Justiça suspende decreto de Trump que restringia cidadania nos EUA

A Justiça Federal dos Estados Unidos decidiu suspender temporariamente um decreto assinado pelo presidente Donald Trump que restringia o direito à cidadania de crianças nascidas no país, cujos pais fossem imigrantes ilegais ou turistas. A decisão, divulgada na última quinta-feira (23), representa uma vitória para grupos civis que alegam que a medida é inconstitucional.

Vitória eleitoral de Trump nos EUA começa a repercutir nas economias ao redor do mundo | Foto: Reprodução/ REUTERS justiça
A decisão de suspender a ordem de Trump é um sinal de que a Constituição americana ainda é uma poderosa ferramenta de proteção de direitos | Foto: Reprodução/ REUTERS

Trump, que retornou à presidência recentemente, tem como foco central de sua política a restrição à imigração. Desde sua posse em 20 de janeiro, ele assinou uma série de ordens executivas endurecendo as regras para estrangeiros, incluindo o controverso decreto sobre cidadania.

O que dizia o decreto de Trump que a Justiça suspendeu?

A medida determinava que crianças nascidas nos Estados Unidos após 19 de fevereiro de 2025, cujos pais não fossem cidadãos americanos ou residentes permanentes legais, não teriam direito à cidadania automática. Isso significa que essas crianças estariam sujeitas à deportação e seriam impedidas de acessar benefícios sociais ou trabalhar legalmente no futuro.

A regra, caso implementada, afetaria imigrantes de diversas nacionalidades, incluindo brasileiros, e representaria uma mudança drástica na interpretação da 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos.

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A 14ª Emenda e o debate jurídico

A 14ª Emenda estabelece que “todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos são cidadãs do país e do estado em que residem”. Desde sua ratificação, em 1868, essa cláusula tem sido a base para o princípio do direito à cidadania por nascimento.

O Departamento de Justiça do governo Trump, entretanto, argumenta que a emenda nunca teve a intenção de garantir cidadania universal a todos os nascidos no território americano. Segundo a interpretação apresentada pela administração, o direito deveria ser restrito aos filhos de cidadãos ou residentes permanentes legais.

Grupos civis e procuradores-gerais de 22 estados contestaram essa visão, classificando o decreto como uma violação flagrante da Constituição. Um desses casos foi analisado pelo juiz John Coughenour, em Seattle, que suspendeu temporariamente a medida e a classificou como “flagrantemente inconstitucional”.

“O decreto não só ignora décadas de jurisprudência, como também coloca em risco o futuro de milhares de crianças que nasceriam nos Estados Unidos sob um regime de incerteza jurídica”, afirmou o magistrado.

Próximos passos

Com a suspensão do decreto, a medida de Trump não poderá ser aplicada, ao menos temporariamente. O presidente já anunciou que pretende recorrer da decisão. Além disso, deputados republicanos apresentaram projetos de lei que visam restringir o direito à cidadania automática. Esses projetos ainda precisarão ser discutidos no Congresso, onde devem enfrentar resistência de democratas e grupos civis.

Enquanto isso, a decisão judicial traz um alívio para imigrantes e turistas que planejam ter filhos nos Estados Unidos. No entanto, a questão ainda está longe de ser resolvida definitivamente.

Impactos para brasileiros e outras comunidades

Caso o decreto fosse implementado, brasileiros e outras comunidades imigrantes poderiam ser amplamente impactados. Muitos estrangeiros que residem no país de forma ilegal ou visitam os Estados Unidos para turismo veem o nascimento de filhos no território americano como uma oportunidade de oferecer a eles melhores perspectivas de vida.

Para essas famílias, a cidadania automática é um direito que garante acesso à educação, serviços de saúde e oportunidades de emprego no futuro. A revogação desse direito criaria um cenário de exclusão social e incertezas jurídicas para milhares de crianças.

O embate jurídico em torno da cidadania nos Estados Unidos reflete questões mais amplas sobre imigração, inclusão e direitos humanos. A suspensão temporária do decreto de Trump representa uma vitória importante para aqueles que defendem o princípio constitucional de cidadania por nascimento.

No entanto, a batalha ainda não terminou. O caso promete ser um marco na discussão sobre imigração e pode gerar consequências de longo prazo para milhões de pessoas. O resultado dependerá das decisões dos tribunais e do debate legislativo que se seguirá nos próximos meses.

A decisão de suspender a ordem de Trump é um sinal de que a Constituição americana ainda é uma poderosa ferramenta de proteção de direitos. Para as comunidades imigrantes, o momento exige atenção e organização para resistir a medidas que podem impactar gerações futuras.

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