Amazonizando: o impacto da economia criativa nas comunidades quilombolas

As comunidades quilombolas do Brasil têm uma história rica de resistência e preservação cultural, enfrentando desafios econômicos e sociais ao longo dos séculos. Nos últimos anos, iniciativas como o projeto Amazonizando têm desempenhado um papel crucial na transformação econômica dessas comunidades, utilizando a economia criativa como uma ferramenta para promover o desenvolvimento sustentável e a inclusão social.

Coordenado por Suane Brazão e Mestre Ivamar, o Coletivo Amazonizando atua principalmente no Amapá e em São Paulo, com projetos que fortalecem tradições culturais e geram novas oportunidades econômicas para as comunidades quilombolas.

Amazonizando foca no fortalecimento estratégico e cultural

No Amapá, o projeto Amazonizando foca no fortalecimento estratégico de mulheres negras em espaços de poder, especialmente através da iniciativa “Ocupa Marielle Franco”, uma colaboração com o Instituto Marielle Franco. Além disso, o projeto busca capacitar as juventudes quilombolas e comunidades de matrizes africanas em projetos de formação política e social. Em São Paulo, o coletivo tem se concentrado no fortalecimento dos territórios e do marco legal, por meio de formações artísticas e culturais, destacando a educação amazônica Marabaixo.

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Suane Brazão, uma das coordenadoras do Coletivo Amazonizando, explica a importância dessas iniciativas: “O Coletivo Amazonizando tem contribuído de forma direta economicamente nos seus produtos amazônicos, seja na culinária, nas tradições culturais, promovendo trocas de saberes e formas de lidar com a natureza, nosso maior bem. Estamos criando vínculos afetivos e econômicos em uma cultura de bem viver e inclusão econômica social.”

A cultura do Marabaixo como motor econômico

O Marabaixo, uma tradição cultural registrada como Patrimônio Imaterial do Brasil desde 2018, tem sido um dos pilares da atuação do Coletivo Amazonizando. Essa manifestação cultural, profundamente enraizada nas comunidades quilombolas do Amapá, movimenta uma cadeia produtiva que vai desde profissões em extinção, como costureiras independentes e luthiers, até a agricultura local, com a produção de alimentos para os festejos. Além disso, o Marabaixo impulsiona a criação literária e musical, registrando as histórias e memórias dos territórios e ancestrais dessas comunidades.

Mestre Ivamar, coordenador do Coletivo Amazonizando. Foto: Calos Henrique
@salvemeninobom
Mestre Ivamar, coordenador do Coletivo Amazonizando. Foto: Carlos Henrique/ @salvemeninobom

Mestre Ivamar, coordenador do coletivo, ressalta o impacto econômico do Marabaixo: “Quando observamos a cadeia produtiva do Marabaixo, percebemos que as mãos que estruturam essa tradição estão ligadas a pessoas que não necessariamente fazem parte dos circuitos cotidianos de políticas culturais das cidades. Essa tradição cria vínculos afetivos e econômicos, promovendo uma cultura de bem viver e inclusão social.”

Economia criativa e empreendedorismo negro

O Coletivo Amazonizando acredita que o fortalecimento das tradições culturais nas comunidades quilombolas é essencial para o desenvolvimento econômico sustentável. Ao valorizar e sistematizar o saber tradicional, o coletivo busca transformar esses conhecimentos em motores da economia criativa, gerando renda e promovendo a inclusão social.

“Todo fazer tradicional é passível de desenvolvimento econômico. Por onde passamos, sempre mostramos os caminhos que trilhamos e como podemos sistematizar o nosso saber para que o mesmo possa ser uma parte potente da economia“, afirma Suane Brazão.

Além disso, o empreendedorismo negro nas artes e na cultura tem se mostrado um vetor poderoso para a transformação econômica das comunidades quilombolas. Como destaca Mestre Ivamar, “toda comunidade tem uma vocação econômica, algumas na agricultura, outras na agrofloresta, na fruticultura. Quando uma comunidade tradicional se forma em um território, o território é capaz de prover economicamente.”

Desafios e perspectivas

Apesar dos avanços, os desafios para a inclusão econômica das comunidades quilombolas ainda são muitos. A falta de acesso a recursos, oportunidades de formação e políticas públicas inclusivas são obstáculos que precisam ser superados para que o impacto da economia criativa seja pleno.

Ainda assim, iniciativas como o projeto Amazonizando demonstram que, com a valorização das tradições culturais e o fortalecimento das comunidades, é possível criar um caminho de desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo. A preservação e promoção da cultura quilombola, aliada a estratégias de economia criativa, têm o potencial de transformar a realidade dessas comunidades, gerando oportunidades e promovendo a justiça social.

A experiência do Coletivo é um exemplo de como a cultura pode ser uma ferramenta poderosa para a mudança, mostrando que o desenvolvimento econômico das comunidades quilombolas passa pela valorização de suas raízes e pela criação de novas possibilidades para o futuro.

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