O possível retorno do horário de verão levanta dúvidas sobre sua eficácia no enfrentamento da crise energética no Brasil
O possível retorno do horário de verão, em discussão pelo governo federal, gera dúvidas sobre sua eficácia na mitigação da crise energética no Brasil. Pedro Colleta, analista de energia da Equus Capital, alerta que a medida pode não ser suficiente para resolver os desafios enfrentados pelo setor, especialmente com o aumento do consumo de energia em dias quentes. “Horário de verão não é solução para crise energética”, afirma.
“O sucesso do horário de verão em reduzir a carga depende fortemente da intensidade das ondas de calor. Diferentemente do passado, quando as luzes incandescentes das residências eram responsáveis por grande parte do consumo ao anoitecer, atualmente, o grande vilão são os aparelhos de ar condicionado, que perdem eficiência com o aumento da temperatura ambiente. Por isso, apenas o horário de verão não resolverá a crise energética”, afirma Colleta.
Horário de verão interrompido em 2019
O horário de verão foi abolido em 2019, após o governo avaliar que sua contribuição para a economia de energia se tornara marginal, especialmente com a mudança do perfil de consumo no país.
Agora, com o aumento das temperaturas e a maior pressão sobre o sistema elétrico, sua volta está sendo considerada como tentativa de aliviar a demanda em horários de pico.
Discussão sobre eficiência energética
Para Colleta, a discussão sobre a eficiência energética deve ir além do ajuste do relógio. “Se a intenção é enfrentar a crise energética, é necessário pensar em outras medidas, como a modernização do parque elétrico, a promoção de fontes alternativas de energia e o incentivo ao uso de tecnologias mais eficientes. O horário de verão pode ajudar, mas não será a solução completa para os desafios do setor”, conclui o analista.
Com a decisão iminente, o debate sobre adiantar ou não os relógios destacam a complexidade da crise energética no Brasil, que exige soluções integradas e um planejamento robusto para garantir a segurança e a sustentabilidade do fornecimento de energia no País.
Quando começava e acabava o horário de verão?
Segundo o Decreto nº 6.558, de 08 de setembro de 2008, modificado pelo Decreto nº 9.242, de 15 de dezembro de 2017, o horário de verão ficava instituído no Brasil da seguinte forma:
“A partir de zero hora do primeiro domingo do mês de novembro de cada ano, até zero hora do terceiro domingo do mês de fevereiro do ano subsequente, em parte do território nacional, adiantada em sessenta minutos em relação à hora legal. No ano em que havia coincidência entre o domingo previsto para o término da Hora de Verão e o domingo de carnaval, o encerramento ocorria no domingo seguinte”.
Em quais estados era aplicado? Norte e nordeste também?
Nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.
Em um contexto em que a iluminação respondia por parcela significativa do consumo de energia elétrica do Brasil, percebeu-se que o horário de verão era mais eficaz nas regiões mais distantes da Linha do Equador, onde havia uma diferença significativa na luminosidade do dia entre o Verão e o Inverno.
Nos Estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, os dias de verão são mais longos que no Norte e Nordeste. Assim, era possível estimular as pessoas e as empresas a encerrarem suas atividades com a luz do sol ainda presente, evitando que muitos equipamentos estivessem ligados quando a iluminação noturna era acionada. No Norte e Nordeste, houve poucos impactos elétricos e energéticos nos Estados que adotaram o horário de verão.