Inclusão e sustentabilidade: uma agenda interseccional

Os desafios da sustentabilidade no Brasil não podem ser tratados de forma isolada, especialmente quando se considera a necessidade de inclusão das pautas de diversidade. Esta é a convicção de Raquel Zagui, nova diretora global de Diversidade, Equidade e Inclusão da Heineken, que em uma recente entrevista, ressaltou como as questões ambientais impactam desproporcionalmente os grupos minoritários, como mulheres e pessoas negras. Segundo Zagui, “não dá para crescer nesses temas, se não começarmos a incluir também os grupos minorizados”.

Raquel Zagui é diretora global de Diversidade, Equidade e Inclusão da Heineken Foto: Edna Marcelino/Heineken
Raquel Zagui é diretora global de Diversidade, Equidade e Inclusão da Heineken | Foto: Reprodução/Edna Marcelino/Heineken

Interseccionalidade entre diversidade e sustentabilidade

Raquel enfatiza que a agenda de diversidade deve ser uma parte integrante das discussões sobre sustentabilidade. Ela observa que os impactos ambientais, como enchentes e mudanças climáticas, têm efeitos mais severos sobre comunidades vulneráveis, o que exige uma conexão entre as áreas. Para a executiva, a pauta de diversidade não deve ser apenas uma linha em uma agenda, mas uma questão interseccional que permeia todas as conversas sobre sustentabilidade.

“A pauta de diversidade não precisa ser uma linha na agenda. Ela é interseccional, e eu não vejo como separar as conversas”, afirma.

Para que a sustentabilidade seja efetiva é fundamental incluir e considerar as necessidades de grupos historicamente marginalizados.

Leia também: A importância da inclusão produtiva para geração de renda sustentável

A polarização política e seus efeitos

Raquel aponta que a “polarização política” no Brasil tem feito com que algumas empresas diminuam seus investimentos em programas de diversidade. A executiva observa que há um medo crescente de se posicionar sobre temas sociais, levando empresas a se afastarem das discussões que, em sua essência, deveriam ser parte da busca por uma sociedade mais igualitária.

“Acho que as pessoas estão com mais medo de falar. Infelizmente, está virando uma coisa cada vez mais polarizada”, diz. Segundo Raquel, essa polarização faz com que a inclusão de temas como igualdade de gênero e diversidade seja vista como um posicionamento político, quando, na verdade, são questões sociais fundamentais que deveriam estar no centro das discussões corporativas.

A visão da Heineken e o futuro da diversidade

Com sete anos de experiência na Heineken como vice-presidente de Pessoas, Raquel iniciou este mês sua nova função como diretora global de diversidade. Seu principal objetivo é ampliar a diversidade de gênero na empresa, seguindo o exemplo da subsidiária brasileira, que estabeleceu a meta de ter 50% de mulheres em posições de liderança até 2026. Atualmente, esse percentual já é de 42%.

Raquel ressalta que o cenário global apresenta desafios, como o esfriamento das pautas de diversidade e a queda de investimentos em práticas inclusivas. Ela acredita que, apesar das dificuldades, a Heineken continuará comprometida com a diversidade. “Para a Heineken, isso nunca foi um tema político, nem para um lado, nem para o outro”, explica.

Conexão entre bem-estar e sustentabilidade

Sob sua liderança, a Heineken também criou a diretoria de Felicidade, que visa promover o bem-estar dos colaboradores, um aspecto que Raquel considera essencial para o sucesso sustentável da empresa. Ela acredita que a cultura de bem-estar e pertencimento está intrinsecamente ligada às práticas de sustentabilidade.

“A gente queria avançar de uma agenda só de clima e começar a falar um pouco mais do cuidado do indivíduo”, comenta Raquel. Para ela, a interconexão entre as pautas de diversidade e sustentabilidade é fundamental para criar um futuro mais justo e sustentável.

Desafios no mercado de trabalho e no consumo

Raquel reconhece que o setor cervejeiro é predominantemente masculino e que existem barreiras significativas para a promoção de mulheres, especialmente em áreas como vendas e produção. Ela observa que, embora haja um número crescente de mulheres qualificadas, a mobilidade muitas vezes é uma barreira. “Para a mulher crescer, pode ter que se mudar de um Estado ou mudar de unidade fabril”, explica.

Além disso, Raquel fala sobre a importância de aproximar as mulheres como consumidoras nesse mercado. Apesar de um passado que restringia a participação feminina, ela acredita que as mudanças culturais estão acontecendo, embora de forma lenta.

O caminho à frente

A visão de Raquel Zagui para o futuro da diversidade e sustentabilidade na Heineken é clara: um trabalho de transformação que demanda paciência e comprometimento. “Acho que quem entra nessa pauta tem que entrar de coração, porque ela é uma pauta de transformação. Não vou ver o fim do meu trabalho, mas vou ver o progresso”, conclui.

Em um momento em que a agenda verde ganha destaque, Raquel reafirma que não há espaço para ver a diversidade como uma questão separada. Ambas as pautas devem caminhar juntas para que se possa construir uma sociedade mais inclusiva e sustentável.

Com essa abordagem interseccional, Raquel Zagui se prepara para liderar não apenas uma mudança dentro da Heineken, mas também inspirar outras empresas a unirem diversidade e sustentabilidade em suas estratégias, assegurando que os grupos minorizados não fiquem à margem dos benefícios da economia verde.

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