O Brasil vem assistindo a uma onda crescente de profissionais que, mesmo diante da estabilidade da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), decidiram trilhar um caminho próprio no mundo dos negócios. Esse movimento, que tem se intensificado nos últimos anos, reflete mudanças no mercado de trabalho e no comportamento das novas gerações, que buscam mais autonomia e realização pessoal.
A decisão de sair do CLT: o início de uma nova jornada
Muitos trabalhadores começaram a questionar se a estabilidade da CLT era suficiente para garantir uma vida plena. Michell Caruaru, CEO do Voxtom, é um exemplo desse movimento. Após anos em uma multinacional, liderando uma equipe de 49 promotores e atendendo a três estados, ele percebeu que dedicava sua energia a realizar o sonho de outra pessoa. “Eu vi que estava investindo meu único tempo em algo que não era meu. Decidi que queria direcionar esse esforço para algo próprio”, conta.
Leia também: PJ vale a pena? Confira as vantagens e desvantagens da modalidade de trabalho
No caso do Voxtom, o que começou como uma plataforma para músicos acabou evoluindo para uma rede social de eventos, hoje considerada a primeira do gênero no mundo. Michell acredita que o impacto de sua iniciativa vai além de seu sucesso pessoal. “O Voxtom gera novas oportunidades de emprego, fomenta eventos e cria conexões. É muito mais do que apenas um aplicativo”, conta.
Quando o sonho vira negócio
Outro exemplo é Raphael Gomes, que decidiu transformar sua paixão por moda em um negócio próprio. Motivado pela falta de acesso a roupas e acessórios na infância, ele fundou sua loja de vestuário, a Branding Company. Segundo Raphael, o empreendedorismo trouxe um equilíbrio entre vida pessoal e profissional: “Hoje, consigo dedicar mais tempo à minha família e tenho a satisfação de trabalhar com algo que escolhi.”.
Raphael enfrentou dificuldades iniciais, como falta de capital para estoque, mas encontrou soluções criativas, como o uso de dropshipping e o estudo de tráfego pago para atrair clientes. Ele enfatiza a importância do planejamento e da resiliência: “Você não amadurece sem riscos. É preciso agir e sair da teoria”.
Desafios e recompensas do empreendedorismo
Deixar o conforto de um emprego fixo para abrir o próprio negócio é desafiador. Empreendedores enfrentam a necessidade de lidar com múltiplas áreas, como gestão, vendas e marketing. “O empresário precisa estar preparado para resolver problemas de todos os setores. É uma jornada difícil, mas o resultado vale a pena”, reflete Michell.
Além disso, o cenário econômico instável no Brasil pode trazer incertezas, mas a paixão pelo trabalho e o desejo de fazer a diferença têm sido combustíveis para muitos. Raphael, por exemplo, busca expandir sua atuação para áreas como imóveis, inspirado por sua visão de aproveitar cada oportunidade para crescer.
Uma tendência em ascensão
Segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil é um dos países com maior número de empreendedores iniciais no mundo. A pandemia de covid-19 também acelerou esse movimento, com muitos brasileiros migrando para o empreendedorismo como alternativa ao desemprego ou como forma de buscar mais flexibilidade e realização.
Plataformas digitais e redes sociais têm desempenhado um papel fundamental nesse contexto, permitindo que pequenos negócios alcancem públicos maiores com investimentos iniciais reduzidos.
O que é essencial para quem deseja começar?
Para aqueles que desejam seguir o mesmo caminho, os entrevistados destacam a importância de planejamento, estudo e coragem. A adaptação ao ambiente digital também é essencial. Raphael sugere que novos empreendedores comecem pela internet antes de investir em pontos físicos, minimizando custos e riscos iniciais.
Mais do que uma tendência, o empreendedorismo representa uma mudança de mentalidade. É sobre encontrar propósito no trabalho e apostar em si mesmo. “Seja forte e resiliente”, aconselha Michell. “Os desafios são muitos, mas a realização de construir algo seu não tem preço.”