O Banco Mundial fez um alerta nesta quinta-feira, 16 de janeiro, sobre o impacto das tarifas gerais de 10% propostas pelos Estados Unidos, apontando que elas poderiam diminuir em 0,3 ponto percentual o crescimento global, que está projetado para 2,7% em 2025, caso os parceiros comerciais dos EUA adotem medidas retaliatórias com tarifas próprias.
Essas tarifas, propostas pelo presidente eleito Donald Trump, podem diminuir o crescimento econômico dos Estados Unidos, projetado para 2,3% em 2025, em 0,9%, caso outros países adotem contramedidas, de acordo com as simulações do Banco Mundial.
Por outro lado, o banco observou que o crescimento dos EUA poderia aumentar em 0,4 ponto percentual em 2026, caso a prorrogação dos cortes de impostos seja implementada, sem causar grandes impactos globais.
Trump, que tomará posse na segunda-feira, 20 de janeiro, propôs uma tarifa de 10% sobre as importações globais, além de uma tarifa de 25% sobre as importações do Canadá e do México, caso esses países tomem medidas mais rigorosas contra o tráfico de drogas e a imigração ilegal. Além disso, o presidente eleito sugeriu uma tarifa de 60% sobre os produtos chineses.
O mais recente relatório do Banco Mundial, denominado Perspectiva Econômica Global, prevê que o crescimento da economia mundial será de 2,7% em 2025 e 2026, a mesma taxa projetada para 2024. No entanto, o estudo alerta que as economias em desenvolvimento enfrentam uma perspectiva de crescimento de longo prazo mais fraca, a mais baixa desde 2000.
O Banco Mundial observou que os investimentos estrangeiros diretos nas economias em desenvolvimento caíram para metade dos níveis observados no início dos anos 2000. Além disso, as barreiras ao comércio global aumentaram cinco vezes em comparação com a média de 2010 a 2019.
O crescimento esperado para os países em desenvolvimento é de 4% em 2025 e 2026, bem abaixo das estimativas feitas antes da pandemia. Isso é atribuído ao elevado nível de endividamento, aos investimentos fracos, ao crescimento lento da produtividade e aos custos crescentes associados às mudanças climáticas.
O economista-chefe do Banco Mundial, Indermit Gil, afirmou que os próximos 25 anos serão mais difíceis para as economias em desenvolvimento do que os últimos 25 anos, e pediu que os países implementem reformas internas que incentivem os investimentos e aprofundem as relações comerciais.
O relatório também destaca que o crescimento nas economias em desenvolvimento diminuiu de quase 6% na década de 2000 para 5,1% na década de 2010, e agora está em torno de 3,5% na década de 2020. O Banco Mundial também notou que a disparidade entre as economias ricas e as mais pobres tem aumentado, com as taxas médias de crescimento per capita nos países em desenvolvimento (excluindo China e Índia) sendo 0,5 ponto percentual menores que as das economias desenvolvidas desde 2014.
O relatório adverte que, nos próximos dois anos, as economias em desenvolvimento poderão enfrentar desafios significativos. A alta incerteza política global pode afetar a confiança dos investidores e limitar os fluxos de financiamento. A escalada das tensões comerciais pode impactar o crescimento global, e a inflação persistente pode adiar a redução das taxas de juros.
O Banco Mundial também observou que as políticas protecionistas e a incerteza quanto ao futuro estão prejudicando o investimento e o crescimento. A previsão é que o comércio global de bens e serviços, que teve um crescimento de 2,7% em 2024, aumente para uma média de 3,1% entre 2025 e 2026, ainda assim abaixo dos níveis observados antes da pandemia.
Trump criará órgão para cobrar tarifas de outros países
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira, 14 de janeiro, a criação de um novo órgão responsável por “cobrar tarifas, impostos e todas as receitas de fontes estrangeiras”. Trump fez uma comparação com o Serviço de Receita Interna (IRS), que é responsável pela cobrança de impostos dos cidadãos americanos.
Em uma publicação nas redes sociais, ele afirmou que o novo órgão começará a cobrar daqueles que se beneficiam do comércio com os Estados Unidos, enfatizando que finalmente esses países pagarão sua “parte justa”. Trump informou que o Serviço de Receita Externa, como será denominado, será lançado na próxima segunda-feira, data em que ele assumirá oficialmente a presidência dos EUA e começará a tomar as primeiras decisões de seu segundo mandato.
Além disso, o futuro presidente dos Estados Unidos criticou os “acordos comerciais frouxos e inadequados” que estão em vigor até o momento. Ele afirmou que a economia dos EUA gerou crescimento e prosperidade para o mundo enquanto o país se tributava.
Novas tarifas para México, Canadá e China
Trump tem defendido há meses o aumento das tarifas e chegou a afirmar que, para ele, “tarifa” é a palavra mais apreciada no dicionário.
Entre as medidas, Trump anunciou que implementará uma tarifa de 25% sobre todos os produtos provenientes do México e Canadá e uma outra de 10% sobre as mercadorias chinesas até que o país reduza a entrada de fentanil.
Apesar de não fornecer detalhes adicionais sobre o funcionamento dessa nova medida, acredita-se que o órgão responsável pela cobrança das tarifas seria o encarregado, caso as tarifas sejam efetivamente implementadas.
Trump e as tarifas: como o Brasil pode ser afetado?
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ameaçou no final de novembro de 2024 impor tarifas de 100% sobre produtos dos países do Brics, grupo de economias emergentes, incluindo o Brasil, caso esses países tentem substituir o dólar por outra moeda em transações internacionais.
Trump escreveu em sua plataforma Truth Social: “A ideia de que os países do Brics estão tentando se afastar do dólar enquanto ficamos parados assistindo acabou.” Ele afirmou que os países do Brics precisam se comprometer a não criar uma nova moeda nem apoiar qualquer outra moeda para substituir o dólar. Caso contrário, enfrentariam tarifas de 100% e perderiam acesso ao mercado dos EUA.
Ele também disse: “Eles podem procurar outro ‘otário’. Não há chance de o Brics substituir o dólar americano no comércio internacional, e qualquer país que tente terá que dizer adeus aos Estados Unidos.”
Além do Brasil, o Brics inclui África do Sul, China, Índia, Rússia, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia. O Brasil assumirá a presidência do bloco em janeiro de 2025.
Os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, e o principal destino das exportações de produtos manufaturados. Em 2023, o Brasil exportou US$ 36,9 bilhões para os EUA, enquanto para a China foram US$ 104,3 bilhões. As importações dos EUA para o Brasil somaram US$ 38 bilhões.
Se Trump cumprir a ameaça, as tarifas de 100% tornariam mais difícil para os produtos brasileiros entrarem no mercado americano. A equipe de transição de Trump não deu detalhes sobre os planos, e o Brasil ainda não se pronunciou oficialmente sobre as declarações.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), disse à BBC News Brasil que a ameaça é preocupante, pois tarifas de 100% poderiam dobrar os preços dos produtos e reduzir a demanda. No entanto, ele considera improvável que os EUA realmente adotem tarifas tão altas.
Essas declarações fazem parte de uma série de ameaças de Trump sobre tarifas a parceiros comerciais. O presidente eleito também afirmou que pode impor tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, além de 10% sobre produtos da China, para forçar esses países a controlar o ingresso de drogas e imigrantes ilegais nos EUA. Seu primeiro mandato (2017-2021) foi marcado por uma guerra comercial com a China.
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