Nesta quinta-feira (15), as taxas de juros futuras no Brasil registraram uma elevação significativa, refletindo a alta nos rendimentos dos Treasuries norte-americanos. Esse movimento foi impulsionado por dados de atividade econômica dos Estados Unidos acima das expectativas, o que levou a uma revisão nas apostas mais otimistas sobre o processo de afrouxamento monetário do Federal Reserve (Fed).
Impacto dos dados econômicos dos EUA
A divulgação de indicadores econômicos robustos nos Estados Unidos, como o aumento de 1% nas vendas do varejo em julho, muito acima da mediana de 0,3%, e a queda maior do que o esperado nos pedidos semanais de auxílio-desemprego, gerou incertezas no mercado. Esses dados sugerem que a economia americana está resistindo melhor do que o previsto, o que diminui as chances de cortes agressivos nas taxas de juros pelo Fed.
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Segundo Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, “o que fez o mercado de juros desandar hoje foram os dados nos Estados Unidos”. Ele acrescenta que, embora ainda exista a expectativa de um corte de 25 pontos-base nas taxas de juros americanas em setembro, as especulações sobre um corte de 50 pontos estão sendo reconsideradas.
Repercussão no Brasil
No Brasil, o impacto dessa recalibragem do mercado foi imediato. As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiram de 10,753% para 10,780%, enquanto as taxas para janeiro de 2026 saltaram de 11,41% para 11,53%. Movimentos similares foram observados nos contratos para 2027 e 2029.
O avanço das taxas de juros domésticas ganhou força ao longo do dia, acompanhando a firme valorização do dólar, que fechou em R$ 5,483, revertendo a queda observada pela manhã. A expectativa de um grande leilão de prefixados pelo Tesouro Nacional também contribuiu para a alta das taxas. O Tesouro vendeu toda a oferta de 1,5 milhão de NTN-F e 8,2 milhões de LTN, das 9 milhões ofertadas, confirmando a demanda pelo mercado.
Ajuste nos Treasuries
Nos Estados Unidos, os yields das T-Notes de 2 e 10 anos também registraram uma alta expressiva de cerca de 10 pontos-base, embora o rendimento do título de 10 anos tenha se mantido abaixo de 4%. William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, destacou que os dados reforçam a percepção de que a economia americana não está caminhando para uma recessão iminente, o que contribui para a redução das apostas em cortes de juros mais agressivos.
O cenário econômico global continua a influenciar diretamente os mercados financeiros no Brasil. A alta nos rendimentos dos Treasuries, impulsionada por dados econômicos sólidos nos EUA, gerou um efeito cascata nas taxas de juros domésticas, evidenciando a interconexão entre as economias. Para os investidores, o foco agora se volta para as próximas decisões do Federal Reserve e as repercussões dessas decisões nos mercados emergentes, como o Brasil.
O que são os Treasuries?
Os Treasuries são títulos de dívida emitidos pelo governo dos Estados Unidos, considerados uma alternativa segura para investimentos e diversificação internacional. Eles incluem diferentes tipos, como os TIPS (Treasury Inflation-Protected Securities), que protegem contra a inflação, e possuem vencimentos de 5, 10 ou 30 anos.
Há duas principais formas de comprar os Treasuries. A primeira é a partir da compra de BDRs (Brasilian Depositary Receipts) e a segunda pelos ETFs (Exchange Traded Fund). Os ativos são negociados na B3 e refletem o comportamento da dívida pública