Aumentar a taxa de juros é uma ferramenta utilizada pelo Banco Central para tentar controlar a inflação. Ao elevar os juros, o objetivo é desestimular o consumo e os investimentos, reduzindo a demanda na economia e, consequentemente, a pressão sobre os preços.
No entanto, a alta dos preços persistente, mesmo com a elevação dos juros, indica que outros fatores podem estar contribuindo para a inflação, como choques de oferta, desvalorização da moeda e expectativas inflacionárias mais altas.
Diante desse cenário, economistas estão debatendo a necessidade de adotar medidas complementares à política monetária para conter a inflação.
O IPCA-15, um termômetro que mede a variação dos preços que a gente paga no dia a dia, subiu mais do que o esperado em novembro. Isso significa que os produtos e serviços ficaram mais caros comparado ao mês anterior. Essa alta contínua da inflação, que já acumula 4,77% nos últimos 12 meses, preocupa porque está acima do que o Banco Central gostaria.
O objetivo é manter a inflação em torno de 3% por ano, para que o dinheiro não perca o valor tão rápido. Mesmo com os juros subindo para tentar controlar a inflação, os preços continuam subindo, o que acaba afetando o bolso de todo mundo.
No início deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar os juros da economia brasileira. Essa taxa, chamada de Selic, subiu 0,5 ponto percentual, chegando a 11,25% ao ano. É como se o custo para pegar dinheiro emprestado tivesse aumentado.
Essa decisão significa que os bancos também vão aumentar os juros dos seus empréstimos, como os financiamentos de carros e casas. Por outro lado, a poupança pode ficar mais atrativa. Essa mudança nos juros é uma forma de controlar a inflação, que é o aumento geral dos preços. A ideia é que, com juros mais altos, as pessoas tendam a gastar menos, o que pode ajudar a controlar a inflação.
Em entrevista ao CNN Money, o economista Diego Hernandez, fundador da Ativa Investimentos, alertou que a elevação dos juros por si só não será suficiente para controlar a inflação. “Existem dados que podem estar sendo pressionados artificialmente pela política fiscal. E a política monetária, isoladamente, não vai ser suficiente para conter a alta da inflação”, destacou. Ele acrescentou que, se o lado fiscal não for tratado, o trabalho do novo presidente do Banco Central será mais difícil, com juros possivelmente mais altos e sem grandes efeitos sobre a economia real.
O que dizem os especialistas sobre os ajustes fiscais?
Para os especialistas em economia, é fundamental que o governo controle seus gastos. Isso é como fazer um orçamento em casa: se gastarmos mais do que ganhamos, as contas ficam desordenadas. No caso do governo, quando os gastos são muito altos, os preços dos produtos e serviços tendem a subir, o que chamamos de inflação. Para controlar essa inflação, o Banco Central costuma aumentar a taxa de juros. Mas se o governo gastar menos, essa pressão sobre os juros diminui.
O economista Paulo Gala, do Banco Master, explicou que a economia brasileira está muito aquecida no momento. Isso é bom porque significa que as pessoas estão trabalhando e consumindo mais, mas também pode causar problemas se não for controlado. Por isso, o governo precisa anunciar medidas para gastar menos dinheiro. Essas medidas são chamadas de ajustes fiscais.
Gala acredita que esses ajustes são importantes para “desacelerar” a economia e evitar que a inflação aumente ainda mais. Em outras palavras, o governo precisa frear um pouco os gastos para que os preços não subam tanto. E qual é a vantagem disso? Se a inflação estiver controlada, o Banco Central pode manter os juros mais baixinhos, o que beneficia a todos, pois facilita a compra de casas, carros e outros bens.
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, alertou que o governo está colocando muito dinheiro na economia, mais do que o necessário. Essa injeção de dinheiro extra, chamada de “impulso fiscal”, está fazendo a economia crescer muito rápido e causando um problema: a inflação, que é o aumento geral dos preços.
Para a economista, o ideal seria que o governo gastasse menos para que a economia crescesse de forma mais calma e sem causar problemas como a inflação. “É como se a gente estivesse acelerando um carro demais e agora precisássemos tirar o pé do acelerador para não causar um acidente”, explicou Rafaela.
Felipe Salto, economista-chefe da Warren, apontou que a alta do dólar está pressionando os preços no Brasil. Isso acontece porque muitos produtos que consumimos são importados ou têm componentes importados, e com o dólar mais caro, esses produtos ficam mais caros para as empresas e, consequentemente, para os consumidores.
Segundo Salto, essa situação se agrava devido às incertezas em relação às políticas econômicas do governo, principalmente no que diz respeito às contas públicas. “Enquanto não houver um ajuste nas contas públicas, a pressão sobre o câmbio e a inflação deve continuar. Por isso, o pacote fiscal anunciado pelo governo é tão importante. Ele pode ajudar a tranquilizar os mercados e a estabilizar a moeda”, explicou.
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