A B3, principal bolsa de valores do Brasil, encerrou em queda nesta quarta-feira (9), pressionada por uma combinação de fatores internos e externos, como o aumento da inflação no Brasil e as incertezas sobre os próximos passos da política monetária nos Estados Unidos.
O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira, caiu 1,18%, fechando aos 129.962 pontos, marcando o menor patamar desde 8 de agosto de 2024. Ao mesmo tempo, o dólar teve uma alta expressiva, encerrando a sessão a R$ 5,587, um aumento de 0,98% em relação ao real.
Bolsa de valores revela o impacto da inflação no Brasil
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,44% em setembro, superando o desempenho de agosto, quando o índice apresentou deflação de 0,02%. A alta foi impulsionada principalmente pelos preços de energia elétrica e alimentos, afetados pela estiagem que atingiu várias regiões do país. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e indicam uma inflação acumulada de 3,31% no ano e 4,42% nos últimos 12 meses.
Especialistas do mercado esperavam uma alta de 0,46% para o IPCA de setembro, o que acabou surpreendendo alguns investidores. A meta de inflação para 2024, definida pelo Banco Central, é de 3%, com uma margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Esses números acenderam um alerta para o próximo ciclo de decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá ter de ajustar novamente a taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano.
A alta nos preços da energia elétrica reflete as condições climáticas adversas, com a seca comprometendo a geração de energia nas usinas hidrelétricas e exigindo maior uso de fontes térmicas, que têm um custo mais elevado. Além disso, o preço dos alimentos subiu devido à escassez de oferta, outro efeito direto da seca em diversas regiões produtoras do país.
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Juros nos EUA e suas consequências globais
No cenário internacional, os mercados seguiram com atenção a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, realizada em setembro. O documento revelou que o Fed reduziu a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, mas deixou claro que o ritmo de cortes futuros não está garantido. Esse tom de cautela aumentou as incertezas sobre a trajetória da política monetária norte-americana, gerando instabilidade nos mercados globais.
As expectativas de que o Fed manteria um ciclo consistente de cortes nos juros diminuíram após a divulgação da ata. A decisão de desacelerar ou até mesmo interromper os cortes pode afetar o fluxo de capitais para mercados emergentes, como o Brasil, reduzindo a entrada de dólares e pressionando o câmbio. A alta do dólar reflete esse movimento, com investidores buscando refúgio na moeda norte-americana em meio à incerteza.
Além disso, o furacão Milton, que está devastando a Flórida e afetando a economia dos Estados Unidos, contribuiu para o aumento da volatilidade nos mercados. O impacto do furacão está sendo monitorado de perto, pois pode agravar as pressões inflacionárias globais, especialmente nos setores de energia e transporte, o que afetaria diretamente o mercado brasileiro.
Perspectivas para a economia brasileira
Os agentes do mercado agora se voltam para as próximas decisões do Banco Central brasileiro, que terá de equilibrar o controle da inflação com a necessidade de não frear demais o crescimento econômico. A alta da Selic, adotada para combater a inflação, encarece o crédito e desestimula o consumo, mas pode ser uma medida necessária para estabilizar os preços no curto prazo.
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A recuperação econômica pós-pandemia enfrenta novos desafios, como a falta de chuvas e os efeitos das mudanças climáticas, que impactam diretamente setores estratégicos, como a agricultura e a geração de energia. Ao mesmo tempo, a desaceleração dos cortes de juros nos EUA pode diminuir o apetite por investimentos no Brasil, pressionando ainda mais a economia local.
O desempenho da bolsa reflete o nervosismo dos investidores em relação a esses cenários. Setores sensíveis ao ciclo de juros, como o de consumo e o imobiliário, foram os mais afetados durante a sessão, com queda nas ações de grandes varejistas e construtoras. Empresas ligadas à exportação de commodities, no entanto, conseguiram se segurar um pouco melhor, impulsionadas pela alta do dólar.
Em meio a essa turbulência, economistas alertam que o governo e o Banco Central precisarão atuar de maneira coordenada para garantir que a inflação fique dentro da meta sem comprometer a retomada do crescimento. A alta nos preços, somada ao câmbio volátil, pode comprometer a confiança do consumidor e das empresas, retardando investimentos e aumentando o risco de recessão no próximo ano.