As recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), bloqueando a rede social X e as contas da Starlink no Brasil, têm gerado preocupação entre especialistas em direito digital e agentes de mercado.
As ações são vistas como potenciais fatores de insegurança jurídica, o que pode impactar negativamente o ambiente de negócios e a atração de investimentos no país, especialmente no setor de tecnologia.
Impactos no mercado de tecnologia e comunicação digital
O bloqueio da rede social X, determinada por Moraes, tem consequências diretas para as empresas que dependem da plataforma para publicidade, comunicação com clientes e operações diárias. Segundo o advogado Caio Miachon Tenorio, especialista em direito digital, essa medida pode criar um efeito dominó, afetando outras áreas da economia que dependem de interações digitais.
“A decisão de bloquear o X não só prejudica diretamente as empresas que utilizam a plataforma, mas também fomenta uma insegurança jurídica que pode afetar a confiança na estabilidade e previsibilidade das decisões governamentais e judiciais”, afirmou Tenorio.
Ele acrescenta que o Brasil pode ser visto como um mercado hostil para novos negócios, especialmente no setor de tecnologia, onde a liberdade de operação e a estabilidade regulatória são cruciais.
Investimentos em risco
A situação se agrava com a decisão de bloquear as contas da Starlink no Brasil, uma empresa de internet via satélite de propriedade de Elon Musk. A medida foi tomada para garantir o pagamento de multas impostas ao X, uma vez que a plataforma deixou de ter representação no país.
O bloqueio gerou preocupação entre investidores estrangeiros, que podem optar por direcionar seus recursos para mercados mais previsíveis e menos sujeitos a intervenções.
O professor de direito do Insper, Luiz Fernando Esteves, alerta que tais decisões podem impor novas condições para que outras empresas entrem no Brasil.
“Se o Brasil for visto como um país onde o governo ou o Judiciário podem interferir diretamente no funcionamento de plataformas digitais por meio de tutelas provisórias, o efeito dissuasório pode ser grande, levando a uma fuga de capitais e à redução de novos investimentos”, explicou Esteves.
Leia também: Governo Federal prevê salário mínimo de R$ 1.509 em 2025
Aumento da insegurança jurídica
Outro ponto de crítica é a relativização da autonomia patrimonial das empresas envolvidas. A decisão de bloquear as contas da Starlink para garantir o pagamento de multas da rede social X, que é uma entidade jurídica distinta, levanta preocupações sobre a separação dos grupos econômicos.
Para o advogado e professor da FGV, Luciano Timm, essa decisão não é uma boa notícia para um país que busca atrair investimentos. “Advogados que assessoram empresas estão tendo que explicar essa decisão. Qual é a relação da Starlink com o descumprimento do antigo Twitter? Isso aparentemente não ficou claro até o momento”, questionou Timm.
As decisões judiciais contra X e Starlink revisitam debates sobre a segurança jurídica no Brasil e o impacto dessas ações no ambiente de negócios. Com a possibilidade de afastar investidores e aumentar a percepção de risco no país, as medidas adotadas pelo STF podem ter repercussões de longo prazo para o setor de tecnologia e para a economia brasileira.