As políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trazem preocupações significativas para a economia brasileira, especialmente após sua posse em janeiro de 2025. Economistas destacam riscos para exportações, inflação e a balança comercial, com possíveis reflexos em setores estratégicos.
Trump já anunciou que pretende implementar tarifas e impostos mais rígidos sobre produtos importados. A medida visa proteger a economia americana, mas pode impactar negativamente países parceiros, incluindo o Brasil, ao dificultar o acesso ao mercado norte-americano.
Confira os principais impactos:
1. Exportações brasileiras em risco
Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, que somaram mais de US$ 40 bilhões (o equivalente a quase R$242 bilhões) em 2024. Produtos de ferro, aço, celulose e petróleo lideram as vendas. Contudo, as tarifas prometidas por Trump podem reduzir a competitividade desses produtos no mercado americano.
Otaviano Canuto, ex-diretor do FMI, alerta que as restrições podem ser especialmente severas para setores como metalurgia e siderurgia, que já enfrentaram obstáculos durante o primeiro mandato de Trump. “As tarifas acabam prejudicando o exportador, que recebe menos pelo produto devido à valorização do dólar”, explica em entrevista à CNN.
Além disso, um cenário de redução nas exportações afetaria diretamente a balança comercial brasileira, que em 2024 apresentou um déficit de US$253 milhões (aproximadamente R$15 bilhões) com os EUA.
2. Inflação e juros altos nos EUA
Outra consequência esperada das políticas tarifárias de Trump é o aumento da inflação nos Estados Unidos. De acordo com economistas, as tarifas sobre produtos importados elevam os custos para consumidores e empresas americanas, pressionando os preços internos.
O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, pode prolongar o ciclo de juros altos para controlar a inflação. Essa medida atrai capital internacional para os Estados Unidos, fortalecendo o dólar e dificultando o acesso de outros países, como o Brasil, a investimentos estrangeiros.
Joelson Sampaio, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma em entrevista à CNN que “juros altos nos EUA reduzem o fluxo de capital para mercados emergentes, dificultando investimentos e o crescimento econômico”.
3. Impactos indiretos via China
As tarifas de Trump também podem afetar o Brasil de forma indireta, principalmente por meio da China, principal parceira comercial brasileira. Em 2024, o país asiático foi responsável por 28% das exportações do Brasil.
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Se a economia chinesa desacelerar devido a restrições impostas pelos EUA, a demanda por produtos brasileiros, como soja, carne e minério de ferro, pode cair. “Uma política protecionista dos EUA pode desencadear uma desaceleração global, afetando tanto parceiros diretos quanto indiretos”, alerta Sampaio.
4. Riscos de guerra comercial
Trump já mencionou que pretende taxar produtos de outros países como estratégia para beneficiar a economia americana. No entanto, especialistas apontam o risco de retaliações por parte dos países atingidos, gerando uma guerra comercial.
“Esse jogo de ação e retaliação pode levar a perdas globais, mesmo que, no curto prazo, os EUA pareçam ganhar”, explica Otaviano Canuto.
O Brasil, com sua dependência de exportações de commodities, seria diretamente afetado por instabilidades nos mercados globais.
5. Setores estratégicos brasileiros sob ameaça
Além de produtos metalúrgicos, setores como petróleo, combustíveis e alimentos também podem sofrer com as novas políticas americanas. O petróleo, responsável por 14% das exportações brasileiras para os EUA, está no centro das preocupações.
Empresas brasileiras que dependem do mercado americano precisariam buscar alternativas para diversificar mercados e reduzir os impactos das tarifas.
Como o Brasil pode reagir?
Diante desse cenário desafiador, é essencial que o Brasil adote estratégias para minimizar os impactos das políticas de Trump. Isso inclui:
- Diversificar mercados: investir em parcerias comerciais com países da Europa, Ásia e América Latina.
- Fortalecer a indústria nacional: aumentar a competitividade e agregar valor aos produtos exportados.
- Acompanhar as políticas globais: estar atento às movimentações econômicas internacionais e suas consequências.
A política protecionista dos EUA representa um desafio significativo para o Brasil. No entanto, com planejamento estratégico e busca por novos parceiros comerciais, é possível mitigar os efeitos e garantir o crescimento econômico.