A desvalorização do real em relação ao dólar ao longo de 2024 foi atribuída principalmente a fatores domésticos, de acordo com o Banco Central (BC). Em carta aberta enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o órgão destacou que a percepção negativa do mercado sobre a condução da política fiscal foi um dos principais elementos que influenciaram o movimento cambial.
A carta, assinada pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, mencionou que a desvalorização do real foi a mais acentuada entre as moedas de países emergentes e avançados em 2024. O texto aponta que a percepção dos agentes econômicos sobre a condução fiscal do governo foi determinante nesse processo, elevando o prêmio de risco e pressionando os preços de ativos e a taxa de câmbio.
Além disso, o BC ressaltou que a atividade econômica em ritmo acelerado e fatores climáticos adversos também contribuíram para a inflação, dificultando o cumprimento da meta estabelecida para o ano.
Inflação acima da meta
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do país, encerrou 2024 em 4,83%. Embora abaixo das projeções mais pessimistas, o número ficou acima do teto da meta, fixada em 4,5%, com centro em 3%.
Esse descumprimento marcou a oitava vez na história que o BC não atingiu a meta inflacionária. Em sua nota, a instituição reconheceu os desafios e reiterou o compromisso em buscar a convergência da inflação para a meta em 2025.
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A relação entre a desvalorização e a inflação
A desvalorização do real tem impacto direto na inflação, especialmente em um cenário de alta do dólar. Produtos importados, como combustíveis e insumos agrícolas, sofrem aumento nos preços, o que gera uma pressão inflacionária que se espalha pela economia.
Esse efeito foi agravado por fatores climáticos, que encareceram alimentos, e pela percepção de risco associada ao cenário fiscal brasileiro. A combinação de fatores resultou em uma inflação mais elevada do que o esperado, o que afeta diretamente o poder de compra da população.
Percepção do mercado e expectativas
O cenário fiscal brasileiro, que envolve o equilíbrio entre receitas e despesas públicas, tem sido um ponto de atenção para investidores. A percepção de que o governo pode não conseguir cumprir metas fiscais estabelecidas aumenta a insegurança do mercado, elevando a taxa de câmbio e afetando as expectativas inflacionárias.
Essa dinâmica reforça a importância de uma política fiscal mais alinhada à estabilidade econômica, especialmente em um contexto de volatilidade internacional e desafios domésticos.
O que esperar para 2025?
O BC prevê que a inflação continue acima da meta até o terceiro trimestre de 2025, mas reafirma seu compromisso com medidas para conter os aumentos de preços.
A carta destaca ainda que o cenário internacional pode trazer novos desafios, como mudanças nas taxas de juros dos Estados Unidos, que impactam o fluxo de capital para mercados emergentes como o Brasil. No entanto, o foco está em ajustar as políticas domésticas para mitigar os efeitos negativos e retomar a confiança dos agentes econômicos.
A desvalorização do real em 2024 reflete não apenas fatores externos, mas principalmente questões internas, como a percepção de fragilidade na condução fiscal. Isso ressalta a necessidade de maior rigor nas políticas econômicas para reconquistar a confiança do mercado e estabilizar a moeda.
Para o consumidor, os efeitos se traduzem em uma inflação mais alta e um poder de compra reduzido. Com desafios que se estendem para 2025, o Brasil precisa de ajustes significativos para equilibrar sua economia e criar um ambiente mais estável para o futuro.