Escala 6×1 registra a primeira greve de trabalhadores contra a jornada, o movimento foi apoiado por parlamentares
No último fim de semana, trabalhadores de duas fábricas da Pepsico, localizadas em Itaquera (São Paulo) e Sorocaba, no interior paulista, iniciaram uma greve inédita no Brasil contra a escala de trabalho 6×1. O movimento recebeu, na segunda-feira (25), o apoio de deputadas federais, que se posicionaram em defesa dos grevistas e criticaram a mudança nas condições de trabalho.
A PepsiCo, gigante norte-americana da indústria de alimentos e bebidas, possui uma atuação consolidada no mercado brasileiro, onde comercializa marcas de grande reconhecimento como Quaker, Toddy, Pepsi e Elma Chips. A empresa demonstra sua importância no cenário nacional ao manter operações de grande porte e alcançar resultados financeiros expressivos.
No terceiro trimestre de 2023, a PepsiCo registrou receitas globais da ordem de US$ 23,4 bilhões, um montante significativo que demonstra sua força no mercado global. Além disso, o lucro líquido da empresa nesse período atingiu cerca de US$ 3 bilhões, evidenciando a solidez de seu desempenho financeiro e sua capacidade de gerar valor para os acionistas, mesmo em um contexto econômico desafiador.
Causas da paralisação
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo (Stilasp), a greve foi deflagrada em resposta à decisão da empresa em implementar, sem prévia negociação com os trabalhadores, as jornadas de trabalho 6×1 e 6×2.
Essas novas escalas, que exigem seis dias consecutivos de trabalho com apenas um ou dois dias de descanso, respectivamente, têm gerado grande insatisfação entre os funcionários, que alegam que a sobrecarga de trabalho impacta negativamente sua saúde física e mental, além de comprometer sua vida pessoal e familiar.
O sindicato dos trabalhadores da PepsiCo emitiu uma forte crítica à decisão da empresa de implementar uma jornada de trabalho de seis dias consecutivos, caracterizando-a como uma imposição arbitrária e desconsiderando o bem-estar dos funcionários.
Segundo a representação sindical, a empresa mostrou-se inflexível durante as negociações prévias, ignorando as propostas alternativas apresentadas pelos trabalhadores, que visavam conciliar as demandas da produção com a necessidade de um descanso adequado.
Diante da intransigência da Pepsico, os funcionários foram levados a deflagrar a greve como última alternativa para serem ouvidos e para reivindicar condições de trabalho mais justas.
Apoio de parlamentares
O movimento ganhou respaldo político, com parlamentares declarando apoio público aos trabalhadores. A greve representa um marco no país, chamando a atenção para o impacto das escalas de trabalho sobre a saúde e o bem-estar dos empregados, além de reforçar a necessidade de diálogo entre empregadores e trabalhadores para alcançar soluções mais equilibradas.
Em uma publicação no X (antigo Twitter), a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) expressou seu apoio à greve dos trabalhadores. A parlamentar, conhecida por sua atuação na proposta de Emenda Constitucional (PEC) que busca reduzir a jornada de trabalho no Brasil, destacou a diferença nas condições de carga horária oferecidas pela multinacional aos funcionários de suas unidades em países da Europa
“Declaro meu apoio total aos trabalhadores da PepsiCo em Itaquera e Sorocaba que estão em GREVE contra a imposição da escala 6×1.
É inadmissível que uma empresa que recebeu mais de R$45 milhões em benefícios fiscais e lucrou cerca de 10 BILHÕES de reais na América Latina, tenha a audácia de oferecer condições de trabalho tão desumanas.
A PepsiCo tem plena capacidade de garantir um sábado de folga real aos seus funcionários, sem a necessidade de compensação por banco de horas.
A justificativa da empresa sobre ‘ociosidade’ e ‘ineficiência’ é um insulto à inteligência dos trabalhadores. Se funciona na Europa, por que não aqui?”
Para Fernanda Melchionna (PSOL-RS), a resistência dos servidores é um exemplo da luta por direitos trabalhistas.
“Todo apoio à mobilização dos trabalhadores da @PepsiCoBrasil que tiveram coragem e determinação demonstradas ao deflagrar a greve em busca de melhores condições de trabalho e pelo fim das exaustivas escalas 6×1 e 6×2.
