A libra esterlina alcançou seu menor nível em mais de um ano, enquanto os custos de empréstimos no Reino Unido atingiram o maior patamar em 16 anos. Essa combinação acendeu o alerta de economistas, que preveem consequências preocupantes para a economia britânica e seus cidadãos.
A moeda britânica recuou 0,9%, valendo US$ 1,226 (equivalente a R$7,14), na última quinta-feira. Normalmente, a libra tende a se valorizar com o aumento nos custos de empréstimos, mas as incertezas sobre a força da economia do Reino Unido causaram um efeito oposto.
Por que a libra está caindo?
A queda está diretamente relacionada à alta nos custos de empréstimos. O governo do Reino Unido, como outros países, financia parte de suas despesas por meio de empréstimos obtidos pela venda de títulos públicos. Esses títulos funcionam como uma promessa de pagamento futuro com juros, sendo sensíveis a flutuações no mercado financeiro.
Com os rendimentos dos títulos públicos de 10 anos atingindo 4,9% — o maior nível desde 2008 — o governo enfrenta desafios para equilibrar suas contas. Como destacou Mohamed El-Erian, consultor econômico da Allianz, esses juros mais altos consomem uma fatia maior da arrecadação tributária, reduzindo os recursos disponíveis para outros gastos públicos.
Além disso, o aumento dos custos de empréstimos reflete uma preocupação global com os níveis de dívida e desaceleração econômica. No caso britânico, o cenário é agravado pelo crescimento estagnado e pelos impactos contínuos do Brexit, que seguem afetando o comércio e a confiança de investidores.
Impactos no dia a dia dos cidadãos
As consequências da queda da libra e da alta nos custos de empréstimos não se limitam ao mercado financeiro. Elas se traduzem em efeitos diretos e indiretos na vida dos britânicos, como:
- Inflação importada: uma moeda mais fraca encarece produtos e matérias-primas importadas, pressionando a inflação. Isso pode elevar o custo de itens essenciais, como alimentos e combustíveis.
- Juros mais altos: a elevação nos rendimentos dos títulos públicos também impacta o mercado de hipotecas, tornando financiamentos imobiliários mais caros. Com isso, as prestações mensais das famílias podem aumentar, reduzindo o poder de compra.
- Corte de gastos públicos: o governo pode ser obrigado a cortar despesas ou aumentar impostos para compensar os custos mais altos de empréstimos, afetando serviços como saúde e educação.
Reações do governo e especialistas
Diante desse cenário, o governo britânico descartou, por ora, qualquer intervenção emergencial. Darren Jones, ministro do Tesouro, declarou que o mercado está funcionando de forma ordenada e que as decisões fiscais continuam alinhadas às regras autoimpostas pelo governo, como evitar empréstimos para financiar despesas diárias.
No entanto, economistas alertam para o risco de que essas regras acabem limitando ainda mais o crescimento econômico. Segundo Danni Hewson, analista da AJ Bell, o aumento nos custos de empréstimos cria um dilema para o governo, que tenta ampliar gastos públicos sem elevar impostos ou romper suas diretrizes fiscais.
Para Mohamed El-Erian, o cenário atual não apenas restringe a capacidade de investimento do governo, mas também coloca pressão adicional sobre o Banco da Inglaterra, que precisará encontrar um equilíbrio delicado entre controlar a inflação e estimular o crescimento econômico.
Comparações e contexto global
Embora a situação do Reino Unido tenha suas peculiaridades, o aumento nos custos de empréstimos é um fenômeno global. Nos Estados Unidos, por exemplo, os rendimentos de títulos públicos também subiram, impulsionados por preocupações com políticas econômicas protecionistas e inflação.
A diferença, segundo analistas, é que o Reino Unido enfrenta um crescimento mais fraco e um cenário fiscal mais apertado, agravando os efeitos da crise. Comparações com episódios anteriores, como o mini-orçamento de Liz Truss em 2022, mostram que a situação atual é mais complexa, com influências globais e domésticas se entrelaçando.
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O que esperar para o futuro?
Especialistas preveem que a economia britânica enfrentará mais desafios nos próximos meses. O governo só divulgará novos planos fiscais em março, após a previsão oficial de empréstimos feita por seu analista independente. Até lá, os mercados continuarão atentos a sinais de estabilidade ou deterioração.
A vice-governadora do Banco da Inglaterra, Sarah Breeden, afirmou que o banco está monitorando os movimentos no mercado de títulos e que, até o momento, tudo está sob controle. Contudo, a alta nos custos de empréstimos e a queda da libra ressaltam a necessidade de ajustes estruturais para garantir a resiliência da economia.
A queda da libra e a alta dos custos de empréstimos no Reino Unido refletem uma combinação de fatores internos e externos, com implicações significativas para a economia e os cidadãos. O governo britânico enfrenta um cenário desafiador, que exigirá medidas equilibradas para proteger o crescimento econômico e manter a confiança dos mercados.
Para os britânicos, a situação reforça a necessidade de planejamento financeiro, diante de possíveis aumentos nos custos de vida e cortes nos serviços públicos. A evolução desse cenário será um teste crucial para a liderança econômica do Reino Unido em 2025.