A economia da periferia sempre existiu. Ela pulsa, gira, se reinventa. Mas, por muito tempo, foi invisibilizada. Enquanto grandes economistas discutem teorias sobre crescimento e desenvolvimento, as quebradas do Brasil já entenderam, na prática, o que é resiliência, inovação e colaboração. No entanto, quando falamos de economia, os holofotes ainda estão voltados para os centros financeiros tradicionais.
O que acontece na periferia não é apenas sobrevivência. É estratégia. É empreendedorismo puro. A cada esquina, um novo negócio surge – seja na cozinha de casa, na calçada ou no Instagram. A cada crise, uma solução criativa aparece. Mas, ainda assim, o acesso a crédito, investimento e oportunidades continua sendo um privilégio de poucos.
De acordo com a Agência Brasil, as favelas brasileiras abrigam aproximadamente 17,9 milhões de pessoas, distribuídas em 5,8 milhões de domicílios. Juntas, essas comunidades movimentam mais de R$ 200 bilhões em renda própria anualmente, valor superior ao PIB (Produto Interno Bruto) de muitos estados brasileiros.
O empreendedorismo é marcante nessas regiões, muito pela necessidade, mas também pelas oportunidades de negócios presentes no território. Cerca de 50% dos moradores de favelas possuem seu próprio negócio, totalizando 5,2 milhões de empreendedores. Destes, apenas 37% possuem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas), indicando um vasto potencial para formalização e crescimento econômico.
A economia da periferia é potente!
Quem nunca ouviu a história de uma empreendedora que começou vendendo bolo no pote para sustentar a família e hoje tem uma confeitaria? Ou do barbeiro que, sem capital para abrir um salão, começou atendendo na garagem de casa e agora gerencia uma rede? Ou da costureira que começou ajustando roupas no bairro e virou dona da própria marca?
A economia da periferia é potente porque não espera permissão. Ela se organiza por redes, pela confiança, pelo boca a boca. Funciona na base da troca, do apoio mútuo, da criatividade sem limites. É um ecossistema que sobrevive sem os incentivos que os grandes negócios recebem, e ainda assim movimenta bilhões.
Mas é muito importante não romantizarmos o empreendedorismo por necessidade. Ainda que as periferias não sejam apenas espaços de resistência, mas também de invação e dinamismo econômmico.
Então, o que falta para esse potencial ser reconhecido e impulsionado? Acesso. Acesso a crédito justo, a tecnologia, a conhecimento, a políticas públicas que incentivem e fortaleçam essas iniciativas. Falta enxergar que inovação não nasce só no Vale do Silício e espaços localizados em bairros “nobres” – nasce também na favela, na periferia, nos quintais e becos, onde as soluções são urgentes e precisam ser eficientes.
Investir neste empreendedorismo da ponta, como chamamos no ecossistema de impacto, é o caminho para mexermos no eixo da desigualdade e gerar verdadeiramente uma inovação social.
O futuro da economia sustentável e humanizada está na diversidade, na descentralização, na inclusão. Está nas quebradas que há muito tempo fazem acontecer sem esperar pelo sistema. O que precisamos agora é mudar o olhar e investir na base e periferias do Brasil para transformar o país em uma nação potente.