Como funciona a produção dos desfiles de carnaval?

Os desfiles de Carnaval são verdadeiros espetáculos ao ar livre, repletos de cores, brilho, dança e música, mas sua montagem vai muito além do que o público vê na avenida. Para que uma escola de samba apresente um desfile impecável, é necessário um planejamento minucioso que envolve diversas áreas, como criação artística, produção de fantasias e alegorias, logística de transporte, ensaios técnicos e a execução sincronizada de centenas, ou até milhares, de membros.

Produção dos desfiles de Carnaval envolve enredo, alegorias e ensaios
Membros das escolas compram fantasias que variam de R$ 1.000.000 a R$ 2.500.000, dependendo da complexidade do adereço |Foto: Reprodução/Wagner Silva

Esse trabalho começa com bastante antecedência — em algumas escolas, pode levar até dois anos de preparação — e requer uma equipe multidisciplinar, composta por carnavalescos, músicos, costureiros, engenheiros, escultores, aderecistas, dançarinos, diretores e organizadores. Cada detalhe do desfile precisa ser planejado para garantir que a escola encante os jurados e o público, disputando as notas mais altas para alcançar o título de campeã.

A seguir, conheça todas as etapas fundamentais para a preparação de um desfile de Carnaval e entenda a complexidade por trás desse evento grandioso.

1. Escolha do enredo

O enredo é o coração do desfile e define qual história será contada na avenida. Esse tema precisa ser impactante e ter potencial para emocionar tanto o público quanto os jurados. O custo dessa etapa envolve pesquisa, reuniões e a contratação de profissionais especializados, como pesquisadores e consultores, além de materiais para criar o conceito do enredo.

Os temas escolhidos pelas escolas de samba variam bastante e podem abranger diferentes áreas, como:

  • Eventos históricos marcantes, como revoluções, conquistas ou períodos culturais importantes;
  • Homenagens a figuras icônicas, como artistas, líderes políticos, personalidades esportivas ou intelectuais;
  • Elementos da cultura popular e folclore brasileiro, incluindo mitos, lendas e festas regionais;
  • Temas sociais e ambientais, abordando questões como desigualdade, sustentabilidade e diversidade;
  • Influências religiosas e mitológicas, com referências a esperanças africanas, catolicismo, espiritualidade indígena e outras ideias;
  • Narrativas de cidades, estados ou países, explorando uma riqueza cultural de diferentes lugares.

A escolha do enredo não é feita de maneira esperada. Normalmente, há reuniões entre a diretoria da escola, carnavalescos e pesquisadores para debater as possibilidades. Algumas escolas consultam a comunidade para que o tema tenha um significado especial para seus integrantes. Além disso, em alguns casos, os patrocinadores também influenciam a decisão, indicando temas que podem promover uma marca ou evento.

Após a definição do enredo, o carnavalesco cria um roteiro detalhado, considerando que essa história será contada ao longo do desfile. Ele divide a narrativa em setores e alas, determinando quais personagens, elementos visuais e carros alegóricos representarão cada parte do enredo.

2. Composição do samba-enredo

O samba-enredo é um dos aspectos mais marcantes de um desfile de carnaval. Essa música não apenas embala a escola pela avenida, mas também tem a missão de traduzir a essência do enredo em versos e melodia, tornando uma história complexa e emocionante para o público.

A escolha do samba-enredo passa por um processo competitivo. Normalmente, à medida que as escolas realizam um concurso interno, nenhum compositor apresenta suas propostas. Esse processo pode durar meses, e as melhores composições passam por votações e ajustes até que uma campeã seja escolhido.

Após definição, a música passa por ensaios intensos. O intérprete oficial da escola, com o carro de som e a bateria, trabalha para garantir que a melodia fique bem encaixada, que a letra seja cantada com clareza e energia pelos integrantes na avenida.

Custo estimado: R$ 30.000 a R$ 100.000, considerando o pagamento de compositores, intérpretes e ensaios, de acordo com dados do O Globo

3. Construção das alegorias e fantasias

Com o enredo e o samba definido, chega o momento de transformar a história em um espetáculo visual deslumbrante. Isso envolve a criação de carros alegóricos gigantes e fantasias luxuosas, tudo meticulosamente planejado para representar o tema escolhido.

