segue mais viva que nunca.

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