Dólar em R$ 5,50 – Quais fatores fazem a moeda estadunidense disparar?

Dólar tem tido uma tendência de alta frente ao real em 2024  

O dólar voltou a subir significativamente em relação ao real hoje (26), ultrapassando a marca de R$ 5,52, impulsionado pelas turbulências no cenário político nacional. A alta ocorre em meio à derrota do governo em seus esforços durante a reunião do Copom desta semana.

Dólar
Alguns fatores podem explicar o crescimento do dólar – Foto: Reprodução/Unsplash

Com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na última semana, mantendo os juros no patamar de 10,50%, a expectativa era de um pequeno ajuste na moeda. Normalmente, juros mais altos aumentam a pressão para a valorização do câmbio, mas a situação é mais complexa.

“O que importa é o diferencial de juros entre EUA e Brasil, no caso de câmbio real dos EUA, e nesse caso não está tão bom quanto parece, porque os juros nos Estados Unidos estão altos. Se a gente pega um gráfico um pouco mais longo, o juro brasileiro não está tão alto assim em relação ao juro americano, e isso está fazendo uma certa pressão no câmbio”, comenta Evandro Buccini, sócio e diretor de Crédito e Multimercados da Rio Bravo Investimentos.

Como os juros impactam o dólar?

São necessários gatilhos internos e externos para o dólar melhorar. “Se os Estados Unidos ficarem mais benignos para a gente, ou seja, os juros caírem, é muito provável que o real se valorize. Mesma coisa se a política econômica aqui no Brasil ganhar credibilidade.”

Segundo Jefferson Laatus, sócio-estrategista do grupo Laatus, “o Brasil continua vivendo um cenário onde o fiscal vem incomodando, o político vem incomodando, a questão de juros mais altos vem incomodando também. Então, com essa conjuntura, o investidor fica bastante reticente. Não é à toa que os estrangeiros estão com a maior aposta contra o real dos últimos dez anos.”

Ele também alerta para a importância de se atentar ao cenário externo. “Outra coisa que chama muita atenção também é o cenário externo, a questão envolvendo juros americanos, que não se sabe exatamente quando começarão os cortes, a situação na China que afasta investidores daqui, e a Europa cortando juros, o que resulta em fuga de capital para os Estados Unidos.”

Decisões do FED podem impactar

Para André Colares, CEO da Smart House Investments, se o Fed decidir aumentar as taxas de juros de forma mais agressiva do que o esperado, isso pode tornar os investimentos em dólar mais atraentes, resultando em maior demanda pela moeda americana e, consequentemente, sua valorização frente ao real.

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Politica economica dos EUA impacta diretamente – Foto: Reprodução/Internet

Em relação ao Brasil, qualquer aumento na percepção de risco político ou fiscal, como instabilidades governamentais, problemas na aprovação de reformas ou aumento do déficit fiscal, pode levar investidores a retirar capital do país, buscando a segurança do dólar e pressionando sua cotação para cima.

“Em tempos de crises globais, como uma nova recessão mundial ou tensões geopolíticas significativas, os investidores tendem a buscar ativos de refúgio seguro, como o dólar americano. Um cenário de aversão ao risco global pode aumentar a demanda por dólares, elevando seu valor frente ao real”, diz Colares.

Já Fábio Murad, sócio da Ipê Investimentos, destaca que a situação fiscal no Brasil, como a devolução de uma medida provisória que limita a compensação do PIS e Cofins, gera incertezas sobre como o governo e o Congresso conseguirão arrecadar cerca de R$ 26,3 bilhões para equilibrar as contas em 2024, o que pode desencorajar investidores e pressionar a alta do dólar.

“Lá fora, as políticas monetárias do Fed também impactam o valor do dólar. Mesmo mantendo a taxa de juros, a indicação de dois cortes prováveis ainda este ano pode sugerir uma política monetária menos agressiva, fortalecendo o dólar. Aqui dentro, a política interna brasileira, como a fala do presidente Lula sobre equilíbrio fiscal atrelado ao aumento da arrecadação e não a cortes de despesas, e o enfraquecimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após derrotas políticas, geram mais incertezas e pressionam a alta do dólar”, ressalta Murad.

Déficit fiscal é a principal influência

Volnei Eyng, CEO da Multiplike, afirma que o governo promete equilibrar as contas, mas o mercado acredita que pode haver um déficit de até 0,7% do PIB. “A falta de preocupação em reduzir custos e a ênfase em aumentar a arrecadação geram desconfiança”, aponta.

Ele também considera a concorrência mundial: “Com juros altos nos EUA, investidores preferem investir lá, que oferece um prêmio de 5,25%, especialmente quando a Selic no Brasil diminui. Além disso, a desvalorização do real desestimula investimentos em títulos brasileiros.”

Já Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, indica o risco país como um fator a ser levado em conta. “Se as agências de classificação de risco americanas apontarem o Brasil como um risco, o dólar tende a subir”, diz.

Andrade também menciona o fenômeno conhecido como “flight to quality.” “Quando o mercado americano se torna mais atraente para investidores, ocorre esse movimento, onde o dinheiro sai do Brasil e vai para os EUA, aumentando a valorização do dólar.”

“No ambiente doméstico, a incerteza sobre a política econômica do Brasil faz com que investidores segurem investimentos, reduzindo a entrada de dólares no país e aumentando a cotação da moeda. Esses fatores combinados criam um cenário complexo e desafiador para a economia brasileira, onde a valorização do dólar pode ter impactos significativos em diversos setores”, conclui Andrade.

Confira alguns dos fatores para o aumento do dólar:

  • Aumento das taxas de juros pelo Fed
  • Tensões geopolíticas globais
  • Situação fiscal no Brasil em declínio
  • Política monetária agressiva pelos bancos centrais de países desenvolvidos
  • Prêmios de risco melhores em outros mercados
  • Brasil caindo na classificação de agências de risco

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