O Brics, composto atualmente por 10 países membros fixos e outros 13 associados, é um bloco econômico que vem ganhando cada vez mais relevância na economia mundial.
Juntos, os países do grupo – incluindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – representam 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) global e abrigam 45,2% da população mundial.
Além desses números impressionantes, o Brics tem intensificado esforços para criar uma nova governança econômica, buscando alternativas ao sistema financeiro estabelecido em Bretton Woods e à dependência do dólar norte-americano.
A desdolarização como estratégia econômica
Um dos principais objetivos do Brics é reduzir a influência do dólar nas transações internacionais. Essa “desdolarização” é vista como uma forma de diminuir a dependência de economias emergentes em relação aos Estados Unidos, que historicamente têm usado sua moeda como uma ferramenta de influência geopolítica.
Durante a última Cúpula do Brics, a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, criticou o “uso do dólar como arma” por parte dos EUA.
A proposta de criar uma moeda própria para o bloco, embora ainda incipiente, reforça a intenção de estabelecer alternativas ao atual sistema financeiro.
Segundo Vladimir Putin, presidente da Rússia, o projeto também inclui um sistema de pagamento alternativo ao Swift, visando contornar sanções econômicas e fortalecer o comércio entre os países membros.
Lições da União Europeia para o Brics
Especialistas como Robson Gonçalves, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), apontam que o Brics pode se inspirar na experiência da União Europeia (UE). O bloco europeu conseguiu consolidar uma moeda comum e criar um mercado integrado, promovendo maior estabilidade financeira entre seus membros.
Embora o Brics enfrente desafios diferentes, como as disparidades econômicas e políticas entre seus integrantes, o bloco tem potencial para criar mecanismos de financiamento e comércio que favoreçam os interesses do Sul Global.
Segundo Gonçalves, a criação de uma moeda ou fundo alternativo pode fortalecer os laços econômicos entre os países do Brics sem necessariamente polarizar a economia global. Ele defende que o foco deve estar na colaboração, e não na rivalidade, com economias desenvolvidas como os Estados Unidos.
Reformando a governança financeira
O Brics também busca reformar as instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que muitos membros consideram excessivamente influenciados pelos EUA e pela Europa.
Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, destaca que o bloco tem se consolidado como uma alternativa para países que não possuem voz significativa nesses órgãos. A criação do NBD é um exemplo disso.
Com sede em Xangai, o banco oferece financiamento para projetos de desenvolvimento nos países membros, reduzindo a necessidade de recorrer a instituições ocidentais.
Além disso, a expansão recente do Brics, que agora inclui países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia, reforça seu caráter inclusivo e diverso. Essa ampliação amplia o alcance geopolítico do grupo e cria oportunidades para a construção de uma nova ordem econômica multipolar.
O papel do Brasil no Brics
O Brasil desempenha um papel estratégico no Brics, utilizando o bloco como plataforma para projeção de poder e defesa do multilateralismo. De acordo com William Daldegan, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o país ganha ao estreitar laços econômicos e políticos com outras nações emergentes.
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Apesar das críticas de alguns setores sobre a aproximação com o bloco, estar inserido no Brics permite ao Brasil influenciar decisões globais e fortalecer sua posição em fóruns multilaterais.
Embora o país enfrente desafios internos, como o descompasso no Mercosul, a parceria no Brics oferece uma alternativa promissora para ampliar sua relevância internacional.
A participação no bloco também permite ao Brasil diversificar suas relações comerciais e financeiras, reduzindo a dependência de mercados tradicionais.
Um futuro multipolar
Desde sua concepção em 2001, o Brics evoluiu de uma ideia para um bloco estratégico que promove a cooperação entre economias emergentes. A busca por uma nova governança financeira reflete o desejo de seus membros de construir um sistema mais justo e equilibrado.
Ainda que a criação de uma moeda comum ou de um sistema financeiro totalmente independente do Ocidente esteja distante, os avanços já conquistados pelo Brics demonstram seu potencial de transformar a economia global.
À medida que o bloco continua a crescer e se consolidar, ele representa não apenas uma alternativa econômica, mas também uma esperança de maior equilíbrio no cenário internacional. Para o Brasil, a participação no Brics é uma oportunidade de se posicionar como líder em um mundo cada vez mais multipolar.