O cenário do marketing está em constante transformação, especialmente quando falamos sobre como as marcas se relacionam com o público feminino. O relatório “Para onde vamos? Um guia Bits to Brands e WGSN para marcas brasileiras em 2025”, lançado no início deste ano, oferece uma perspectiva profunda sobre as tendências que vão marcar o comportamento das consumidoras nos próximos anos.

Beatriz Guarezi, especialista em branding e fundadora da plataforma Bits do Brands, analisou as conclusões do estudo, que explora movimentos como o marketing do absurdo, o conceito de fandoms e a crononormatividade, e discute como as marcas podem se conectar de forma autêntica com as mulheres de diferentes idades e contextos.
Marketing do absurdo: como conquistar o público feminino sem cair em erros
Uma das tendências destacadas no relatório é o “marketing do absurdo”, que se tornou uma forma eficaz de atrair a atenção das pessoas na internet. Com o aumento das interações online, capturar a atenção do público nunca foi tão desafiador.
A resposta de muitas marcas foi adotar uma abordagem mais ousada e humorística. Contudo, Beatriz alerta que é preciso ter cuidado para não cair em armadilhas de discursos preconceituosos, como piadas misóginas ou racistas.
Marcas como Mountain Dew e Pringles, por exemplo, adotaram campanhas baseadas no nonsense, criando conteúdos que são completamente inesperados e fora do comum. O segredo está em se inserir nas conversas populares sem reforçar estereótipos negativos.
As marcas que conseguem misturar o absurdo de forma criativa, sem ofender ou marginalizar, são aquelas que mais conquistam o público. O Duolingo, conhecido por suas campanhas irreverentes, é um exemplo de como se engajar com o público feminino de maneira autêntica e divertida.
A importância dos fandoms: como marcas estão se conectando com paixões diversas
O conceito de fandoms, um termo que historicamente foi associado ao público feminino, tem ganhado novos contornos. Hoje, qualquer pessoa pode criar e se aprofundar em nichos de interesse específicos, independentemente do gênero. O relatório aponta que as marcas que entendem essa liberdade de escolha são aquelas que mais se destacam.
Beatriz Guarezi ressalta a importância de reconhecer a diversidade de interesses das mulheres. Por exemplo, a crescente popularidade de esportes como a Fórmula 1 entre as mulheres quebra os estereótipos de que tais interesses são exclusivos do público masculino. As marcas devem, portanto, se afastar de categorias demográficas rígidas, como gênero ou classe social, e navegar por interesses compartilhados.
Em um cenário onde as mulheres têm mais liberdade para moldar seus gostos e escolhas, as marcas precisam entender que o marketing deve se adaptar a essa nova realidade. Conectar-se com as paixões e os fandoms das mulheres, seja através da música, filmes ou esportes, é uma forma de se envolver de maneira mais genuína.
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Crononormatividade e as expectativas de idade: como marcas podem representar mulheres de diferentes fases da vida
O conceito de crononormatividade, que trata da pressão social sobre as mulheres para que se comportem conforme as expectativas de cada fase da vida, também foi discutido no relatório. Beatriz explica que a pressão sobre as mulheres para seguir um “cronograma da vida” tradicional – casando-se, tendo filhos e conquistando outros marcos em determinada idade – não reflete mais a realidade da maioria.
As marcas que reconhecem a diversidade de escolhas e experiências entre as mulheres de diferentes idades, que adaptam suas campanhas para representar esses momentos de vida de forma realista, têm mais chances de criar uma conexão verdadeira com seu público.
Ao invés de insistir em estereótipos, como mostrar uma mulher de 30 anos apenas em um papel tradicional de mãe ou esposa, as marcas devem refletir a multiplicidade de experiências dessas mulheres – que podem estar mais focadas em suas carreiras, saúde ou viagens, por exemplo.
A importância da autenticidade e da cidadania empresarial: marcas e seus compromissos sociais
Outro ponto importante do relatório é o conceito de cidadania empresarial, que discute como as marcas devem se posicionar em questões sociais e políticas. No contexto do público feminino, isso significa que as empresas precisam demonstrar um compromisso genuíno com os direitos das mulheres, sem cair em ações superficiais ou de marketing oportunista.
Beatriz enfatiza que as marcas devem “andar de acordo com o que falam” – ou seja, suas ações devem refletir seus discursos. Não adianta criar campanhas de empoderamento feminino se, dentro da própria empresa, as mulheres não ocupam cargos de decisão ou se a empresa não pratica o que prega. A autenticidade é a chave para conquistar a confiança do público feminino.
A evolução do marketing para o público feminino
O marketing direcionado ao público feminino em 2025 será marcado pela flexibilidade, autenticidade e pela capacidade das marcas de se conectarem com um público que é cada vez mais diverso e complexo. As mulheres de hoje não podem ser definidas por um único estereótipo ou por fases rígidas da vida. As marcas que entenderem isso e se adaptarem às novas realidades, respeitando as individualidades e as escolhas desse público, serão aquelas que conquistarão uma posição de destaque no mercado.
Seja através de campanhas mais ousadas, mais sensíveis às questões sociais ou simplesmente mais representativas da realidade das mulheres, o marketing de 2025 tem o potencial de criar uma conexão mais profunda e verdadeira com o público feminino. As marcas que se empenharem em entender as nuances e os desejos das mulheres, em vez de seguir fórmulas antigas e previsíveis, certamente estarão à frente no competitivo cenário atual.
*Entrevistas concedidas ao Meio&Mensagem