ONS é autorizado a realizar leilões para redução de consumo industrial

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta terça-feira, 10 de setembro, a realização de leilões que permitirão ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) contratar reduções temporárias de consumo de energia por parte da grande indústria. Esse novo recurso será testado no Brasil ainda este ano, a fim de ser uma estratégia para otimizar a gestão do sistema elétrico e evitar o acionamento excessivo de termelétricas, especialmente em períodos críticos.

O que são os leilões de redução de consumo?

Os leilões autorizados pela Aneel fazem parte de um aprimoramento do programa de Resposta da Demanda existente no Brasil desde 2018. O objetivo desse programa é incentivar grandes consumidores industriais a reduzir temporariamente o consumo de energia durante os horários de pico, em troca de remuneração. O diferencial desta nova etapa é que os leilões permitirão a contratação dessa redução por prazos mais longos, trazendo mais previsibilidade e eficiência na gestão do consumo energético.

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Hoje, a Resposta da Demanda é utilizada em caráter de curto prazo, com as indústrias oferecendo, voluntariamente, a redução do consumo para o dia seguinte. Com o novo modelo de leilões, o ONS poderá contratar a disponibilidade dessa redução por períodos mais extensos e conta com contratos de até um ano. Esse recurso permite que o sistema elétrico acione essas empresas quando houver necessidade, como uma alternativa ao uso de termelétricas, pois possuem custos elevados de operação.

Redução de consumo x acionamento de termelétricas

A contratação de reduções de consumo tem se mostrado uma alternativa mais econômica do que o acionamento das termelétricas, principalmente durante os meses em que os reservatórios das hidrelétricas estão em baixa. O Brasil depende fortemente de hidrelétricas para sua matriz energética, mas em períodos de seca, como o atual, a oferta de energia diminui e o uso de usinas térmicas acaba sendo uma solução necessária, porém cara e menos sustentável.

Com a possibilidade de contratar a redução de consumo de grandes indústrias, o ONS busca uma alternativa que seja mais vantajosa financeiramente e também mais sustentável, já que a geração térmica tem maior impacto ambiental. As indústrias envolvidas no programa, como Braskem, CSN e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), serão recompensadas pela redução voluntária do consumo, criando um ciclo positivo para o sistema elétrico.

Como funcionarão os leilões?

O ONS já tem a previsão de realizar o primeiro leilão em outubro de 2024, com contratos de quatro meses de duração, cobrindo o período mais crítico do ano em termos de demanda energética. Nesses leilões, as indústrias interessadas farão ofertas de preço e disponibilidade para a redução de demanda, com períodos de quatro horas de duração.

Cada oferta terá um limite mínimo de 5 megawatts (MW) e máximo de 100 MW de redução. As empresas serão remuneradas de forma fixa pela sua disponibilidade, podendo ser acionadas até quatro vezes por mês. Além disso, caso a redução seja efetivada, as indústrias receberão uma receita variável baseada no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), cálculo referente ao mercado de energia elétrica.

A importância do programa Resposta da Demanda

O programa de Resposta da Demanda já mostrou ser uma ferramenta eficaz para a gestão energética no Brasil, especialmente nos meses de julho e agosto de 2024, quando foi mobilizado em mais de 20 dias para equilibrar a oferta e demanda de energia.

O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, destacou a importância desse mecanismo para enfrentar os desafios do setor elétrico, sobretudo nos horários de pico de consumo, quando a oferta de energia é mais limitada.

Feitosa afirmou que o programa é uma medida eficiente para garantir o atendimento durante os momentos de maior demanda, como o fim da tarde, quando as usinas solares deixam de gerar energia e a demanda por eletricidade atinge seu pico. O uso desse recurso ajuda a evitar a necessidade de acionamento de termelétricas, fonte de energia que têm custos altos e são menos sustentáveis.

A importância do programa para o setor industrial

O programa de leilões de redução de consumo também é vantajoso para a grande indústria porque poderá obter remuneração adicional por disponibilizar a redução de demanda durante os períodos críticos do sistema elétrico. Empresas que consomem grandes volumes de energia, como as já mencionadas Braskem, CSN e CBA, terão a oportunidade de contribuir para o equilíbrio do sistema, ao mesmo tempo em que garantem um retorno financeiro por essa participação.

Essa medida também estimula a competitividade no setor industrial, permitindo que empresas que tenham maior flexibilidade em sua produção possam se beneficiar da participação no programa. A possibilidade de reduzir o consumo em horários de pico, sem comprometer suas operações, pode se transformar em uma estratégia de otimização de recursos.

Futuro dos leilões de demanda

Embora o programa de leilões de resposta da demanda ainda esteja em fase experimental, com previsões de que os certames possam ser realizados até 2026, sua implementação já desperta interesse em diversos setores da indústria. A expectativa é que o programa se consolide como uma ferramenta regular de gestão de consumo energético, trazendo benefícios tanto para o setor elétrico quanto para a indústria nacional.

Além disso, o sucesso dessa iniciativa pode incentivar o desenvolvimento de novas soluções no campo da eficiência energética, com mais empresas adotando práticas de redução voluntária de consumo e contribuindo para um sistema elétrico mais equilibrado e sustentável.

Em um cenário de crescente demanda por eletricidade e desafios relacionados à oferta, programas como o de Resposta da Demanda e os leilões de redução de consumo são peças-chave para garantir a segurança energética do Brasil nos próximos anos.

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