O mercado financeiro brasileiro iniciou a quarta-feira (06) sob pressão após a confirmação da vitória de Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. O resultado trouxe instabilidade ao Ibovespa, que recuou mais de 1% no início do pregão, enquanto o dólar subia, alcançando a marca de R$ 5,78. Esse cenário reflete uma série de preocupações dos investidores sobre o impacto das políticas econômicas e geopolíticas do governo Trump, além de fatores internos que ainda geram incertezas.
Contexto internacional e impacto no mercado
A vitória de Trump surpreendeu muitos analistas e trouxe um clima de cautela aos mercados globais, em especial nos países emergentes. Historicamente, Trump tem adotado políticas protecionistas e inflacionárias, que tendem a aumentar as tensões comerciais com outras economias, incluindo emergentes como o Brasil.
Essa abordagem econômica pressiona o mercado, uma vez que investidores tendem a buscar maior segurança, transferindo seus investimentos para ativos considerados menos arriscados.
Nos Estados Unidos, os rendimentos dos Treasuries – títulos do Tesouro norte-americano – aumentaram devido à expectativa de inflação e à possível continuidade de cortes de impostos defendidos pelo partido republicano.
Com o retorno de Trump ao poder, os investidores vislumbram uma manutenção de suas políticas fiscais, o que pode impulsionar a inflação e manter as taxas de juros em patamares elevados. O rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos EUA chegou a 4,4452%, um aumento em relação ao dia anterior, o que pressiona ativos de mercados emergentes, como o Brasil.
Segundo Oliver Blackbourn, gestor da Janus Henderson, a elevação dos rendimentos dos títulos ocorre em função das expectativas de aumento da inflação e de novas medidas fiscais dos republicanos. Esses fatores impactam não apenas os Estados Unidos, mas geram uma onda de aversão ao risco em outros mercados, resultando em desvalorização da moeda local e aumento da cotação do dólar.
Ibovespa recua mais de 1% e dólar ultrapassa R$ 5,78
Por volta das 10h38, o Ibovespa registrava uma queda de 1,12%, situando-se em 129.202,07 pontos. Esse índice é uma referência do mercado acionário brasileiro e seu desempenho reflete o comportamento dos investidores em relação ao cenário internacional e doméstico. Com a vitória de Trump, investidores ajustam suas posições, mostrando receio quanto aos efeitos da política externa americana sobre a economia global e, principalmente, sobre os países emergentes.
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Enquanto isso, o dólar à vista subia 0,61%, sendo negociado a R$ 5,7858. A alta do dólar tem um impacto direto na inflação interna, aumentando o custo de importações e pressionando preços de produtos como combustíveis e alimentos. Isso preocupa o mercado brasileiro, que ainda enfrenta um cenário fiscal desafiador.
Expectativas sobre o pacote fiscal brasileiro
No Brasil, a atenção dos investidores também se volta para o pacote fiscal que o governo pretende implementar. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a rodada de reuniões com os ministros responsáveis pelas medidas já foi concluída. A expectativa é de que o governo apresente um conjunto de iniciativas para conter os gastos públicos e, assim, garantir o cumprimento do arcabouço fiscal.
Esse pacote é visto como crucial para estabilizar a economia brasileira, pois uma postura mais rígida do governo em relação aos gastos poderia ajudar a conter a pressão inflacionária. A contenção de gastos é um tema sensível para o mercado, pois a falta de controle sobre o orçamento pode levar ao aumento da dívida pública e comprometer a credibilidade do país.
Além disso, a decisão de juros do Banco Central, esperada para o fim do dia, também gera ansiedade entre os investidores. A expectativa do mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a taxa Selic em 50 pontos-base, o que ajudaria a conter a inflação e a valorizar o real frente ao dólar.
Geopolítica e decisão de juros nos EUA
A vitória de Trump também reacende preocupações quanto a possíveis tensões geopolíticas. Em seu primeiro mandato, Trump adotou posturas firmes em relação à China e ao Oriente Médio, o que gerou volatilidade nos mercados globais. Analistas acreditam que um segundo mandato pode trazer desafios semelhantes, aumentando a aversão ao risco dos investidores.
Na quinta-feira, o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, anunciará sua próxima decisão sobre a taxa de juros. A expectativa é de que o Fed reduza a taxa em 25 pontos-base, em um movimento para impulsionar a economia americana. No entanto, com a chegada de Trump, o Fed pode adotar uma postura mais cautelosa, dependendo de como a política fiscal se desenrolará sob a nova administração.
Mercado doméstico: resultados corporativos e expectativas
Além do cenário político, os resultados corporativos também movimentam o mercado. Empresas como Gerdau, que anunciou um desempenho positivo e dividendos, registraram valorização de suas ações, com alta de 6,2%. Por outro lado, o GPA apresentou queda de 4,69% em razão de um desempenho trimestral abaixo do esperado. Esses resultados corporativos ajudam a compor o panorama geral do mercado, onde investidores reavaliam suas carteiras.
A curva de juros brasileira segue a trajetória dos Treasuries, com as taxas de Depósitos Interfinanceiros (DI) registrando altas, especialmente nas opções de longo prazo. Esse movimento reflete as expectativas do mercado quanto à política monetária nacional e à influência das condições internacionais sobre a economia brasileira.
Perspectivas para o mercado brasileiro
A volta de Trump ao poder coloca os mercados emergentes em alerta, e o Brasil não é exceção. A alta do dólar e o recuo do Ibovespa indicam que o país precisa lidar com desafios externos, como a política monetária dos EUA e as incertezas fiscais internas.
Os próximos dias serão determinantes para avaliar o impacto das políticas econômicas dos EUA, além das decisões do Banco Central brasileiro e do pacote fiscal. A trajetória da economia brasileira estará ligada tanto às políticas internacionais quanto ao comprometimento do governo com o controle fiscal e com uma política econômica sólida.