G20 no Brasil: será a retomada do Rio?

Há uma década, o Rio de Janeiro, como vanguarda do que poderia ser o Brasil, figurava nos tabloides como a “sensação”. Pudera: a capital fluminense, cartão-postal do país, havia conquistado, de uma só vez, a Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude de 2013 e a Copa das Confederações de 2013, além de realizar, em pouco tempo, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A cidade tinha tudo, e até o Cristo Redentor “voava” como foguete na capa da The Economist.

Mas as ondas no balneário foram maiores, e o que se viu já virou história: crise institucional, política, econômica e pandêmica, seguida pelo retorno de Eduardo Paes ao cargo de prefeito. A situação, após a avalanche, não melhorou, mas, entre trancos e barrancos, a ponta do nariz já começa a surgir para quem observa da superfície.

Analisar o Brasil sob a ótica do Rio de Janeiro não é bairrismo; afinal, a capital carioca representa, para o bem e para o mal, a realidade do país. Quem valida essa perspectiva é o economista ítalo-carioca André Urani, falecido em 2011, que dizia que, ‘’aqui’’, referindo-se à cidade, ‘’se concentram a dor e, possivelmente, a resistência às mudanças. Porque aqui vivemos as consequências dessa desigualdade virulenta e desvairada, num contexto de estagnação econômica, imobilidade social e aumento do desemprego’’

Ainda que atual, o fragmento acima foi escrito em 2008, no livro Trilhas para o Rio. Nele, Urani falava não sobre boas opções de trilhas a serem descortinadas em cima dos principais problemas da metrópole, com soluções viáveis para o fim da letargia fluminense. 

Econômica e politicamente em fase de maturação – antes em devastação – tanto a cidade quanto o estado transformaram-se em palco do que, em âmbito nacional, pode acometer toda a população sobre o pior.

Quase dois anos após a maior crise sanitária do século e a mudança de gestão da capital, recaíram e até se multiplicaram, sobre o colo de Paes, os dilemas que já coabitavam a capital durante a primeira fase de sua gestão. E já não eram poucos os abacaxis naquela época, e que com muito esforço, vem sendo realinhado (ou simplesmente tentado). 

Imagem da cidade do Rio de Janeiro se preparando para o G20
A cúpula do G20 Rio de Janeiro 2024 será a décima nona reunião do Grupo dos Vinte | Foto: Reprodução/Marcos de Paula/Prefeitura do Rio

Lendo recentemente o livro Rio por Inteiro, do estudioso orgânico Henrique Silveira, repenso os caminhos que passamos e precisamos passar. Henrique é cria da Baixada Fluminense, diretamente de Imbariê, Duque de Caxias. Conhece, como poucos, a realidade precária dos serviços públicos. Mas, ao se tornar um geógrafo dedicado a resolver os desafios da metrópole do Rio de Janeiro, juntou seu time, ao lado de Vitor Mihessen, Larissa Amorim e mais uma turma, na proposição da Casa Fluminense.

Do livro, é possível entender o que nos falta e aquilo que nos sobra enquanto projeto viável – e possível – de megalópole, a partir de eixos fundamentais, como mobilidade, saneamento básico, habitação, gestão e participação social. É uma análise cristalina, dedicada à construção de políticas públicas para pôr, no chão, as desigualdades que nos assolam.

Vendo e revendo tudo o que já foi ao menos implementado à solução, as batalhas não se esgotam. Em poucos dias, a cidade volta a ganhar status de “casa” do mundo, com a realização do G20, momento em que chefes de Estado e de Governo aprovarão acordos negociados ao longo do ano, além de apontar caminhos para lidar com os desafios globais. Ao todo, lideranças de 19 países membros, mais a União Africana e a União Europeia, desembarcam por aqui. 

Aproveitar o período pode ser bom se analisado com vontade. É preciso refundar os pactos e até renová-los, com a ajuda de todos no arregaçar das mangas. E quem sabe, influenciar toda a cadeira nacional. 

E por quê? Como diria Urani, “é o Rio, ora bolas!”.

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