A resistência frente à postura intransigente da empresa que foi inflexível no diálogo, é um exemplo de luta por direitos que beneficiam todos os trabalhadores.
Que essa mobilização sirva como inspiração e conquiste mudanças significativas nessa pauta tão urgente, reafirmando o papel na construção de condições de trabalho dignas e justas.”
Luana Alves (PSOL-SP), vereadora da cidade de São Paulo, também se manifestou a favor das reivindicações do Sindicato.
“Os trabalhadores da PepsiCo, em Itaquera e Sorocaba, estão em GREVE pelo FIM DA ESCALA 6X1. A transnacional estadunidense, dona de marcas como Pepsi, Elma Chips, Gatorade e Toddy, se RECUSA a negociar.
Todo apoio aos trabalhadores da PepsiCo. Fim da escala 6×1, já!”
O desafio para a PEC e o futuro das mobilizações
Embora a PEC tenha ganhado visibilidade, ela ainda enfrenta desafios significativos no Congresso, onde outras propostas semelhantes, mas menos abrangentes, estão em tramitação. A mobilização nas ruas e nas redes sociais, no entanto, tem gerado um clima de pressão que pode forçar os parlamentares a se posicionarem a favor da mudança. A mobilização em diversas cidades reflete a crescente insatisfação com a jornada de trabalho 6×1 e a necessidade urgente de repensar as condições de trabalho no Brasil.
O movimento contra a jornada de trabalho 6×1 ganhou força nas redes sociais com o ativista Rick, fundador do VAT, que criou uma petição online que já conta com mais de 2,9 milhões de assinaturas. A petição exige um projeto de lei sobre o tema e tem sido um dos principais catalisadores da pressão popular por mudanças na legislação trabalhista. Rick, que foi candidato a vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL e foi eleito, tem usado sua plataforma para amplificar a causa e reunir mais apoio para a PEC.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também tem sido uma defensora ativa da proposta e conseguiu as assinaturas necessárias para protocolar a PEC na Câmara no dia 13 de novembro deste ano. Embora o projeto tenha sido apresentado por Hilton em maio deste ano, ele avançou lentamente devido à falta de apoio, mas a mobilização nas redes sociais e nas ruas tem dado novo impulso à proposta.
Entretanto, o projeto enfrenta críticas em relação à sua redação atual. Deputados afirmam que, para que a proposta seja aprovada, será necessário o apoio de Erika Hilton para revisar alguns pontos do texto. Além disso, há a necessidade de criar medidas que protejam os pequenos empresários dos impactos das mudanças propostas, a fim de garantir que a reforma não sobrecarregue os pequenos negócios.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, classificou a proposta como “bastante prejudicial” aos trabalhadores, argumentando que a PEC aumentaria o custo do trabalho e promoveria a informalidade no mercado de trabalho.
Campos Neto ressaltou que, ao aumentar as obrigações dos empregadores, não se estaria necessariamente melhorando os direitos dos trabalhadores. Esses argumentos, no entanto, têm sido amplamente contestados pelos movimentos sociais, que acreditam que a mudança é essencial para garantir mais qualidade de vida e condições justas de trabalho para todos os brasileiros.
Audiência pública sobre a escala 6×1
No dia 4 de dezembro, a Câmara dos Deputados irá realizar um importante debate sobre o futuro do trabalho no Brasil. A primeira audiência pública para discutir a proposta de extinção da escala 6×1, que prevê uma jornada de trabalho de seis dias seguidos por apenas um de descanso, será um marco nessa discussão. A deputada federal Erika Hilton, uma das principais defensoras dessa causa, confirmou a realização do evento em suas redes sociais.
A audiência contará com a participação de diversos atores sociais, incluindo representantes dos trabalhadores que sofrem diretamente com os impactos da escala 6×1. Além disso, o vereador eleito no Rio de Janeiro, Rick Azevedo, idealizador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), um dos principais articuladores da campanha pelo fim da escala 6×1, também estará presente. A expectativa é que a audiência seja um espaço de diálogo e construção de propostas para garantir condições de trabalho mais justas e dignas para todos os brasileiros.
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