Brasil pode seguir exemplo da DeepSeek e criar IA nacional

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, afirmou em entrevista à CNN, nesta quarta-feira, 29 de janeiro, que o Brasil pretende desenvolver seus próprios modelos de inteligência artificial (IA), mas que, para agilizar esse processo, buscará referências em tecnologias já consolidadas, como a chinesa DeepSeek.

“A gente quer desenvolver nossos próprios modelos. Mas é óbvio que a gente bebe na fonte daquilo que é mais avançado, até para ter agilidade no desenvolvimento”, destacou a ministra.

Brasil busca inspiração na DeepSeek para desenvolver IA nacional.
Governo quer criar IA nacional e se inspira na DeepSeek para acelerar avanços, investindo R$ 23 bilhões até 2028 |Foto: Reprodução/Getty Images

A DeepSeek tem demonstrado para países emergentes que é possível, mesmo com menos recursos, competir no setor de IA. Segundo Santos, esse exemplo reforça a viabilidade dos planos brasileiros. Ela ainda contesta a ideia de que os altos investimentos necessários para a tecnologia tornam inviável a participação de mercados emergentes nesse setor.

Capacidades e investimentos no Brasil

O governo brasileiro acredita que as capacidades instaladas no país, combinadas com incentivos adequados, possibilitam avanços competitivos em IA. Fatores como abundância de energia limpa e recursos hídricos também são considerados vantagens estratégicas nesse contexto.

Para impulsionar essa iniciativa, o MCTI anunciou um plano de investimento de R$ 23 bilhões entre 2024 e 2028. Desses recursos, R$ 14 bilhões serão destinados à inovação empresarial, enquanto R$ 5 bilhões serão aplicados em infraestrutura e desenvolvimento de IA. O objetivo é aproximar o Brasil do padrão de investimentos europeus na tecnologia, mesmo que ainda distante dos volumes investidos por Estados Unidos e China.

“Quando concebemos o plano, reforçamos que não havia razão para estar atrás nesta corrida tecnológica”, ressaltou a ministra.

O impacto da DeepSeek

A startup chinesa DeepSeek, sediada em Hangzhou (uma cidade no leste da China, conhecida por ser um importante centro de tecnologia e inovação), lançou recentemente um assistente digital gratuito que consome menos dados e custa uma fração dos modelos tradicionais, o que pode redefinir os padrões de investimento na área. O sucesso da iniciativa ficou evidente na segunda-feira, 27 de janeiro, quando a DeepSeek superou o ChatGPT em downloads na App Store.

Esse modelo de IA mais acessível colocou em xeque a sustentabilidade dos altos níveis de investimento praticados por grandes empresas ocidentais, como Apple e Microsoft.

Em entrevista à CNN, o secretário de Inovação do Ministério da Indústria e Comércio (Mdic), Uallace Moreira, apontou que a China utilizou uma estratégia de “catch-up” tecnológico, na qual países com industrialização tardia encontram formas de se aproximar dos desenvolvidos. Moreira acredita que o Brasil tem potencial para seguir um caminho semelhante e aproveitar oportunidades na área de tecnologias disruptivas.

O que é o “efeito DeepSeek”?

O lançamento do novo modelo de inteligência artificial da startup chinesa DeepSeek abalou o setor de tecnologia, fazendo empresas do ramo perderem cerca de US$ 1 trilhão (R$ 5,86 trilhões) em valor de mercado em um único dia. O impacto foi imediato, com o assistente de IA da DeepSeek superando seu concorrente norte-americano, o ChatGPT, em número de downloads na App Store. O aplicativo gratuito da DeepSeek se tornou também o mais bem avaliado na loja da Apple nos Estados Unidos.

O grande atrativo do modelo de IA da DeepSeek é sua viabilidade como uma alternativa mais barata e eficiente aos modelos tradicionais desenvolvidos por gigantes como a Microsoft, Meta e Alphabet. Essa inovação gerou questionamentos entre investidores sobre a sustentabilidade dos altos investimentos no setor por empresas dos Estados Unidos, colocando em dúvida o domínio ocidental no desenvolvimento de IA.

O mercado reagiu positivamente à possibilidade de a DeepSeek igualar as capacidades dos modelos de IA dos EUA, mas com custos significativamente mais baixos, o que levanta incertezas sobre os gastos futuros das empresas norte-americanas nesse campo.

O maior prejuízo do dia foi registrado pela Nvidia, maior fabricante de chips e semicondutores para IA. A empresa viu sua capitalização de mercado cair impressionantes US$ 620 bilhões (R$ 3,63 trilhões) — uma queda de quase 18% —, conforme reportado pelo Financial Times.

Ao final do pregão (período de negociações de compra e venda de ações em uma bolsa de valores), a perda foi de US$ 589 bilhões (R$ 3,46 trilhões), um recorde para a Nvidia. Antes disso, o maior tombo da companhia havia ocorrido em setembro de 2024, quando perdeu US$ 279 bilhões (R$ 1,64 trilhões).

Esse episódio reflete um novo momento para o mercado de IA, com a DeepSeek se posicionando como uma nova força disruptiva no setor, desafiando a hegemonia das gigantes tecnológicas ocidentais.

Leia também: Quem são os bilionários que perderam fortunas com o DeepSeek?

Atualize-se.
Receba Nossa Newsletter Semanal

Sugestões para você