Em uma decisão que pegou o mercado financeiro de surpresa, o Banco Central (BC) anunciou que realizará um leilão de venda de dólares à vista nesta sexta-feira, 30 de agosto, após a moeda norte-americana atingir R$ 5,62. Esta será a primeira intervenção do BC no mercado à vista desde abril de 2022, quando a autoridade monetária vendeu US$ 571 milhões. A venda desta vez está limitada a US$ 1,5 bilhão.
A decisão do BC ocorre após quatro pregões consecutivos de valorização do dólar, que acumulou um ganho de 2,62% nesta semana. Nos últimos dias, a moeda americana chegou a atingir R$ 5,74, o que gerou grande apreensão no mercado e levantou questionamentos sobre a inércia do Banco Central em momentos anteriores.
1. Expectativa de saída de recursos: Um dos principais fatores que motivaram a intervenção do BC foi a expectativa de saída de cerca de US$ 1 bilhão nesta sexta-feira, decorrente do rebalanceamento do fundo americano EWZ (MSCI Brazil ETF). Esse fundo, que replica o índice de mercado brasileiro e é conhecido como “Ibovespa dolarizado”, vai incluir ações de empresas brasileiras listadas no exterior, como XP e Nubank. A saída desses recursos poderia gerar uma disfunção no mercado de câmbio, o que preocupou as autoridades monetárias.
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2. Temores sobre a formação da Ptax: Além do rebalanceamento do EWZ, outro fator que influenciou a decisão do BC foi o vencimento de contratos futuros, que poderia causar distorções na formação da Ptax, a taxa de referência do câmbio. O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destacou que o BC provavelmente quer evitar que a saída de dólares provoque desajustes na Ptax, o que afetaria as operações de câmbio e geraria mais volatilidade.
3. Contexto internacional e incertezas internas: O cenário internacional também pesou na decisão do BC. Dados fortes da economia dos Estados Unidos, como o crescimento do PIB no segundo trimestre e a redução nos pedidos semanais de auxílio-desemprego, enfraqueceram as expectativas de cortes agressivos nos juros pelo Federal Reserve (Fed).
Isso gerou uma pressão adicional sobre o real, que sofreu uma expressiva depreciação. No plano interno, a nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do BC e as incertezas sobre os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) adicionaram tensão ao mercado, com analistas especulando sobre um possível ciclo de alta na taxa Selic.
O que diz o BC?
O Banco Central frequentemente afirma que suas intervenções visam corrigir disfuncionalidades no mercado, como a falta de liquidez ou uma demanda específica por dólares, e não para determinar o valor do câmbio ou controlar a taxa de câmbio em função do aumento dos prêmios de risco. No entanto, a decisão de realizar o leilão de dólares à vista sinaliza ao mercado que a autoridade monetária está atenta e não permitirá que o câmbio opere fora dos padrões normais.
O leilão está previsto para ocorrer das 9h30 às 9h35 desta sexta-feira e será observado com atenção pelo mercado, que buscará sinais sobre a continuidade ou não de novas intervenções do BC nos próximos dias.