Mulheres de diversas partes do Brasil se reuniram na última terça-feira (1º de outubro) no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para a Cúpula Final do W20, o grupo de engajamento de mulheres dentro do G20. Esse encontro foi o ponto culminante de uma série de debates intitulada Diálogos Nacionais que percorreu várias regiões do país de março a agosto. A iniciativa foi criada para ouvir mulheres brasileiras e discutir temas prioritários para o W20, como igualdade de gênero, empoderamento econômico, combate à violência contra as mulheres e justiça climática.
O papel do W20 no G20 Social
O W20 é um dos grupos de engajamento do G20 Social, focado em questões que impactam diretamente as mulheres. Ele tem como missão influenciar as políticas globais por meio de recomendações que promovam a igualdade de gênero, o empoderamento feminino e a inclusão social. As discussões e proposições do W20 foram feitas com base nas vozes de milhares de mulheres que participaram dos Diálogos Nacionais, permitindo a construção de uma pauta abrangente e inclusiva para a agenda global.
Entre os principais tópicos debatidos durante os encontros estão o empreendedorismo feminino, a violência de gênero, o desenvolvimento sustentável e a justiça climática, assuntos que afetam diretamente a vida das mulheres em todo o mundo. A cúpula também destacou a urgência de fortalecer a inclusão social de mulheres afrodescendentes e indígenas, as mulheres que enfrentam desafios específicos e agravados pela interseção de raça e gênero.
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O chamado por ação
Ana Fontes, presidente do W20, destacou que é hora de as mulheres serem ouvidas de forma concreta e eficaz. “De uma vez por todas nós queremos que nossas vozes sejam ouvidas. Estamos cansadas de falar, queremos ação. Queremos que os líderes do G20, definitivamente, ouçam as nossas vozes e incorporem as nossas pautas”, declarou Fontes durante a cúpula.
O discurso de Fontes reflete o sentimento de frustração de muitas mulheres que, por décadas, têm lutado por mudanças significativas em relação à igualdade de gênero. No entanto, apesar de alguns avanços, ainda há muito a ser feito para que essa igualdade seja verdadeiramente alcançada. A presidente do W20 também frisou a importância de criar uma sociedade mais justa e inclusiva para todas as mulheres e meninas, um desejo que, segundo ela, move as mulheres a continuarem lutando juntas.
Desigualdade racial no Brasil
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também participou das discussões e destacou as disparidades socioeconômicas que afetam principalmente as mulheres negras no Brasil. Segundo Franco, a desigualdade racial e de gênero é profunda e persistente no país. “As mulheres negras recebem 47% menos do que a média nacional. As jovens negras têm três vezes mais chance de estarem em situação de desemprego, se comparado a pessoas brancas”, afirmou a ministra.
Além disso, a ministra trouxe à tona dados alarmantes sobre a violência contra mulheres negras. De acordo com o Atlas da Violência de 2022, foram registrados 4.670 homicídios de mulheres no Brasil, sendo 67% dessas vítimas mulheres negras. Esses números ressaltam a necessidade urgente de políticas públicas voltadas especificamente para a proteção e o empoderamento das mulheres negras no país.
Recomendações finais
Ao término da Cúpula Final, o W20 divulgou um documento de recomendações direcionado aos líderes do G20. Entre as principais propostas estão a implementação de ações concretas para o empoderamento econômico das mulheres, a eliminação das barreiras à igualdade de gênero e o combate à violência de gênero. O documento também pede a criação de políticas que considerem as necessidades e desafios específicos de mulheres afrodescendentes e indígenas, grupos que enfrentam múltiplas formas de discriminação e exclusão social.
O W20 reforçou que a igualdade de gênero não é apenas uma questão social, mas também econômica. A participação ativa das mulheres na economia global pode gerar crescimento econômico sustentável, promover a inovação e reduzir as desigualdades. Nesse sentido, o empoderamento econômico feminino e o apoio ao empreendedorismo são ferramentas fundamentais para a transformação das sociedades.
Próximos passos
A Cúpula Final do W20 foi apenas o começo de um esforço contínuo para garantir que as recomendações sejam implementadas pelos líderes globais. A expectativa é que o documento seja discutido durante a próxima reunião de cúpula do G20, onde os principais líderes mundiais poderão incorporar essas diretrizes em suas agendas políticas e econômicas.
A presidente do W20, Ana Fontes, ressaltou que a luta pela igualdade de gênero deve continuar, e que as mulheres devem ser agentes ativas na promoção dessas mudanças. Ela concluiu seu discurso na cúpula com um apelo: “Queremos que os líderes do G20 ajam agora, porque não podemos mais esperar. O futuro de nossas filhas e das próximas gerações depende do que fizermos hoje.”
A Cúpula Final do W20 e os debates dos Diálogos Nacionais destacam a importância de ouvir as vozes das mulheres e garantir que suas pautas sejam incluídas na agenda global. As recomendações apresentadas pelo W20 são essenciais para enfrentar os desafios persistentes relacionados à desigualdade de gênero e racial, e para construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todas as mulheres, independentemente de sua raça ou origem social.