Carros alegóricos

Os carros alegóricos são verdadeiros palcos móveis que ajudam a contar a história do enredo. Eles são projetados por designers e engenheiros e construídos nos barracões das escolas. Esses carros podem alcançar alturas impressionantes e exigir o trabalho de:

  • Soldadores e serralheiros, que montam estruturas metálicas;
  • Escultores, que criam as formas dos elementos decorativos;
  • Pintores, que dão vida às cores e detalhes;
  • Eletricistas, responsáveis ​​pelos sistemas de iluminação e efeitos especiais.

Alguns carros alegóricos possuem mecanismos de movimentação, luzes de LED, projeções visuais e até fogos de artifício, criando um verdadeiro espetáculo tecnológico na avenida.

Custo estimado: R$ 70.000 a R$ 500.000 por carro alegórico, de acordo com dados do O Globo.

Fantasias

Cada membro da escola veste uma fantasia cuidadosamente elaborada para representar sua ala dentro do desfile. Essas roupas variam de trajes simples a produções ricas em plumas, pedrarias e tecidos sofisticados.

A produção das fantasias exige um grande esforço, já que algumas escolas precisam confeccionar milhares de peças. O processo é coordenado por equipes de costureiros e aderecistas que trabalham durante meses para garantir que cada traje esteja impecável para o desfile.

Custo estimado: R$ 1.000.000 a R$ 2.500.000, dependendo do número de membros e da complexidade das fantasias, de acordo com dados do G1.

4. Ensaios técnicos

Antes da apresentação oficial, as escolas realizam ensaios para testar o desempenho de seus integrantes e corrigir possíveis falhas.

Os ensaios começam nas quadras das escolas e depois evoluem para os ensaios técnicos no Sambódromo, onde os componentes podem se familiarizar com o espaço e treinar o deslocamento. Esses ensaios são fundamentais para:

  • Ajustar a harmonia entre a bateria e os cantores;
  • Treinar a evolução da escola dentro do tempo regulamentado;
  • Testar a coreografia dos passistas e da comissão de frente;
  • Verifique a disposição das alas e da interação com os carros alegóricos.

Esse período de ensaios permite que os diretores façam ajustes para que tudo saia perfeito no grande dia.

Em São Paulo, esses ensaios são tradicionalmente gratuitos para o público. No entanto, algumas escolas e organizadores oferecem ingressos para áreas específicas, como arquibancadas ou camarotes, com preços que podem variar. Por exemplo, nas edições anteriores, os ingressos para áreas como arquibancadas numeradas ou camarotes podiam custar entre R$ 45 e R$ 250, dependendo da localização e da experiência oferecida.

No Rio de Janeiro, a entrada para os ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí também é gratuita. No entanto, alguns camarotes e espaços VIPs oferecem ingressos pagos, com preços que podem variar de R$ 130 a R$ 2.000, segundo o Globo, dependendo da localização e dos serviços incluídos, como open bar e open food.

5. Execução do desfile

No dia do desfile, tudo precisa funcionar perfeitamente. A escola tem um tempo determinado para atravessar a avenida, e qualquer erro pode comprometer sua pontuação. Os diretores garantem que cada um esteja na posição certa, os músicos lideram a empolgação dos integrantes e a comissão de frente fazem sua apresentação com sincronismo e impacto.

As escolas são avaliadas por jurados em diferentes quesitos, como:

  • Enredo e sua coerência visual e musical;
  • Letra e melodia do samba-enredo;
  • Evolução e harmonia dos integrantes;
  • Criatividade e acabamento das alegorias e fantasias;
  • Precisão da bateria e impacto da comissão de frente.

Ao final da apuração, a escola com maior pontuação é coroada campeã do Carnaval, levando o título máximo da festa.

Custo estimado: R$ 500.000 a R$ 1.000.000, incluindo a logística de transporte, montagem e operação no Sambódromo, de acordo com a Veja.

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