Pela primeira vez desde 2013, a Argentina entrou para os 25 principais destinos de investimento estrangeiro do mundo, de acordo com o Índice de Confiança para Investimento Direto, desenvolvido pela consultoria Kearney. O país ocupa a 24ª posição, ficando logo atrás do Brasil, que retornou à lista dos 20 primeiros, ocupando a 19ª posição neste ano.
No caso do Brasil, o retorno à lista não se deve tanto ao desempenho interno da economia nacional, mas sim ao desenrolar das situações globais, especialmente durante momentos de tensão, como os conflitos no Oriente Médio e a guerra na Ucrânia, explica Mark Essle, sócio da Kearney no Brasil.
Quanto à Argentina, que ficou fora do radar por uma década, as mudanças na direção econômica com a eleição de Javier Milei como presidente trouxeram esperança aos investidores, observa.
O México, outro país da América Latina na lista dos 25 principais destinos de investimento estrangeiro, retornou ao índice na 21ª posição após cinco anos de ausência, possivelmente devido aos benefícios que está obtendo do chamado “nearshoring”, na análise da consultoria.
“Notavelmente, o mercado viu um aumento de 5,8% nas exportações para US$ 52,9 bilhões ano a ano em maio de 2023, com base na crescente demanda dos EUA, representando a segunda maior marca registrada”, alega trecho do relatório da Kearney.
A consultoria atribui o retorno do Brasil, México e Argentina ao ranking em 2024 ao aumento observado nos fenômenos de reshoring, nearshoring e friendshoring, que envolvem a redução das cadeias produtivas.
No caso específico do Brasil, a Kearney destaca as melhorias na macroeconomia, como a aprovação da reforma tributária. Apesar das melhorias institucionais, o país se beneficia da sua política de neutralidade em meio a conflitos globais.
O Índice de Confiança é baseado em entrevistas com executivos de empresas de 30 países com receita anual superior a US$ 500 milhões. Este índice identifica os mercados com maior potencial de atrair investimento direto nos próximos três anos.
Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em janeiro mostram que o Brasil foi o terceiro principal destino de investimentos estrangeiros em 2023.
Reformas e reajuste fiscal na Argentina
Na Argentina, a situação é um tanto distinta. O país enfrentou uma inflação de 211% em 2023, e essa taxa se aproximou de quase 300% no acumulado interanual neste ano.
Além disso, o país elegeu o ultraliberal Javier Milei. Houve uma mudança abrupta nos rumos econômicos do país que, ao menos inicialmente, agradou os executivos entrevistados pela Kearney.
As medidas drásticas adotadas pelo presidente argentino, como a revogação de leis, a privatização de empresas públicas e os cortes de gastos, são consideradas positivas pelos especialistas para os executivos que fazem parte do índice.
Argentina e Brasil
Além do tratamento de choque implementado por Milei, há também a observação de que, assim como o Brasil, a Argentina possui um enorme potencial no que diz respeito à transição energética – um fator que aproxima muito as duas nações.
Para o especialista, uma Argentina economicamente mais estável pode contribuir significativamente para o crescimento das exportações brasileiras, fortalecer a relação bilateral e promover a cooperação em várias áreas. Ambos os países têm muito a ganhar com isso.
Ele destaca o recente acordo de US$ 600 milhões destinados a financiar exportações brasileiras para a Argentina, o que é crucial para garantir que os exportadores brasileiros recebam o pagamento pelas vendas, especialmente considerando a crise financeira e a escassez de dólares enfrentadas pela Argentina. No entanto, isso não representa um risco para o Brasil.
A atratividade da Argentina para os investidores pode influenciar os fluxos de capital na região. Se a Argentina oferecer melhores retornos ou condições de investimento, poderá atrair investimento estrangeiro direto que, de outra forma, iria para o Brasil. No entanto, dadas as dimensões e a diversidade do Brasil, ele ainda é um destino de investimento significativo.
Ambos os países, Brasil e Argentina, com seu vasto potencial natural, especialmente mineral, chamam a atenção global desde que a mudança climática impulsionou a busca por fontes energéticas alternativas.
Países ricos em minerais, com uma indústria de mineração relativamente bem organizada, têm uma vantagem competitiva nesse cenário.
Por isso, o sócio da Kearney delineia o perfil do executivo interessado em investir no Brasil e Argentina nos próximos três anos: aquele que está entusiasmado com a transição energética.
O maior trunfo dos dois maiores países da América do Sul não é a Inteligência Artificial, mas sim as reservas de minerais essenciais para a transição energética, como o lítio, que ambos possuem em abundância.
Juntamente com o Chile e a Bolívia, a Argentina detém 60% das reservas conhecidas de lítio do planeta, conforme dados do US Geological Survey. Esse mineral é crucial na fabricação de baterias, desde aquelas utilizadas em veículos elétricos até as de dispositivos eletrônicos como notebooks e smartphones – e está no cerne do debate sobre o desenvolvimento tecnológico global.
Apesar de não possuir tantas reservas de lítio quanto as três nações sul-americanas mencionadas anteriormente, o Brasil ainda possui reservas significativas. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o país ocupa a 15ª posição em reservas desse mineral, com estimadas 800 mil toneladas.