Trump corta ajuda à África do Sul e gera tensão global

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem, 9 de janeiro, que irá suspender toda a assistência financeira à África do Sul, citando uma suposta “violação de direitos humanos massiva” no país.

A decisão foi oficializada por meio de uma ordem executiva assinada na última sexta-feira, 7 de janeiro, e tem como principal justificativa a política de reforma agrária sul-africana.

Além da questão fundiária, a medida ocorre em meio a um cenário de tensões diplomáticas, especialmente após a África do Sul entrar com uma ação contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), acusando o país de genocídio. A Casa Branca informou que também está formulando um plano para reassentar fazendeiros brancos sul-africanos e suas famílias como refugiados nos EUA.

Embora a decisão de Trump possa ser revertida por futuras administrações, os impactos na relação bilateral já começaram a se desenhar | Foto: Reprodução/ PEDRO UGARTE / AFP
Embora a decisão de Trump possa ser revertida por futuras administrações, os impactos na relação bilateral já começaram a se desenhar | Foto: Reprodução/ PEDRO UGARTE / AFP

Como o corte de ajuda impacta a economia sul-africana

Os Estados Unidos destinaram aproximadamente US$ 440 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões) em assistência à África do Sul em 2023. Esse valor é direcionado para diversas áreas, incluindo programas de combate à pobreza, iniciativas de saúde pública e desenvolvimento econômico.

Com a suspensão dessa ajuda, diversos setores podem ser afetados, sobretudo aqueles voltados para o suporte social. O país enfrenta desafios estruturais, como alto índice de desemprego e desigualdade econômica, e a retirada desses recursos pode agravar ainda mais a situação da população mais vulnerável.

Além disso, a medida pode prejudicar o comércio bilateral. Empresas sul-africanas que exportam para os EUA podem enfrentar dificuldades adicionais caso a relação diplomática se deteriore ainda mais.

O que está por trás da reforma agrária na África do Sul

A política de reforma agrária da África do Sul tem sido um tema sensível no país desde o fim do apartheid, em 1994. Durante o regime de segregação racial, a população branca – minoria no país – detinha a maior parte das terras férteis. Para corrigir essa desigualdade histórica, o governo sul-africano estabeleceu programas para redistribuir terras, algumas vezes sem compensação financeira aos proprietários.

Grupos favoráveis à reforma argumentam que a medida é necessária para garantir justiça social e corrigir os desequilíbrios herdados do apartheid. Já críticos, incluindo Trump e o bilionário sul-africano Elon Musk, afirmam que a política é discriminatória contra fazendeiros brancos e pode gerar insegurança jurídica no setor agrícola.

Reações ao corte da ajuda financeira

A decisão de Trump gerou fortes reações tanto dentro quanto fora dos EUA. O Ministério das Relações Exteriores da África do Sul classificou a ordem executiva como “imprecisa” e ressaltou que ignora o contexto histórico do país, incluindo o período de colonização e segregação racial.

Líderes africanos e organizações internacionais também expressaram preocupação com a medida, apontando que o corte pode prejudicar ainda mais a estabilidade econômica e social da África do Sul.

Nos Estados Unidos, a decisão foi vista como parte da postura mais rígida de Trump em relação à política externa. Enquanto seus apoiadores afirmam que a medida reforça a soberania americana e evita o uso de recursos públicos para apoiar governos estrangeiros, críticos avaliam que a decisão pode minar a influência dos EUA na África e abrir espaço para maior envolvimento de outras potências, como China e Rússia.

Leia também: Bolívia suspende exportação de carne para conter alta de preços

O que esperar daqui para frente após a medida de Trump

A suspensão da assistência financeira deve aprofundar as tensões entre Washington e Pretória. Embora a decisão de Trump possa ser revertida por futuras administrações, os impactos na relação bilateral já começaram a se desenhar.

Especialistas alertam que, além das consequências econômicas diretas, a medida pode acelerar a busca da África do Sul por novos parceiros internacionais para substituir o financiamento perdido.

Caso o país fortaleça laços com economias emergentes, o corte da ajuda americana pode, paradoxalmente, resultar em uma redução da influência dos EUA no continente africano.

Enquanto isso, a situação da reforma agrária sul-africana deve continuar sendo alvo de debate, tanto no cenário interno quanto nas relações diplomáticas globais.

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