O Brasil está, pela primeira vez, entre os países participantes do International Early Learning and Child Well-Being Study (IELS), um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Este levantamento internacional visa compreender o desenvolvimento de crianças de 5 anos em áreas fundamentais, como linguagem, raciocínio matemático, autorregulação e habilidades socioemocionais. Além de fornecer dados valiosos para a criação de políticas públicas, o estudo pode orientar o país a desenvolver ações que reduzam desigualdades na educação desde os primeiros anos de vida.
Importância do estudo para o Brasil
A participação do Brasil no IELS é uma novidade que carrega um grande potencial de impacto. Segundo Andreas Schleicher, diretor de Educação e Competências da OCDE, o estudo é essencial para entender como as primeiras experiências e habilidades adquiridas na infância moldam o futuro das crianças. Ele acredita que o Brasil poderá, a partir dos resultados, adaptar políticas para aprimorar a educação infantil, especialmente em áreas como alfabetização, habilidades matemáticas e empatia.
Essa iniciativa se destaca ainda mais ao considerar as particularidades do país em termos de desigualdade social. Segundo a CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz, o estudo será fundamental para que o Brasil trace estratégias voltadas para a redução das desigualdades educacionais. A presença na pré-escola, explica, é um fator de proteção para crianças em situações de vulnerabilidade e pode impactar positivamente a trajetória educacional dessas crianças, promovendo melhores resultados ao longo da vida escolar.
A primeira infância e o desenvolvimento de habilidades essenciais
O IELS avaliará crianças em áreas centrais para o desenvolvimento humano, e o Brasil será o único país do Hemisfério Sul a participar desta segunda edição do estudo. Entre os países que também participam estão Holanda, Inglaterra, Estônia, Azerbaijão, Emirados Árabes, Singapura, Bélgica e República Checa. A primeira edição do IELS, realizada em 2018, teve a participação de Estados Unidos, Reino Unido e Estônia.
As habilidades avaliadas foram escolhidas pela OCDE por seu impacto no aprendizado ao longo da vida. Estudos mostram que crianças que frequentam a pré-escola têm maior desenvolvimento cognitivo e socioemocional. A avaliação do IELS, ao identificar esses fatores, oferece um olhar detalhado sobre quais competências precisam de estímulo adicional para que as crianças possam, no futuro, desempenhar bem em áreas complexas da sociedade.
O processo de aplicação do estudo no Brasil
A fase preliminar do estudo foi realizada em maio de 2024, envolvendo cerca de 350 crianças de 30 escolas nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. No próximo ano, o estudo será expandido para 250 escolas de 100 cidades, com uma amostra total de aproximadamente 3 mil crianças de 5 anos de idade.
Para realizar essa avaliação, a OCDE conta com a parceria da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que promove o desenvolvimento da primeira infância no Brasil. A aplicação do estudo no país será coordenada pelos pesquisadores Mariane Koslinski e Tiago Bartholo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A metodologia utilizada para a coleta de dados é inovadora: as crianças participam de atividades interativas, como brincadeiras e histórias, mediadas por tablets e acompanhadas por pesquisadores. Esse formato lúdico foi escolhido para manter o interesse das crianças e garantir uma experiência agradável durante a avaliação.
Além das crianças, o estudo também envolve a participação das famílias e dos profissionais de educação infantil, que respondem a questionários sobre o desenvolvimento e as necessidades das crianças. Assim, o IELS reúne uma visão ampla e detalhada da realidade da educação infantil, contemplando desde o ambiente familiar até o educacional.
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Investimento e apoio para a execução do estudo
O investimento total para a aplicação completa do IELS no Brasil é estimado em R$ 13 milhões. O estudo é financiado por diversas instituições, incluindo o Serviço Social da Indústria (Sesi), B3 Social, Fundação Itaú Social, Fundação Lemann e Fundação Lia Maria Aguiar. Segundo o diretor superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi, o estudo é o primeiro em larga escala focado no desenvolvimento infantil e representa uma oportunidade valiosa para o Brasil ampliar sua compreensão sobre a primeira infância.
Esses dados e análises não só apoiarão a criação de políticas voltadas à primeira infância, mas também permitirão ao Brasil se comparar com outros países. Esse tipo de estudo comparativo é fundamental para que o país identifique fatores que ajudam ou dificultam a aprendizagem das crianças, permitindo a adoção de práticas que já se mostraram eficazes em outros contextos.
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Benefícios esperados e o impacto a longo prazo
Com os resultados do IELS, previstos para março de 2026, o Brasil poderá ter um panorama mais completo e detalhado sobre as necessidades e desafios da educação infantil. Esse conhecimento oferece uma oportunidade única para o país repensar suas políticas públicas na área de educação infantil e investir na formação das crianças desde a pré-escola.
Especialistas defendem que um foco maior na educação infantil é essencial para a redução da desigualdade social no Brasil. A educação de qualidade nos primeiros anos tem efeitos duradouros e contribui para que as crianças possam desenvolver todo o seu potencial, independentemente de suas condições socioeconômicas. Isso pode, inclusive, impactar na redução de custos futuros com saúde e segurança, ao formar cidadãos mais preparados para a convivência em sociedade.
A expectativa é que, ao longo do tempo, o Brasil possa utilizar esses dados para criar um sistema educacional mais inclusivo e eficiente, que responda às necessidades de todas as crianças e ofereça oportunidades iguais de desenvolvimento.
A entrada do Brasil no estudo IELS representa um marco importante para o desenvolvimento da educação infantil no país. Ao participar dessa pesquisa internacional, o Brasil não apenas fortalece seu compromisso com a educação, mas também se posiciona entre os países que buscam entender e melhorar o futuro das novas gerações. Esse é um passo relevante na busca por um sistema educacional mais justo, capaz de garantir um desenvolvimento pleno e igualitário para todas as crianças.