Nos últimos anos, a ideia de carros voadores deixou de ser apenas ficção científica para se aproximar cada vez mais da realidade. Um dos principais projetos nesse setor é o da Eve, subsidiária da Embraer, que aposta em uma nova era de mobilidade urbana com os chamados eVTOLs (aeronaves de decolagem e aterrissagem vertical elétrica).
A expectativa é de que, até 2026, esses veículos estejam cruzando os céus das grandes cidades, prometendo reduzir o tempo de deslocamento e aliviar o tráfego terrestre.
Como a Eve pretende monetizar com o Vector
Com o aumento da movimentação aérea, a navegação e o controle do tráfego aéreo tornam-se cruciais para garantir a segurança e eficiência das operações. É aí que entra o Vector, um sistema de gerenciamento de tráfego desenvolvido pela Eve, que deverá ser a primeira fonte de receita da empresa. A previsão é que o Vector comece a ser comercializado em 2025, antes mesmo do início dos voos comerciais dos eVTOLs, que estão programados para 2026.
Atualmente, o tráfego aéreo de helicópteros, os veículos mais próximos dos futuros eVTOLs, ainda é controlado de forma manual, atendendo bem às necessidades atuais. No entanto, com a chegada dos carros voadores e o aumento significativo da movimentação nos céus urbanos, um sistema automatizado de controle se torna indispensável.
O Vector é projetado justamente para suprir essa demanda, permitindo uma organização mais precisa das rotas, intervalos de pouso e decolagem, o que aumenta a segurança e reduz custos.
Segundo Alice Altíssimo, vice-presidente de Gerenciamento de Programas e Operação da Eve, o Vector é uma solução “agnóstica”, ou seja, pode ser usada em eVTOLs de outras fabricantes e até em helicópteros. Isso amplia o potencial de mercado, abrindo possibilidades de venda para operadores de mobilidade aérea e futuros aeroportos para eVTOLs, conhecidos como vertportos.
Já foi realizado alguns testes com carros voadores: entenda o processo
Entre os dias 21 e 25 de outubro, a Eve realizou uma série de testes em parceria com a empresa de táxi aéreo Revo. Durante esses testes, foram simulados diversos cenários operacionais, incluindo atrasos, restrições de espaço aéreo e condições climáticas adversas. Esses cenários testaram a capacidade do Vector de mapear rotas ideais, sugerir alternativas e garantir a segurança em situações que podem ser comuns na rotina de uma cidade movimentada.
De acordo com João Welsh, CEO da Revo, a complexidade do tráfego aéreo já é uma realidade com os helicópteros. Ele destaca a importância do desenvolvimento de um ecossistema seguro e eficiente para que a mobilidade aérea em grande escala se torne viável. A Revo, que possui uma encomenda de 50 eVTOLs da Eve, acredita que esse número pode crescer à medida que a tecnologia avance e a infraestrutura de apoio se desenvolva.
Acessibilidade e custo do transporte aéreo urbano
O custo inicial das viagens de eVTOL é outro fator que a Eve tem como prioridade. A expectativa da empresa é que, com o tempo, o preço por passageiro torne o transporte aéreo acessível a uma parcela maior da população.
Embora o valor inicial de uma passagem de eVTOL deva ser o dobro do cobrado por uma viagem de carro por aplicativo, o CEO da Revo acredita que, com a redução de custos ao longo do tempo e o aumento da demanda, o serviço poderá se tornar mais acessível.
Atualmente, o mercado especula que uma passagem de eVTOL custe em torno de US$ 100 por pessoa, um valor bem inferior à média de US$ 450 cobrada para voos de helicóptero. Essa queda de preço é vista como essencial para atrair um público mais amplo e tornar o serviço uma alternativa viável de transporte nas cidades.
Perspectivas de produção e crescimento do setor
Em termos de produção, a Eve planeja fabricar até 480 aeronaves por ano em sua nova fábrica em Taubaté, São Paulo. Com capacidade modular de produção, a empresa pretende expandir gradualmente, com metas de entregar 120 aeronaves por fase.
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O financiamento de R$ 500 milhões, obtido junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é um indicativo do compromisso da Eve em estabelecer uma infraestrutura sólida para suportar a fabricação em larga escala de eVTOLs.
A projeção da empresa é de que, até 2035, cerca de 450 eVTOLs estejam operando em São Paulo, conectando mais de 30 pontos pela cidade. A implementação de vertportos em locais estratégicos será uma parte importante dessa logística, permitindo que passageiros acessem o serviço de maneira conveniente e eficiente.
Desafios e o futuro dos carros voadores
O desenvolvimento dos carros voadores, ou eVTOLs envolve grandes desafios, como a obtenção de certificações de segurança e o gerenciamento eficiente de um novo tipo de tráfego aéreo.
Apesar das dificuldades, a Eve está otimista com o futuro da mobilidade aérea. A empresa já possui uma carteira de pedidos que totaliza US$ 14,5 bilhões, com 2,9 mil encomendas de eVTOLs feitas por 30 clientes ao redor do mundo.
Além de reduzir o congestionamento nas cidades e promover uma mobilidade mais sustentável, a tecnologia dos eVTOLs pode transformar o modo como pensamos o transporte urbano. Com o avanço do Vector e a criação de uma infraestrutura dedicada, os carros voadores da Eve podem se tornar uma solução viável para o transporte de passageiros, conectando grandes centros e tornando-se parte da paisagem urbana.
A Eve está pronta para dar os primeiros passos em direção a uma nova era da mobilidade urbana, com a comercialização do Vector prevista para 2025 e a entrada dos eVTOLs em operação em 2026. Com investimentos estratégicos e uma abordagem inovadora, a empresa busca tornar os carros voadores uma realidade nos próximos anos.
A jornada até lá é complexa, mas o compromisso com a segurança, a inovação e a acessibilidade aponta para um futuro onde os céus das grandes cidades estarão tão movimentados quanto suas ruas.
Como funcionaria um carro voador?
Os carros voadores utilizam hélices para decolagem vertical e motores elétricos movidos por baterias para propulsão e estabilidade. Eles podem operar tanto em rodovias quanto em trajetos aéreos urbanos.
Além disso, já é possível encomendar carros voadores no Brasil. Porém, mesmo em pré-venda, ainda é necessária a homologação da ANAC para voar no país. Após essa liberação, os carros estarão disponíveis para serem entregues aos compradores.