Nas redes sociais, especialmente no TikTok, uma nova tendência está ganhando força entre os jovens: o “núcleo do subconsumo”. Esse movimento vai na contramão da cultura do hiperconsumo, cada vez mais presente nas plataformas digitais, e busca resgatar um estilo de vida que valoriza a simplicidade, o minimalismo e a sustentabilidade.
Jovens influenciadores estão se posicionando contra o consumismo desenfreado e as práticas de publicidade disfarçada, além de criticarem a exibição exagerada de compras, conhecida como “haul”.
O que a tendência do subconsumo influência?
Essa tendência do subconsumo, que incentiva a economizar e reaproveitar, surge em um contexto onde tudo se tornou objeto de consumo, desde os cuidados pessoais até os discursos políticos. Anissa Eprinchard, analista francesa de comportamento digital, explica que o movimento é uma resposta ao cansaço com o consumismo de conteúdo. “Eles promovem um estilo de vida de consumo moderado: em vez de ter 15 produtos de beleza ou 50 pares de sapatos, ter apenas três”, diz Eprinchard.
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Nos Estados Unidos, o esgotamento financeiro gerado pela constante pressão de comprar novos produtos é agravado pelo aumento dos preços, especialmente após a pandemia de Covid-19. Segundo Kara Perez, influenciadora americana especializada em questões financeiras e responsabilidade ambiental, essa realidade tem levado muitos jovens a adotarem um estilo de vida mais sustentável e consciente. “Uso elementos da natureza para decorar meu apartamento, a maioria das minhas roupas é de segunda mão. Reaproveito potes de molho para guardar comida. É gratuito e muito prático”, compartilhou uma internauta em um vídeo.
A crescente insatisfação com “rotinas pouco realistas” e “hauls indecentes” também está ligada a um sentimento de alienação frente a um contexto geopolítico e econômico instável. Tariro Makoni, especialista em movimentos sociais e de consumo, ressalta que muitos jovens consumidores estão percebendo que não conseguem acompanhar o ritmo da abundância de produtos promovidos nas redes. A busca por identidade, muitas vezes manifestada pelo consumo compulsivo de moda descartável, está sendo questionada por influenciadores como Andrea Cheong, autora britânica que promove a moda sustentável em suas redes sociais.
O que significa o “underconsumption core”, conhecido como “núcleo do subconsumo”?
O “núcleo do subconsumo” é mais do que uma simples tendência passageira; para muitos, trata-se de um verdadeiro modo de vida.
O movimento visa resgatar uma estética simples e atemporal, em contraste com as tendências do Instagram e do TikTok. Andrea Cheong destaca que essa abordagem, ao popularizar o consumo consciente e sustentável, pode representar uma mudança positiva tanto para os jovens quanto para o planeta. “Gostaria que fosse mais do que uma tendência. Para algumas pessoas, é um modo de vida”, comenta Cheong.
O interesse por conteúdos autênticos, que se distanciam da cultura influenciadora tradicional, tem crescido significativamente. Reciclar e preservar recursos “virou moda”, segundo Makoni, que compara o atual movimento com o surgido após a crise financeira de 2008. Embora o poder de compra continue sendo um dos principais motores dessa mudança, a consciência ecológica também desempenha um papel crucial.
O impacto desse espírito de “subconsumo” ultrapassa as redes sociais e começa a influenciar a vida cotidiana. Em Washington, Anjali Zielinski, de 42 anos, e sua filha Mina, de sete, participaram de um workshop de costura, onde Zielinski buscou incutir na filha o valor das coisas e o trabalho necessário para produzi-las. Essa prática reflete uma tentativa de reconectar as gerações mais jovens com realidades que, em um mundo cada vez mais digital e desconectado, podem parecer distantes.
Assim, o “núcleo do subconsumo” representa uma resistência ao consumo excessivo, promovendo um estilo de vida que prioriza o essencial, o sustentável e o acessível para todos.