Em um marco significativo para a diplomacia internacional, os ministros das Relações Exteriores dos países do G20 chegaram a um consenso inédito sobre a necessidade de reformas na Organização das Nações Unidas (ONU), na Organização Mundial do Comércio (OMC) e nas instituições financeiras globais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
O documento conjunto, aprovado por todos os chanceleres do grupo, será apresentado a ministros de pelo menos 90 países durante uma reunião ampliada do G20, marcada para ocorrer às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no dia 25 de setembro.
Reunião do G20 ficará marcada na história
A reunião ampliada, proposta pelo Brasil, é uma iniciativa inédita que reflete o desejo do país de assumir um papel de liderança nas discussões sobre governança global. O evento será, oficialmente, aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conjunto com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que assumirá a presidência do G20 em 2025, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
A importância deste encontro vai além das formalidades; ele simboliza um passo em direção a um diálogo mais profundo sobre a reforma das instituições que moldam a governança global. Após o encontro, uma declaração conjunta será divulgada, abrindo espaço para que todos os países participantes compartilhem suas visões e propostas.
O contexto das reformas
A aprovação deste texto é considerada uma vitória para a diplomacia brasileira, uma vez que a reforma do sistema global de governança é uma das prioridades da presidência do Brasil no G20. No entanto, o documento ainda é considerado genérico em suas abordagens e representa apenas um primeiro passo em direção a reformas mais concretas. Apesar do consenso, não foi definido um cronograma para a implementação das mudanças, e muitos detalhes essenciais ainda precisam ser discutidos.
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Um dos pontos centrais abordados no consenso é a necessidade de discutir mudanças no Conselho de Segurança da ONU, uma meta que já figura entre as ambições do governo Lula. Além disso, a representação no secretariado da ONU deverá ser revista para garantir uma distribuição mais equilibrada entre as regiões. As instituições financeiras globais também deverão ser reformadas para aumentar a representatividade dos países em desenvolvimento.
Desafios para a implementação
O embaixador Maurício Lyrio, principal negociador do Brasil no G20, admitiu que a implementação das reformas será um processo longo e complexo. Ele ressaltou que a aprovação do texto é um passo essencial para dar início a discussões reais e formais sobre as mudanças desejadas.
“O principal objetivo do Brasil no G20, neste tema, é dar impulso às reformas. Queremos sair da inércia que impediu avanços significativos por muitos anos”, declarou Lyrio. Ele enfatizou a importância de não apenas reformar a ONU, mas também modernizar instituições financeiras internacionais que precisam se adaptar para promover efetivamente o desenvolvimento.
A necessidade de ter a ONU fortalecida
O Brasil está buscando enviar uma mensagem clara de que a ONU precisa ser reformada, não substituída por outras organizações como o G20. A reunião dos chanceleres do G20 na sede da ONU destaca a centralidade da organização na resolução de problemas globais, incluindo conflitos como os que ocorrem na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
“Queremos uma ONU forte, capaz de cumprir sua função de evitar conflitos e manter a paz”, afirmou o embaixador Lyrio, enfatizando que o G20 está comprometido em fortalecer a ONU, não em marginalizá-la.
O impacto nas discussões futuras
A declaração resultante da reunião dos chanceleres servirá como um subsídio valioso para discussões mais robustas que ocorrerão durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, prevista para novembro. Os chefes de Estado terão a oportunidade de aprofundar as conversas sobre as reformas propostas e traçar um caminho claro para o futuro da governança global.
A necessidade de uma reforma abrangente é especialmente relevante em um mundo que enfrenta crises interligadas, como mudanças climáticas, desigualdade e conflitos geopolíticos. O Brasil, ao liderar essas discussões, busca não apenas promover um diálogo inclusivo, mas também garantir que os interesses dos países em desenvolvimento sejam levados em consideração nas decisões que moldam o futuro do planeta.
A chegada a um consenso inédito sobre a reforma da ONU durante a reunião do G20 representa um avanço importante na diplomacia global. Com a proposta de um documento que será discutido amplamente entre os países participantes, o Brasil e outros membros do G20 estão se preparando para enfrentar os desafios urgentes que a governança global apresenta. O futuro das instituições internacionais depende agora da capacidade dos líderes mundiais de transformar esse consenso inicial em ações concretas e eficazes que possam realmente fazer a diferença em um mundo em constante mudança.