A recente edição do Big Mac Index, publicado pela revista The Economist, revelou uma situação curiosa para a economia da América do Sul: o peso argentino está sobrevalorizado em cerca de 20%, enquanto o real brasileiro aparece como uma das moedas mais desvalorizadas. Essa diferença cambial faz com que turistas argentinos vejam o Brasil como um destino extremamente barato, especialmente para alimentação e compras.
O fenômeno ficou ainda mais evidente neste verão, quando visitantes do país vizinho começaram a compartilhar vídeos nas redes sociais demonstrando sua surpresa com os preços baixos no Brasil. Mas o que isso realmente significa para a economia de ambos os países?

O que é o Big Mac Index?
Criado pela The Economist em 1986, o Big Mac Index é um indicador econômico baseado na teoria da paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês).
Essa teoria sugere que, ao longo do tempo, as taxas de câmbio devem se ajustar para que um mesmo produto – no caso, o sanduíche Big Mac – tenha um preço equivalente em diferentes países.
Ou seja, se um Big Mac custa mais caro em um país do que em outro (quando convertido para a mesma moeda), pode ser um sinal de que a moeda do primeiro está sobrevalorizada ou que a do segundo está desvalorizada.
O peso argentino e o real no Big Mac Index
De acordo com a edição de janeiro do índice:
- Argentina: um Big Mac custa 7.300 pesos, o equivalente a US$ 6,95 (equivalente a R$40), tornando o sanduíche 20% mais caro que nos Estados Unidos. Isso indica que o peso argentino está acima do seu valor real em relação ao dólar.
- Brasil: no país, o mesmo Big Mac custa R$ 23,90, o que equivale a US$ 4, um preço 30,5% mais baixo que o dos EUA. Esse dado reforça a ideia de que o real está desvalorizado.
O único país onde o sanduíche é ainda mais caro do que na Argentina é a Suíça, onde um Big Mac custa US$ 8 (R$ 46,10), com uma sobrevalorização de 38%.
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O impacto no turismo: Argentina vê Brasil como paraíso das compras
Com o peso forte e o real fraco, turistas argentinos que chegam ao Brasil encontram preços muito mais baixos do que em seu próprio país. Isso se reflete não apenas nos restaurantes, mas também em supermercados e lojas.
Nas redes sociais, argentinos compartilham sua surpresa com o custo de vida no Brasil. Em um vídeo que viralizou, uma turista em Florianópolis mostrou que conseguiu comprar quatro Big Macs, dois hambúrgueres, batatas fritas e refrigerantes por 20.000 pesos argentinos, um preço impensável em Buenos Aires.
“Vamos falar sobre como o McDonald’s é barato no Brasil. Tudo é absolutamente barato”, comentou outra turista em sua viagem ao país durante vídeo no TikTok.
A situação lembra o fenômeno do “¡dame dos!”, expressão que se popularizou anos atrás, quando argentinos encontravam produtos tão baratos no Brasil que simplesmente pediam o dobro do que planejavam comprar.
O que explica essa diferença de preços?
A discrepância entre os preços no Brasil e na Argentina pode ser explicada por alguns fatores:
- Inflação e política cambial na Argentina: o governo argentino tem adotado políticas para manter o peso artificialmente valorizado. Isso significa que, ao trocar pesos por dólares ou reais, os argentinos acabam com um poder de compra maior no Brasil.
- Desvalorização do real: o real tem passado por um período de fraqueza em relação ao dólar, o que torna produtos e serviços no Brasil mais baratos para estrangeiros.
- Diferenças no custo de vida: a Argentina tem registrado uma inflação muito elevada, tornando produtos básicos, como comida e vestuário, mais caros no país. Já no Brasil, apesar da inflação, os preços ainda são mais acessíveis para turistas estrangeiros.
O que pode mudar no futuro?
Se o governo argentino decidir adotar uma política cambial mais flexível, o peso pode se desvalorizar, reduzindo essa diferença de preços entre os países. Da mesma forma, se o real voltar a se valorizar, o Brasil pode deixar de ser um destino tão barato para turistas argentinos.
Por enquanto, porém, a situação favorece quem viaja do país vizinho para o Brasil. Resta saber se, nos próximos anos, o cenário mudará ou se o “¡dame dos!” voltará a ser uma realidade para os argentinos no Brasil.