Inflação na meta só em 2026, diz ex-diretor do Banco Central

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e colunista do CNN Money, afirmou recentemente que a inflação no Brasil deve levar mais tempo para alcançar a meta de 3%. Segundo ele, esse objetivo só será atingido em 2026, devido a uma série de desafios econômicos que o país enfrenta atualmente.

Volpon explicou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), um indicador que mede a prévia da inflação oficial, chegou a mais de 4,5% nos últimos 12 meses. Esse nível não era visto desde dezembro do ano passado e mostra que o controle da inflação ainda está longe do ideal.

Ele destacou que, ao observar os “núcleos” da inflação, que analisam os movimentos mais permanentes dos preços, muitas dessas medidas ainda estão acima da meta. Isso significa que o problema não é apenas temporário, mas estrutural, exigindo ações mais firmes para ser resolvido.

Gráfico mostrando projeções da inflação no Brasil até 2026.
Tony Volpon prevê que a inflação no Brasil só chegará à meta de 3% em 2026, devido a desafios econômicos e falta de controle fiscal |Foto: Reprodução/Freepik

Taxa de juros e desafios do Banco Central

Segundo Tony Volpon, a taxa de juros atual, definida pelo Banco Central, não tem sido suficiente para frear o aumento dos preços. Hoje, o Brasil enfrenta uma combinação de fatores complicados: a economia está crescendo, o mercado de trabalho está aquecido, e o governo tem promovido um forte estímulo fiscal, ou seja, está gastando muito para incentivar o crescimento econômico.

Por conta disso, Volpon acredita que será necessário manter os juros acima de 14% por mais tempo para conter a inflação. Juros altos tornam o crédito mais caro e ajudam a reduzir o consumo, o que diminui a pressão sobre os preços. No entanto, essa estratégia também tem consequências, como o impacto negativo no crescimento econômico e na geração de empregos.

Outro ponto levantado foi a saída de Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central. Volpon alertou que a nova equipe da instituição terá grandes desafios pela frente. Entre eles, estará o equilíbrio entre controlar a inflação e não prejudicar demais a economia.

Problemas com o orçamento

Volpon também criticou o governo pela demora em apresentar um plano claro para cortar gastos públicos. Segundo ele, um dos maiores desafios é lidar com a “indexação” do orçamento.

A indexação significa que muitas despesas do governo, como salários e benefícios, são ajustadas automaticamente com base na inflação. Isso faz com que os gastos cresçam rapidamente, mesmo quando o governo tenta economizar em outras áreas.

Para Volpon, é essencial que o governo encontre uma solução para esse problema. Caso contrário, será muito difícil cumprir o teto de gastos, uma regra que limita o crescimento das despesas públicas. Ele destacou que o mercado financeiro está esperando medidas concretas para resolver essa questão, o que pode influenciar a confiança de investidores no país.

Tarifas comerciais e riscos globais

Outro tema abordado por Tony Volpon foi o impacto das recentes declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre tarifas comerciais. Trump anunciou que pretende aplicar tarifas de 25% sobre produtos importados de países como México e Canadá.

Volpon explicou que essas tarifas funcionam como um “choque de oferta negativo”. Isso significa que, ao tornar os produtos mais caros, elas podem desorganizar as cadeias globais de suprimentos, prejudicando o comércio internacional e a produção de bens em vários países.

Se México e Canadá decidirem retaliar essas medidas, o impacto pode ser ainda maior, criando uma espécie de guerra comercial. Nesse cenário, os mercados emergentes, como o Brasil, podem ser ainda mais afetados, pois dependem de um ambiente global estável para atrair investimentos e crescer economicamente.

Cenário global mais difícil

Tony Volpon também chamou atenção para o fato de que o cenário externo está se tornando mais complicado para países emergentes. Além das tensões comerciais, há uma percepção entre investidores de que o governo brasileiro não está totalmente comprometido com o controle das contas públicas.

Essa falta de confiança pode tornar mais difícil para o Brasil atrair recursos do exterior, necessários para financiar projetos de infraestrutura e impulsionar o crescimento econômico.

Ele concluiu dizendo que o Brasil precisará de muito esforço e planejamento para superar esses desafios. Será necessário equilibrar o controle da inflação, o crescimento econômico e a sustentabilidade fiscal, tudo isso em um cenário global cada vez mais desafiador.

Perspectivas para o futuro

Controlar a inflação e alcançar a meta de 3% será uma tarefa longa e complexa, segundo Tony Volpon. Isso exigirá uma combinação de medidas, como manter juros elevados, reduzir os gastos do governo e atrair investimentos externos.

Por outro lado, as decisões de outros países, como os Estados Unidos, também terão impacto no Brasil. Um ambiente internacional instável pode dificultar ainda mais os esforços internos para melhorar a economia.

Portanto, o cenário é de incerteza e exige atenção tanto do governo quanto do Banco Central. A população também sentirá os efeitos dessas medidas no dia a dia, seja por meio de juros altos, impostos ou mudanças nos programas sociais.

O caminho para estabilizar a inflação e garantir um crescimento sustentável será desafiador, mas é essencial para o futuro do país.

Leia também: Inflação: economistas destacam soluções para além dos juros

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